segunda-feira, 21 de junho de 2010

OS "MATA-SETE"...Teses e Antíteses....




Pronto, somos assim. Um País reconciliado consigo. Os Mata-Sete, tornam-nos quase heróicos aventureiros de conquista asiática. Queirós, um génio! O Saramago...foi ontem! Vida dura, o que aí vem? Onde, o quê? O Sócrates, um gajo porreiro! Somos os maiores, até os comemos!


Até à próxima derrota, até à próxima decepção.


Já agora, apetecia-me no meu XVIII congresso de pensamento, deixar uma palavra de simpatia, bondade, não a esses que “definem como orientação e objectivo a construção duma sociedade socialista” mas sim ao verdadeiro povo coreano do norte , sim esse , não os que definem por ele, um povo barbaramente escravizado por uma progenitura de bandalhos, dos maiores da História do Século XX e XXI, nomeadamente o demente psicopata que o governa com miolos de ferro, um tal nome de pronúncia de vómito “Kim Jong-il (l) (propositadamente).

Claro que um bandalho destes, pigmeu com menos de 1m,50, essa "Coisa", (como brilhantemente Saramago chamou a Berlusconi-existe um em Portugal que está lá perto, se já não a é!) só o pode ser,porque outros bandalhos multiplicados por divisas nos ombros, asseguram a bandalheira, seja nesta Coreia ou noutras paragens do Mundo, mesmo pretensamente democráticas.


Curioso: tenho pena dos pobres jogadores da Coreia do Norte. É que ou muito me engano, ou vão ser chutados para fora! E dizia o “psicótico” treinador que recebia conselhos tácticos do Grande Líder. Acredito. Acredito mesmo.


Por estas e outras, adoro moções e teses deste tipo e hei-de adorar mais quando elas corresponderem a uns 2, 3% das tais cotas...de inevitabilidade histórica.


Não , não é anti-comunismo primário, porque com esses intelectuais de pacotilha-cartilha bem eu posso, porque muitos o são, sem nunca terem lido Marx, ou Rosa Luxemburgo, ou Gramsci, são-no por ópio de intelectualidade, como bem definiu Raymond Aron.


sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago


Percebo.

No mundo em que vivo, esta exaustão da imagem, do nome, da morte como agora sim passaporte para a imortalidade. Principalmente num país adiado, abúlico, carente, analfabeto de ideias e ideais, com personagens políticas, culturais, judiciais, títeres, vivos-mortos de uma indigência intelectual e cultural aterradora, e contra o qual lutou, honra lhe seja feita, José Saramago.

Carente de reconhecimento de um país, que odiava-amava em proporção que não sei, mas só os grandes amores podem ser assim! Tenho sérias dúvidas que quisesse isto, este laudatório crocodilório, esta peninha que fica tão bem em momentos fúnebres. Por isso a minha estranheza de não ter deixado desejos de simplicidade e discrição nas suas exéquias. Ou talvez não. Talvez o País, um certo país anafado, tacanho, " encavacado","larado" que o maltratou, agora lhe seja obrigado ao curvar perante o génio e ele o antecipasse.
Sena foi igual, embora com outro tipo de parvónios, de parolos militantes.

Que para mim génio não o é, literariamente. Dizer que emparelha com Eça ou Pessoa, só pode ser explicado por "boutade", desejo de continuação de êxito editorial, ou emocionada amizade, nada mais!
Um grande escritor? Sem dúvida, na medida em que o foi um Cardoso Pires e o é hoje, um Lobo Antunes. A minha opinião, subjectiva, como é óbvio.

Nem interessa, porque não é um Editor, nem uma poderosa cadeia "capitalista" que determinam a genialidade, e o futuro no panteão de de um autor de uma Literatura. Ao que parece Teixeira Gomes era muito lido, Arnaldo Gama também e... a História, essa implacável selectora, lá se encarregou de...

Nunca desgostei do Homem Saramago, pese as suas contradições, e o seu " complexo de Édipo com Deus não resoluto" , como ainda há pouco ouvi e com o qual concordo em pleno, ou o seu desejo de reconhecimento, de distanciamento para melhor ser amado. Gosto do escritor, pelos seis romances que dele li, a par dos seus diários e poesia, alguns excelentes , outros menos, mas continuo a não perceber , embora perceba. Quem aparece-reconhece, que não aparece, esmorece.

Pois será assim, mas comigo não será, paciência.

E perante a torrente caudalosa, quase massacradora de imagens de e sobre Saramago, dei por mim a pensar em coisas estranhissimas: nesse assumido, soberbo apagamento do génio Herberto Helder, da sereníssima Luisa Dacosta, do recatado Ramos Rosa, na morte quase anónima de um Sena, Ruy Belo,Ruben A, Luisa Neto Jorge, Vergílio Ferreira, Eugénio de Andrade, da Fiamma,Maria Gabriela Llansol, ou neste momento, nesse partir desta vida estando não sendo da Agustina Bessa Luís.

Morreu um belo escritor e isso deve entristecer-nos. Morreu um espírito livre e critico, e isso deve magoar-nos. Morreu um Homem e isso deve silenciar-nos...por dentro certamente.

Paz à alma do Homem bom José Saramago. O Deus que ele sempre renegou, gosta de quem com Ele se desencontrou...apenas.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Tanta continuada beleza na minha escola

Continuam a duvidar?



















Tanta Beleza...Na minha Escola

Há dias assim…


Tinha acabado o serviço lectivo pela manhã. Tarde livre. A chuva tinha parado. Não desejo de ir à escola, mas a vontade de ver e fotografar a miudagem no xadrez ao vivo. A ida com duplo sentido da fotografia da actividade, mas sobretudo o procurar uma outra minha escola que só eu sei.



A minha escola em mim, uma certa e misteriosa escola que só eu conheço, ou deveria antes dizer, um certo Eu na minha escola, num olhar atento, terno, pacífico que por estas alturas me vai visitando?


Uma escola magnífica, resplandecente em verde, em beleza, em discreto e sussurrante diálogo com os meus sentidos.Cortejei-a pois então, nesta magnífica tarde de Quarta-Feira, sem a vozearia pardalesca dos pré e ado no seu esvoaçar irrequieto e pleno de vida.



Uma escola em silêncio que amplificava a beleza do seu intrínseco silêncio. Uma escola fora no seu dentro, que se ria das fachadas alaranjadas, salas e corredores do edifício que a constitui.


Uma escola extraordinária de verdes, de árvores pujantes, de flores, de cores, de vida. Uma escola que quase ninguém vê, que quase ninguém sente, que quase ninguém dialoga. Uma escola belíssima para não distraídos.



Duas horas de conversação silenciosa, de conjuntas cumplicidades emocionais, de namoro verdeamoroso. Às vezes dá-me, por saúde mental, por necessidade de “burn-in” docente, por obrigação de confirmar aquilo que sei vai para trinta anos – uma escola só o é, por Eles, e nos momentos onde o belo, penetrante e balsâmico silêncio a inunda, o vibrante ruído do borboletear de vida, do deve-e-haver afectivo e emocional que vai marcando compassadamente os dias, o justifica.



Muito, muito bela a minha escola.Tenho a escola mais bela que o meu ser Professor pode querer. Não raro nos intervalos, gosto de me refugiar numa sala de aula do primeiro piso, para qual tribuna-anfiteatro, ver a vida buliçosa de espanto e energia que se vai desenrolando nos campos à minha frente, mas outras tantas, sem eles, adoro passear seduzido pelos espaços secretos das primaveris promessas do verde, do verde-Verão de Junho, ou amarelos-Outono, dos jardins, espaços abertos da minha escola.


Amo as magníficas árvores da minha escola que foram crescendo comigo. Conheço-lhes os troncos, os ramos, as nervuras, as manias e inclinações. Olhamos-nos comovidos e mudos no nosso envelhecimento – elas mais rugosas, eu mais de pele lavrada.



Sei os cantos das florinhas amarelas, lilases e brancas que teimam em resistir aos pés distraídos e olhares-cabeça arrogante e pujante de vida dos adolescentes. Afago-as docemente, e agradecem-me com ondulação-brisa no meu guarda-sol, palma da minha mão.


Sei das ervas verdes galanteadoras de muros, caminhos, bancos da minha escola. Às suas ordens, sardões e insectos escapulem-se à minha aproximação, para melhor serem vistas.



Sei de troncos e restos de troncos, de pedras, de formas nada-tudo vegetais, que se oferecem aos meus olhos sedentos de maravilhas-mistério.


Repouso os meus sentidos nesta extraordinária porção de vida e, o que era cansaço torna-se apaziguado e sereno cansaço.O que até aí me parecia zinco-chumbo d’alma, torna-se verde esperança esmeralda.


A minha escola tem destas coisas…quando se sabe olhar a minha escola.Indelevelmente pertenço-lhe, como ela se me entranhou, num casamento sem conveniência.


Conheço-lhe os contornos corpo espraiado ao ar livre, como se conhece beijo de lábios no espelho.


Conhece-me na sua arbórea e pretensa imobilidade, de tal forma que por vezes duvido se sou eu que vou mudando nela, ou ela em mim.

Não acreditam na beleza da minha escola? Azar o Vosso!























quarta-feira, 9 de junho de 2010

Curvado choro...

Praticamente nenhum aluno na escola...


No meu périplo pelo verde magnífico da minha escola, enquanto apontava a tele-objectiva para graciosa árvore, a lente captou personagem sozinha ao longe.


Curvada, sentada na borda estreita que separa o verde do cimento. O banco, ali ao lado, recusado, pétreo, deserto, parecia demasiado amplo para tão pequeno curvado corpo. Aproximei-me discretamente.

Observei a esguia figura, agora mais de perto.Indistinto ser rapaz ou rapariga à primeira vista, embora confirmasse depois ser uma aluna. Parecia adormecida ou indisposta. Mas ninguém adormece assim, em tão instável equilíbrio, nem se indispõe de cabeça entre os joelhos.


Aproximei-me mais ainda, cuidado para não anunciar a minha presença. Uma ou outra lata de refrigerante anunciava talvez a timidez dessedentada de um primeiro beijo, um ou outro pacote de leite esmagado, denunciava crónica de raiva contra amigo de amizade traída, ou raspanete de professor mal digerido.


Ainda mais perto, foquei-reparei que chorava. Agora a compreensão da posição de curvatura. O seu choro, a dor virada para baixo, mansa, dolorosamente baixa, tão diferente daquele grito angustiante para o céu, o infinito, a libertação. Um choro fio escorrido em cascata para a consolação. O fim de ser em turma? Um amor rasgado? A incompreendida solidão?


Estive para lhe perguntar o que tinha, mas não. Um direito inalienável do adolescente: o de estar só, o de chorar para fora, o choro que lhe vai dentro. Saúde mental, pois!


Enquanto me afastava lentamente, “vi claramente visto” um jovem adolescente de catorze anos, num recreio enorme e vazio, sentado e encostado a uma das venerandas árvores do Liceu Alexandre Herculano, cabeça baixa, olhos semicerrados, agradecido aquela dureza arbórea que como lixa lhe ia limando a aspereza da solidão.


Sexta-Feira, vou-lhe ver um sorriso, nem tímido que seja.