segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Do entardecer na Foz à Noite no Infante

21 Janeiro. A pé de Matosinhos ao Infante.

De Matosinhos, muita muita gente, toda ela que não eu que não me reconfiguro no meio da multidão. Que fiquem com o sol, o surf, o passeio, o skate, a bicicleta e até os patins. Passo por ali, anónimo, rápido, quase assustado, atropelado d’espírito.

A Foz sim e a partir do Castelo do Queijo.

Curto sol tem tarde de Inverno.

A luz esvai-se mansa, nada afoita no lento leito
deitar no horizonte. Um silêncio de princípio de começar, principia.

Caminho silhueta obscura na quase já escuridão. As luzes amarelentas da Cantareira projetam o meu Ka para o Rio. Gosto, menino de fascinado rio que fui, sou.

Antes, no Jardim do Passeio Alegre, o canto alvoraçado e feliz das aves comunicava a partida do último humano. Sorrio-lhes e peco com as aves.


Andarilho percorro o rente rio pelas margens. O Fluvial, o Gás, onde a última lancha da tarde-noite aporta sem passageiro. A “Flor do Gás” balança nas águas calmas do Douro qual sonolento embalo para as fadigas matinais das Afuradas do amanhã.

Percorro a Sécil sem cimento e engrenagem, substituída agora por monstro zincado disposto a aceitar parolo habitacional. O pútrido e fétido cheiro do antigo estaleiro anuncia a Ponte da Arrábida.


Tonto de embriaguez das alturas subo elevador de olhar ao superior tabuleiro de suicidas. Arrepio de não frio a percorrer-me as entranhas.

Acelero o passo. Mais rápido até Massarelos. Cansaço de não o ter. Uma ligeira brisa da noite resolve assentar arraial. Sento-me para a receber e sorver.

Agora na Alfândega onde pesado edifício não sonha já chegadas nem partidas. Os arcos de Miragaia chamam-me, mas não sinto já o seu apelo, abandonado que fui do menino – contrabandista de sonhos que cheguei a ser.

Caminho d’olhar até Monchique e chego ao Infante.

Percorrido o entardecer, guardo a noite em mim.

Quase, quase a ser um guarda-livros de estrelas. Quase…




(a 1ª foto tirada da Web)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

RUI COSTA...Morreu um Poeta


"O HÓSPEDE DA CASA NÃO
TEM O DEVER DE SER FELIZ!"

39 anos. Encontrado morto na foz do Douro do lado da Afurada. Desaparecido desde o inicio do mês. Talvez tivesse voado da Ponte da Arrábida até ao Douro, segundo as autoridades, ou talvez tivesse vislumbrado a tal, a tal montanha:

"Vejo a montanha à minha frente pousada

Sobre a água sempre verde, e penso na inutilidade

De tudo o que ela é, e na inutilidade de estar pensando nisto..."

Talvez ou nada disto. Talvez a dor profunda do desencontrado amor revolto em si, represado na cascata d'outros.

Vejo no You Tube um pequeno filme com o poeta na apresentação de um livro. Nausea-me o falar barato, a pseudo intelectualidade da coisa, a histeria comatosa de uma aventesma, o próprio cerco-círculo em volta do Poeta.

Morreu Rui Costa, um poeta. Um poeta magnífico a que cheguei pelo Daniel Faria ( o Prémio de Poesia). Numa Sexta invernal de 2009 li-o de fascinação na Leitura Books & Living no Bom Sucesso. Ficou.
Hoje relembro um poema tremendo na sua fragilidade na sua solidão. Talvez aqui...talvez

A nuvem prateada das pessoas graves

Nem sempre se deve desconfiar das pessoas
graves, aquelas que caminham com o pescoço inclinado para baixo,
os olhos delas a tocar pela primeira vez o caminho que os pés confirmarão
depois.
Às vezes elas vêem o céu do outro lado do caminho que é o que lhes fica por baixo
dos pés e por isso do outro lado do mundo.
O outro lado do mundo das pessoas graves parece portanto um sítio longe dos pés
e mais longe ainda das mãos
que também caem nos dias em que o ar pode ser mais pesado e os ossos
se enchem de uma substância morna que não se sabe bem o que é.
Na gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, com que nos são alheias
quando as olhamos de frente rumo ao lado útil do caminho que escolhemos, essas
pessoas arrastam uma nuvem prateada que a cada passo larga uma imagem daquilo
que foram ou das pessoas que amaram.
Essas imagens podem desaparecer para sempre se forem pisadas quando caem no
chão. A gravidade dos pés e da cabeça, e também dos olhos, dessas
pessoas, é, por isso, uma subtil forma de cuidado.


Rui Costa, in A Nuvem Prateada das Pessoas Graves (Edições Quasi)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

LEONHARDT, GUSTAV


Marcou tão profundamente a minha vida e o meu gosto musical. Com o pouco dinheiro que conseguia ainda estudante universitário e depois professor de cueiros, lá ia mensalmente pela escadaria do Mundo Da Canção (MC) à cata dos LP da Das Altewerk - Telefunken do tal senhor que me emocionou até quase às lágrimas quando pela primeira vez ouvi um adágio de Bach tocado num cravo de som mágico e de forma tão etérea, tão subtil, tão natural que aquilo não era instrumento, mas voz divina.


GUSTAV LEONHARDT acaba de falecer, e a minha tristeza impregna ruas de fundo. Não bastava a Montsserat Figueras vai para poucos meses e agora o Mestre, aquele para quem a música barroca parece ter sido companheira de viagem contínua. Ouvir Gustav Leonhardt pela primeira vez, foi apaixonar-me pelo toque mágico deste encantador das “cordas beliscadas”, pelo dedilhar mais natural que encontrei num cravista, por esta água cascata fluente que saía das suas interpretações. O seu Bach, não é “vintage”, é, será para sempre um monumento à arte e ao génio do velho mestre. Mais tarde ouvi grandes cravistas como Curtis, Moroney, Gilbert, Hantai, Baumont, Ross, Staeir etc, etc, mas retorno sempre, mas sempre com alegria renovada a esse Bach apolíneo, prodigioso de equilíbrio, de “tempi” certo, tão longe de muitos barroquistas idiotas adeptos do barroco formula 1, dos tempos “Lagardére”, dos tais esfuziantes sons que mais do que respeito de uma obra, mais não são do que fogos fátuos de uma sensibilidade musical que vai faltando.


Depois, foi seguir o Mestre através de outras gravações, muitas vezes já não como solista, mas como maestro desses prodigiosos Leonhardt- Consort ou Collegium Musicum, ou da Petite Band, ou mesmo do Tolzer Knabenchor. Bach da Paixão Segundo S. Mateus BWV 244, com La Petite Band, o mesmo Bach da Missa BWV 232 com a mesma La Petite Bande, são para mim inigualáveis, pela justeza de…TUDO! A Edição completa das Cantatas de Bach com o companheiro Harnoncourt ainda hoje são minha companhia habitual, apesar de possuir as edições completas do Rilling, do Pieter Jean Leusink, ou as quase completas do Richter, ou do Masaaki Suzuky. Precursor de muita coisa que não me interessa referir, Leonhardt foi um artista inolvidável, um homem íntegro e sobretudo de uma humildade grandiosa, de uma forma de estar na vida e no mundo ao serviço da beleza, da música e das obras. O seu cunho pessoal de intérprete ou maestro nunca procurou o estrelato, a fama parola, o espetáculo gratuito, o primeiro eu, depois a obra ou o compositor. Estudioso maravilhoso, pensador profundo, exegeta e esteta, Gustav Leonhardt acabou por uma ponte, um caminho, uma ligação àquilo que verdadeiramente interessa – a Música.


Adoro o Biber, Rameau, o Purcell e Kuhnau de Leonhardt, o Leonhardt ator no filme de Jean Marie Straub “ Chronik der Anna Magdalena Bach”, os órgão holandeses tocados pelo mestre, e sobretudo, um disco que oiço neste momento. Uma emoção profunda toma-me de assalto quando ouço esse canto pungente, doloroso, sem ser adocicado, esse fluir natural de sons saídos não do cravo, mas da alma do instrumento que só dedos, cérebro e coração com ela poderiam dialogar. Ouço Tombeau faict à Paris sur la mort de Monsieur Blancrocher de Johannn Jakob Froberger e uma, duas, três lágrimas furtivas assomam à janela. Que voem pela música, por GUSTAV LEONHARDT.

Soube agora.

Há grande agitação e alegria nos céus. Os Querubins rejubilam com o novo cravista. Meus queridos amigos, JOHANN SEBASTIAN BACH sorriu-lhe como só o velho Bach sabia sorrir, e com piscadela de olho de grande cumplicidade deu-lhe a entender: GUSTAV, escolhe como acolhimento: ou tocas as Goldberg, ou o Cravo Bem Temperado!
LEONHARDT, sorriu, ajeitou madeixa rebelde de cabelo branco e começou a tocar a Allemande da Suite Nº 1 em Ré Menor, BWV 812 das Franzosische Suiten. JOHANN deu uma gargalhada, levantou a mão e nos céus fez-se silêncio hálito das estátuas .



sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Envelheço com a tarde

Cai mansa, etérea e fria a tarde.

Cinco horas da tarde. Os senhores do Jardim olham-me com espanto ou anseio de qualquer alimento.


Está frio, aconchego o cachecol, levanto as abas do sobretudo, coloco as mãos no bolso. Distendo as pernas.


Olho de olhar alongado para um rio profundo, lagunar, que me observa.

Estou só, completamente só. Estou bem.

Ouço o arfar compassado da minha respiração em dó menor ao som do Stabat Mater de Pergolesi, cantado por angélica voz de contratenor.


Começa a ser comum perscrutar o silêncio que habita em mim, ou por problema de habitação, o que vai sobrando de mim no silêncio.


Estou só, profundamente só. Pleno, comovido a leste de mim, que para minha perdição – salvação só me encontro na bússola do cá dentro.


Um frágil ramo de tília desnudada observa-me. Sorrio-lhe e a brisa abana-a como se treme.


Esvai-se a tarde em horizontes laranja. As primeiras luzes-candeias tremeluzem do lado de lá. Convoco-as para o meu lado de cá, companheiras de entardecimento.


Estou só. Profundamente só. Envelheço com a tarde e estou bem.


Preciso destes amplexos de serenidade para ser feliz.


Despeço-me deste escuro verde-musgo com um sorriso aos bancos vermelhos. Aceno-lhes por dentro, e , no seu vazio de ninguém, vislumbro promessas pacificadoras de outros entardeceres.


Com o fim da tarde envelheço e estou feliz. Talvez Ele andasse por ali, de certeza que andou por ali, hálito profundo de vida…


Talvez. Resolvi fixá-lo com a minha Pelikan no meu moleskine .


Caminho arborizado e noturno entre as áleas. Uma nesga de lua espreita-me. Algumas raízes de mim ali ficam.


Envelheci com a tarde.

Não me importo, gostamos.






sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

CORAÇÃO DE ESTUDANTE

Para todos os meus alunos, mas sobretudo para uma pessoa muito muitooooooo especial e chegada cá deste lado bom do coração, caixa sagrada de tesouro de afetos. Para ele, Mecedes Sosa ( embora a canção seja do Milton e do Wagner Tiso), e daqui a um bocado o "Aviso aos alunos do Básico e do Secundário" do Raoul Vaneigem, para ele perceber muita coisa, que muitos não entendem nem querem entender. Talvez assim humildade na sua superioridade...depois!




Corazón De Estudiante
Quiero hablarles de una cosa
como sangre de esperanza,
que respira en nuestro pecho
y se mece como el mar.
Duerme siempre a nuestro lado
y acaricia nuestras manos.
Es pasión de libertad
y juventud, es mi amor.

¿Cuántas veces su retoño
me arrancaba del camino?
¿Cuántas veces su destino
fue torcido hasta el dolor?
Mas volvió con su esperanza,
con su aurora a cada día.
Y hay que cuidar de ese broto
para salvar a los dos:
flor y fruto.

Corazón de estudíante
hay que cuidar de la vida
hay que cuidar de este mundo,
comprender a los amigos.
Alegría y muchos sueños
iluminando los caminos.
Verdes, planta y sentimiento,
hoja, corazón, juventud
y fe.


Quero falar de uma coisa
Adivinha onde ela anda
Deve estar dentro do peito
Ou caminha pelo ar
Pode estar aqui do lado
Bem mais perto que pensamos
A folha da juventude
É o nome certo desse amor
Já podaram seus momentos
Desviaram seu destino
Seu sorriso de menino
Quantas vezes se escondeu
Mas renova-se a esperança
Nova aurora, cada dia
E há que se cuidar do broto
Pra que a vida nos dê
Flor flor o o e fruto
Coração de estudante
Há que se cuidar da vida
Há que se cuidar do mundo
Tomar conta da amizade
Alegria e muito sonho
Espalhados no caminho
Verdes, planta e sentimento
Folhas, coração,
Juventude e fé.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

DIRETORES, FÁBULAS, SURREALISMO e...afins


Não sei quem são, não os conheço nem nunca me foram apresentados. Não me interessa muito sabê-lo, muito menos conhecê-los e prazer nenhum em apresentações. Refiro-me aos presidentes das ANDAEP e da ANDE, cavalheiros mui dignos, nobres e leais das respetivas associais de diretores/dirigentes escolares. Hoje numa entrevista ao Correio da Manhã, o presidente da ANDAEP, a fazer fé nas suas palavras e como lídimo representante de muitos diretores, mostra a sua mágoa pelo tratamento a que os Diretores estão a ser sujeitos pelo atual ministério, não deixando até pelo meio de dar um rasgado elogio a uma “maravilhosa ministra” que era um poço de diálogo e até candidata á santificação. Depois a ameaça: que muitos diretores se vão demitir no final do ano letivo.


O diretor da ANDE é comedido, ponderado, mas o da ANDAEP gosta do "foguetório", das luzes da ribalta. Tenho aqui algumas entrevistas deste senhor noutros órgãos de comunicação verdadeiramente inacreditáveis e atentatórias da minha classe docente. Aliás este senhor fala sobre muita coisa, muito, demasiado mesmo... e mal. E quando digo mal, digo mesmo mal, num estilo entre o parolo e o deslumbrado que me surpreende para um diretor de uma associação deste calibre. Era preciso mais classe, mais “savoir faire” e sobretudo mais perceção da classe da qual parece estar afastado , mesmo não estando: Os professores.


Fartei-me de chorar com as suas palavras e até disposto a colaborar para um qualquer fundo de maneio para ex-diretores. Não, caro senhor…os problemas dos diretores e o chorar crocodilório de alguns tem dois nomes: mega agrupamentos e a sua avaliação de desempenho, que desagradou a dezenas e dezenas. Ora pois… vão regressar à origem, ao duro da vidinha, aquilo que nunca gostaram: a sala de aula! Tenho a certeza que alguns até regressarão com alívio para o que efetivamente sempre gostaram: ser professores, mas para muitos outros, será um verdadeiro suplício de tântalo, passar para o lado plebeu da classe. Se calhar as reformas antecipadas dispararão para ex-diretores…se calhar! Quanto às avaliações, “temos pena” , mesmo muita pena, porque isto de cotas e sentimentos de injustiça “cota” a todos” . Chatice que não mostrassem todo o seu empenho e vontade de demissão quando a malfada e miserável ADD se foi entronizando como erva daninha na classe docente. Chatice que nem agora com a avaliaçãozinha docente estilo ovelhita clonada da outra, se ouvissem grandes arrebiques de indignação dos excelentíssimos diretores! Chatice! Mas paciência: Nadem. Existe um ditado brasileiro engraçado para o dilema de alguns diretores: “em rio que tem piranha, jacaré nada de costas” – o problema de muitos é que gostaram sempre de ficar à margem.


Depois…depois o célebre 75/2008! Posso estar errado, mas não conheço nenhuma posição pública nem de diretores nem das suas associações sobre este documento. Este decreto sempre o considerei ilegal porque em contraditório flagrante com a LBSE. Um ou dois colegas (nomeadamente o Paulo Guinote) mais avisados e argutos na blogosfera docente, encarregou-se e bem de demonstrar e desmontar o equívoco, o disparate, mas muita gente confundindo amizades ou porreirismos, ou até “sucessões naturais”, com legalidade, não antecipando cenários ou mudanças, achou um mal menor e questão de “lana caprina” no meio da luta acesa contra o modelo de avaliação. Assim ficou…gostava que assim não ficasse.


Quanto às ameaças de demissão de muitos diretores, não me surpreende. Desde menino que adoro uma fábula de Esopo celebérrima: a Raposa e as Uvas ! São verdes, senhores, são verdes!


E não sei porquê, amante que sou do surrealismo português, com uma gargalhada, lembrei-me agora de um conto lindíssimo de Mário Henrique Leiria, inserto no seu “Contos do Gin Tónic”


HISTÓRIA EXEMPLAR
.
Entrei.
– Tire o chapéu – disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
– Sente-se – determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
– O que deseja? – investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí
.
[Mário-Henrique Leiria, in Contos do Gin-Tonic, 1973]


domingo, 1 de janeiro de 2012

TODO CAMBIA...Mercedes Sosa

Neste início do ano. Quanto às “festas”, dividido entre o ainda bem que acabou e deus queira que para o ano se repita. Confuso sobre os tempos presentes e apreensivo sobre os futuros. Não sei os caminhos a percorrer, as veredas a escalar, as vastidões desérticas de sentido, de humanidade, que me querem impor, e que terei de palmilhar.


Sei muito pouco e certezas quase nenhumas: apenas aquelas que o meu anjo interior me vai sussurrando – a luta, o combate interior como condição necessária para o exterior e, como canta a “minha Negrita” mudar, mudar sempre com o que nunca muda nem mudará: o Amor, naquilo que verdadeiramente ele personifica. E melhor do que ninguém, essa Mulher grandiosa, vertical, o soube transmitir muito para além da latinidade. Mercedes Sosa. Foi das mulheres mais amorosamente lutadoras que fui conhecendo. A sua voz forte, solidária, guerrilheira e franciscana, mas ao mesmo tempo sedosa, tem sido meu lenitivo, minha companheira de anseios e canseiras vai para meses.


"Todo Cambia", só o amor se deve manter. Assim seja, e já gora um meu pedido: que não mude muito a serenidade que vou sentindo frente ao despojo e essencialidade da vida. Ele percebe-me (claro!), os Meus percebem-me! ( claro!).



Todo Cambia

Mercedes Sosa

Cambia lo superficial
Cambia también lo profundo
Cambia el modo de pensar
Cambia todo en este mundo

Cambia el clima con los años
Cambia el pastor su rebaño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Cambia el mas fino brillante
De mano en mano su brillo
Cambia el nido el pajarillo
Cambia el sentir un amante

Cambia el rumbo el caminante
Aúnque esto le cause daño
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia

Cambia el sol en su carrera
Cuando la noche subsiste
Cambia la planta y se viste
De verde en la primavera

Cambia el pelaje la fiera
Cambia el cabello el anciano
Y así como todo cambia
Que yo cambie no es extraño

Pero no cambia mi amor
Por mas lejo que me encuentre
Ni el recuerdo ni el dolor
De mi pueblo y de mi gente

Lo que cambió ayer
Tendrá que cambiar mañana
Así como cambio yo
En esta tierra lejana

Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia
Cambia todo cambia

Pero no cambia mi amor...