sexta-feira, 16 de novembro de 2012

PRAKTICA BX20 E ALGO MAIS

Não, não é a do filme de Philip Kaufman " A Insustentável Leveza do Ser", aí Tereza usava uma  Praktica LTL. A minha tem uns anos e sempre me foi fiel. Não , não estou retro, porque vou mesmo caminhando lentamente no plano inclinado e como tal mais atento ao essencial, ás coisas que marcaram, que deixaram carimbo cá dentro. Esta máquina deixou, e muitas fotos da minha prole com ela foram tirada. Agora resolvi regressar ao negativo, aos Ilford 400, aos TMax, às minhas lentes Pentacon e Carl Zeiss e, surpresa ou não...maravilhado. Claramente superiores aos Zooms fraquinhos da Minha Canon Digital, ou por exemplo a uma ou outra lente singular da mesma marca. Aliás comprei o anel adaptador que me permite usar estas lentes na minha Canon 1000D e os resultados das lentes Pentacon e da Carl Zeiss 135mm, são simplesmente...muito, muito bons.

Um gozo outra vez estudar a luz, as relações abertura, velocidade que muitas vezes por preguiça me levava na Canon ao mais fácil e à Programação estabelecida - só mexia no Controle de Brancos e nas compensações. Um prazer não saber por horas o que está ali no rolo e depois utilizar o meu Epson Perfection para a digitalação do negativo!

Pimpão e feliz com a "velharia" que mostrou a sua raça!

Então aí vai a minha "menina" e suas "muchachas"


armadilhada com o Teleconversor 2X e o Zoom Pentacon 70-210 o que o transforma no máximo em 420. Tira luz, tira, mas num dia claro...






A minha "mais do que tudo" Carl Zeiss Jena de 135mm 1:2.8 ! è uma lenta de uma luminosidade e precisão espantosa. Mesmo com o Teleconversor é formidável. Na Canon Digital com o adaptador continua a ser uma lente de grande classe.








O "arsenal de Guerra"

 

 O anel adaptador que embora encaize razoavel bem na Canon é preciso ter cuidado. è Óbvio que muitas funções da Canon deixam de poder ser utilizadas e sobretudo....Ah! Ah! Só focagem manual!!



 Mas...deixa-te de tretas e mostra lá as maravilhas da "maestra" BX20. Bem se não gostarem não culpem  a Praktica, culpem o fotógrafo!












Declaração de interesses: não vendo, não troco, nada...É MINHA e mais nada!


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

MANUEL ANTÓNIO PINA...Gabriela Llansol, JMFJorge, Ruy Belo


Agora sim. Só agora vontade de escrever qualquer coisa sobre Manuel António Pina.Depois da revoada fantástica do Pina para cá, Pina para lá, de todos o conhecerem, de todos serem amigos chegados, quase de infância alguns, de outros tantos quase amiúde convidados para sua casa e, sobretudo, de multidões terem a sua obra e a lerem amiúde com profundo amor literário. 
Eu não. Pura e simplesmente um leitor atento de M.A. Pina de alguns livros de infância e Juventude, de algumas das suas crónicas no JN (não sou leitor minimamente assíduo deste Jornal), mas sobretudo da sua poesia, e só eu sei o que passei para encontrar a sua Poesia Reunida na edição da Assírio de 2001 vai para anos, completamente esgotada que estava pela exiguidade de exemplares editados.

Em Junho de 2010 no "Ciclo Cultura no Centro" - Dolce Vita, onde Pina esteve presente, juntamente com Arnaldo Saraiva e José Emílio Nelson, na defesa da memória, obra, e fundação Eugénio de Andrade (15 pessoas presentes - deviam ser as multidões de amigos de M. A. Pina, ou Eugénio!), tive a oportunidade de no fim da conferência de trocar com Manuel António Pina, umas palavras particulares, fluentes, simples como cerejas, sobre Eugénio e sobre alguma Literatura Portuguesa. Perante a minha incondicional admiração-paixão pela obra de Maria Gabriela Llansol, confessou-me que perante a eminência de mudança de casa ( filha, salvo erro) estava a "desfazer-se" de muitos livros da sua biblioteca, mas que os de Maria Gabriela Llansol iriam consigo pela que a obra da autora o intrigava e fascinava como caso único na Literatura Portuguesa contemporânea.

Em 24 de Setembro de 2011, voltei a encontrar publicamente M. A. Pina, na Conferência "Porto:Modo de Dizer" organizada pela Biblioteca Municipal do Porto, integrada no ciclo "Pàginas do Porto -Cidade nos Livros". No período de diálogo questionei-o sobre o papel dos escritores, jornalistas, artistas em geral, principalmente da Cidade e muitos até premiados pela sua obra, da denúncia sobre os atentados urbanísticos e arquitetónicos levados a cabo ao longo de vários consulados camarários, bem como do estado inacreditável de muitas partes do Porto edificado, dando como exemplos, o próprio Jardim de S. Lázaro fronteiro à BPMP, ou a Praça da Liberdade. Riu com gosto quantos aos "premiados" e concordou comigo sobre o estado da cidade. Achou mesmo a Praça da Liberdade uma aberração e confessou que o Siza sabia a sua opinião e que não a apreciava muito. Rimo-nos à grande quando contou que a sogra sempre que vinha ao centro da cidade, se recusava a passar pela Praça da Liberdade dos "monstros" da arquitetura portuense.

Homem de enorme simpatia, grande cultura que escondia debaixo de uma humildade genuina, mas sobretudo um ser humano fascinante de mãos nuas e abertas a aceitar da vida a doce e nua inteligência com que ela deve ser vivida.

Orpheu, invejoso, qui-lo junto de si cedo de mais talvez. A sua obra está aí, particularmente a sua poesia, curta é certo, de não muito fácil imersão imediata no entendimento, mas que retenho em mim como das maiores do século XX-XXI.

No dia da sua morte, no meio de tanto linguarejar, de tanta mediatização que nunca procurou, nem lhe intereesava, voz de incómoda liberdade que sempre foi, no dia da sua morte, o silêncio, lingua sagrada da morte, e no silêncio, as palavras belíisimas e decantadas a encoarem-me no espírito de um outro grande poeta que escreveu sobre a memória de outro grande poeta - João Miguel Fernandes Jorge sobre Ruy Belo:


                                             Para o Ruy Belo
A morte é como o primeiro
Pássaro , um coração que
ouvimos e mais nada. Apenas água
nua  fria.

Que deus escureça depressa
o dia. Dia? Como se lê?
Riscamos devagar um traço
na parede, um segundo,

as únicas lágrimas.
Temos que aprender qualquer
coisa sobre os outros,

(dunas)
Hoje é doutro sentido que
falo, de uma única folha.

João Miguel Fernades Jorge, Sob Sobre a Voz, in Obra Poética I