segunda-feira, 30 de setembro de 2013

PORQUE SIM, QUERIDA LOCATÁRIA






Não. Não é dia de nada. Nem de aniversário, nem do nosso primeiro casamento, nem do segundo nosso casamento, nem de nada só para não esquecermos que existimos. Apenas na leitura deste poema de Vasco de Miranda a visita de uma intrusa de muitos anos alojada sem pagar renda num apartamento que só eu sei.

Não será normal num blogue, parecerá até estranho, senão mesmo "affettuoso com molto", mas paciência. Aparições solares de fim de tarde que suavizam o cinzento do dia.

Neste fim de tarde chuvoso, feio, tristonho, no aconchego da confeitaria de quase esquina que amamos enquanto lia o poeta que sabes e me acompanha vai para meses, resolveste entrar resteazinha de sol em imaginação e em silêncio sorriste enquanto a caneta de tinta permanente rabiscava a verde esmeralda estas frases. No fim, também em imaginação regressaste aos teus meninos, à tua profissão de fé de Educadora. Pareceu-me ouvir as suas vozes doces de poça de maré:   
"Texa...Texa, foste ao mar ou vieste do mar?"




Vieste com rosto de virgem georgiana

Trazida nos ventos que o mar soprou

Vieste na Lua nas pedras nos dentes brancos

Das crianças e no arco

Do sonho que a distância não matou

Vieste na ilha de fogo destes e mil versos

Criados para dar-te corpo - forma humana

Vieste na fome dos meus olhos

Nos dedos da miséria e nas gaivotas

Emergindo do rio

Onde o Sol se purificou
  

Vasco Miranda

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

DETRITOS

Vejo uma entrevista. Um vómito.
Um mentiroso relapso
Um desonesto intelectual como raramente vi no cargo
Um ignorante educativo e pedagógico de se lhe tirar o chapéu
Um nítido nulo de humanidade, de cultura emocional -  intelectual.

E um poema do grande Raul de Carvalho a afluir-me ao espírito:

" Isto até me agrada. Que me deitem fora
Que me deixem livre de compromissos afetivos .
Ficar ligeiro por dentro; ser como casca só.
Não tropeçar nos detritos humanos 
que me cercam,
Não ter altivez nenhuma nisso.
Ser simplesmente um andante.
Ter o caminho livre."

Que haja colegas a aceitar uma "coisa" destas, a considerar "isto" um detentor de um cargo político desta índole e gostarem de o terem por "Patrão", nem me admira, sabendo como alguns, sádicos,  gostam de chicote e cabedal negro no "lombo", ou pertencendo à mesma categoria intelectual e cultural do "dito" que é apanágio da Direita!

Diretor "fanfense" que giro! O exato exemplar do cortesão rasteiro, do lambe-botas institucional e tutelar que carateriza muitos Diretores Executivos. Quando se fizer no futuro a história deste período negro da educação em Portugal, ver-se-á como muitos tiveram culpa nesta humilhação da classe! Como cabisbaixos e subservientes estiveram do lado errado da barricada. Há quem os considere Professores, eu não! Simplesmente uma outra instituição funcional que não a minha, essa sim que adoro.



domingo, 1 de setembro de 2013

NÓVOA, WAGNER, BARROSO leituras fim de verão




Excelente entrevista de António Sampaio da Nóvoa na Revista do Expresso e contudo a minha surpresa sobre o início da sua resposta à questão sobre os cortes na função pública, os despedimentos e a função pública ser considerada pelo poder o corpo parasitário do sistema:

" Vou dizer uma coisa impopular. Os economistas não percebem nada de nada e nem de economia e usam uma linguagem que ninguém percebe.Maturidades, imparidades, swaps, eurobonds, outlooks negativos..."

Uma coisa impopular, porquê? Toda a gente com dois dedos de testa o sabe! Muitos economistas são perfeitos imbecis, historicamente uma bestas quadradas de conhecimento, e muitos subjugados a escolas e ditames por sua vez vez dominadas pelos grandes interesses económicos e financeiros que dominam o Mundo sejam eles as lógicas espúrias, porcas e miseráveis desses "proxenetas" internacionais que são os  Morgan Chase, os Goldman Sachs, o ex Lehman Brother, hoje em parte travestido de Neuberger Investment Management, entre outros.

O grande economista e humanista recentemente falecido, Jose Luis Sampedro bem caraterizou estes pseudo economistas : "Há dois tipos de economistas: os que trabalham para enriquecer os mais ricos e os que trabalham para empobrecer os pobres" , e ainda muito recentemente faleceu um e português quie se enquadrava como cereja em cima do bolo na segunda categoria.
Claro que Nóvoa sabe isso, como  sabe da necessidade de travestir a propaganda, do escurecer o entendimento de coisas simples por nomes pomposos de "seita de iluminados" como muito certeiramente lhe chama Clara Ferreira Alves na dita entrevista.

Mas haverá alguma dúvida a que patrões servia Gaspar,  serve a atual Ministra das Finanças ou outros membros do desgoverno? Assim, impopular porquê? Certamente  não quereria Nóvoa assumir o papel de cortesão rastieiro, de anão em bicos de pés de alguns colunistas de 6º Feira do Jornal Público, que de Jornalistas apenas o que Fialho escreveu deles, ou de analistas económicos que de economia  apenas devem saber do deve e haver do papel higiénico utilizado ou a utilizar, sejam eles Fernandes ou Camilos !

Aqui enquadra-se a minha segunda leitura do excelente artigo do Público de hoje " Quando a Escola deixar de ser uma fábrica de alunos", pois é essa escola que anseio , sonho, uma Escola que permitisse a criatividade, o espírito crítico, a solidariedade, o conhecimento, pois talvez ela contribuisse para o desmascarar dos cretinos, dos perfeitos aldabrões disfarçados de iluminados, dos políticos de meia tigela que nos vão governando. Excelente artigo repito, mas aqui e acolá com algumas surpresas sem resposta,  por exemplo: 



"Tony Wagner, investigador de Inovação na Educação no Centro de Tecnologia e Empreendedorismo da Universidade de Harvard, descreve o que está a ser ensinado aos jovens nas escolas, por oposição ao que eles deveriam estar a aprender para triunfarem nas suas carreiras, numa economia global.

Wagner defende que a escola deve desenvolver sete "competências de sobrevivência" necessárias para que as crianças possam enfrentar os desafios futuros: pensamento crítico e capacidade de resolução de problemas, colaboração, agilidade e adaptabilidade, iniciativa e empreendedorismo, boa comunicação oral e escrita, capacidade de aceder à informação e analisá-la e, por fim, curiosidade e imaginação."

Diga lá outra vez: "Triunfar na carreira" "estratégias de sobrevivência" ?? Não é estratégias de promoção do indíviduo, da felicidade, mas de sobrevivência, num antagonismo curioso de subserviência da escola ao económico, ao financeiro, à carreira, como se pudesse resumir a escola a isto! Mas Wagner não estará equivocado? É mesmo isto que os mercados querem? Sonhará que os grandes patrões do mundo querem gente  com pensamento crítico, imaginação e por aí fora, ou trabalhadores cordatos, subjugados,  parafusos de máquinas de faturar bem oleadas? Parece existir em Wagner uma ingenuidade ou desconhecimento histórico do Capitalismo ( ou talvez não, sendo um atual guru do pensamento da escola de futuro nos EUA) que me deixa abismado! Depois, não percebe o senhor Wagner todo o domínio estratégico e ideológico da escola e que o comanda ? Um nome deste calibre não leu, declaradamente não leu Raoul Vaneigem, entre outros desconstrutores da escola como ideologia de estado.

Mais à frente é o nosso João Barroso, paciente, carinhoso, quase paternal com os empregadores; "aquilo que os empregadores hoje valorizam no estudante - mais do que aquilo que ele sabe - "é a capacidade que ele tem de aprender coisas novas, de se adaptar às situações, de produzir conhecimento, de interagir".  

Pois é caro Barroso: Aprender o que é trabalhar o maior número de horas semanais da Europa, ter um salário ração, ver-lhe subtraído um direito histórico da defesa dos seus direitos, viver sobre a ameaça cada vez mais desregrada do desemprego selvagem ? Adaptar-se a que situações? A todas aquelas que permitam o lucro, a aplicação em produtos fiinanceiros mafiosos, ao enriquecimento ilítico de uns poucos pelo empobrecimento de milhões? Tinha tanto para explicar ao Sr. Barroso, sobre as coisas novas, a criatividade, a adaptabilidade, a capacidade da interação e  a economia global de uma Microsoft, Apple ou Inditex por exemplo, que nem vale a pena. Esta aceitação que "o mundo é assim" nem permite fazer o desenho de criança para o melhorar.

Coisas mesmo muito boas: o extraordinário artigo de António Guerreiro no Ipsilon de 16 de Agosto sobre a meritocracia e as disciplinas Humanísticas! A ler, caro joão Barroso e caro Tony Wagner, a ler!