sexta-feira, 11 de setembro de 2009

SENA... JORGE DE SENA



Numa época de desolador “ falabaratar”, de desertos áridos de ideias, de propostas de flores de felicidade plástica para jarras de futuro nenhum, de agora “de-bates”, tu, agora “de-bato” eu, de medíocres falantes que geram amplificado comentadores e escrevinhadores ainda mais medíocres, de raivas escondidas, de ódios mesquinhos, de bacoquices e parolices de uma mediana classe que não é mais do que isso...Sena, Jorge de Sena e uma pobres linhas num ou outro jornal, um flash de dois ou três minutos nos televisivos noticiários, um ou outro blogue mais esclarecido e pouco mais, que é quase nada.


Sena sorriria de ironia, da sua terrível furiosa ironia. Ele como poucos tomou o verdadeiro pulso a este país, ele que como ninguém nos pôs a nu com as nossas mazelas, o nosso muitas vezes nauseabundo gosto de apartar , de invejar, de “alabardar” a cultura, fossem os universitários, os críticos, ou os pseudo intelectuais da “caca”, os burros transportadores. Ele que como poucos amou o seu País, a sua Pátria, na sua virulência, sarcasmo, raiva, tão típicas, mas que ao mesmo tempo utilizou a inteligência, a verdadeira cultura, o talento de génio para projectar o que de mais grandioso e belo tinha Portugal.


Portugal pagou-lhe como só a “canalha” consegue pagar: o ostracismo, mesmo depois do 25 de Abril, que fez com que Sena fosse um nome quase proscrito nos altares universitários e sebenteiros, quase esquecido nos manuais e selectas literárias, obtuso e quase citado a medo nas bibliografias sobre Camões, Pessoa, ou outros nomes da Literatura Portuguesa, publicado a prestações e nem sempre de boa qualidade nas Edições 70, raramente reeditado, as suas peças pouco representadas, os seus romances citados amiúde, mas esconsos e perdidos em bibliotecas de nomes mais sonantes e na moda.

A Mécia quis, a “obra” cumpriu-se. Pronto, todo o Sena em Portugal, Inéditos, objectos pessoais, a sua biblioteca. Duvido que Sena no mínimo, aprovasse os seus ossos aqui. O resto, sabemos como se honra muitas vezes os grandes homens em Portugal: de Panteão (ainda bem que não Sena, que gostavas de coisa mais airada!) de promessas, de esquecimento, ou de lágrima crocodilória!


Só um pormenor: No artigo do Público, sofrível aliás, Isabel Coutinho cita Jorge Fazenda Lourenço como Especialista na obra de Sena, cita Joaquim Manuel Magalhães, Fernando Cabral Martins, Vasco Graça Moura, mas por razão que desconheço, não citou, aquele que mais fez por Sena e a sua obra neste país, Luís Adriano Carlos. Um bom tirocínio Seniano para a Srª Jornalista, depois de ler a obra de Sena, seria ler “Fenomenologia do Discurso Poético” do autor citado.

Como adoro Jorge de Sena, aliás objecto de dois artigos neste blogue em Julho de 2008 e, como encaixa que nem luva no tempo presente, “tomai lá Sena” das “Dedicácias”, caros leitores!



“ A Canalha”

Como esta gente odeia, como espuma

por entre os dentes podres a sua baba

de tudo sujo sem sequer prazer!

Como se querem reles e mesquinhos,

piolhosos, fétidos e promíscuos

na sarna vergonhosa e pustulenta!

Como se rabialçam de importantes,

fingindo-se de vítimas, vestais,

piedosas prostitutas delicadas!

Como se querem torpes e venais

palhaços pagos da miséria rasca

de seus cafés, popós e brilhantinas!

Há que esmagar a DDT, penicilina

e pau pêlos costados tal canalha

de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,

tratá-los como lixo de oito séculos

de um povo que merece melhor gente

para salvá-lo de si mesmo e de outrém.

7 de Dezembro de 1971, publicado na Hífen, Porto, nº 6 , Fevereiro 1991, in “Dedicácias”


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