quinta-feira, 4 de novembro de 2010

sweet time on the road to Heaven...

O título , tirado de um belíssimo comentário no YouTube.

A suavidade e ternura de uma força interna que só o habitado pelo divino pode transmitir.
A ideia a partir de um belíssimo poema do Régio no site da IC sobre tempos de desesperança, de vilania, de arreigados indigentes mentais e espirituais.

E a pensar na Isabel, no seu simplesfransciscano blogue que tanto tem dado a fractais dos meus dias, lembrei-me desta maravilha. É isto possível? Que grau incrível de AMORdecimento é preciso para abraço gigante de ternura da Alice? Apetece tanto viver, depois de ver este vídeo. Apetece tanto o amanhã do que o hoje já foi. Apetece tanto não dizer nada no comovido de nós caminho a percorrer. Tanta suavidade, tanta ternura, tanto amor que Ele derrama nos seus ínvios caminhos! E nós tão distraídos do essencial...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Vila Chã...concisa e peremptória beleza

Porque sim, porque é meu-meias o trabalho fotográfico ,porque entediado desta pasmacenta suburbanidade onde vivo, porque os fins-de-tarde areados de entrada nocturna com Ela e Eles me revertiam sempre ao meu pacifico ancoradouro de mim, porque aquela beleza de quase ao pé da porta, entrava sem pedir licença e assentava arraiais na delicadeza do momento. Bastava olharmo-nos e tudo tinha significado, no pouco significado de refrega que muita coisa vai tendo.
Cada vez mais, Amor, a concisa simplicidade das coisas, a transparência nua dos momentos. Dar-mos (nos, nus) o espaço ao espaço- espanto inteligível e sensível de...


terça-feira, 10 de agosto de 2010

Perús, Pavões, Portas e... Vinícius





Dois perús “glugluliantes”, ou dois pavões “emplumados” se quiserem, degladiaram-se por questões autorais de primazia, ou dito de outro modo, “a minha primeiro do que a tua” se faz favor. A podridão e pobreza de espírito acabam por vir ao de cima nestes tristes narcisos de espelho quebrado, pseudo defensores e condutores da minha classe. Cruzes!!

E neste momento de sonora gargalhada, mesmo quando me recordo da fisionomia dos dois, só me lembra do célebre poema de Vinicius de Morais “ A Porta”:


“Eu sou feita de madeira,

madeira, matéria morta;

mas não há coisa no mundo

mais viva que uma porta

(…)

Só não abro para gente

que diz (a mim pouco me importa!...)

que, se uma pessoa é burra,

é burra como uma porta.


Eu sou muito inteligente”



terça-feira, 3 de agosto de 2010

JACKSON C FRANK " I Want To Be Alone"..." Dialogue"

Um Músico,um "trovador" como poucos. Uma vida-aventura dolorosa como poucas. Um acidente que quase o desfigurou,uma timidez inexplicável, um só disco , três dezenas de canções, homeless, e a mais completa miséria, mesmo na morte. E todavia, as suas canções, verdadeiros hinos a vida, ao sonho, à dor, à complexidade profunda do ser humano. Um extraordinário cantautor que influenciou muitos outros ( que curiosamente, ou não, esconderam a fonte onde foram beber!).

Aqui com humilde tradução minha o "I Want To Be Alone" , também conhecida por "Dialogue". Das mais belas e pungentes canções que conheço.



I want to be alone
I need to touch each stone
Face the grave that I have grown
I want to be alone


Before all the days are gone
And darker walls are bent and torn
To pass the time of those who mourn
I want to be alone


Rivers that run anywhere
Are in my hand and just up the stair
Past the eyes of those who care
Who can never be alone


Changes that were not meant to be
Tow the hours of my memory
Sing a song of love to me
To say you must never never be alone


The tears of a silent rain
Seek shelter on my broken pain
And run away But I remain
To speak the words that sing of alone


I want to be alone
I need to touch each stone
Face the grave that I have grown
I want to be alone



Quero estar só
Sentir a pele da pedra
Do túmulo que vou construindo
Quero estar só.


Antes que os dias findem,
E as erigidas paredes sejam rasgadas
Para passar o tempo daqueles que amanhecem
Quero estar só.

Rios que fluem sem direcção
Estão na minha mão, a um passo de escada
Nos olhos daqueles que precisam
Que não podem estar sós.


Mudanças que não eram para serem
Atrelados das horas da minha memória
Cantar-me uma canção de amor
Para dizer que nunca, nunca se deve estar só.



Mas lágrimas de um reino silencioso
abrigo buscam na minha dor profunda
Mas vão-se e eu permaneço
Trovador das palavras de solidão


Quero estar só
Sentir a pele de uma e cada pedra
Do túmulo que vou construindo
Quero estar só.

terça-feira, 6 de julho de 2010

MATILDE ROSA ARAÚJO





Comovido, revejo esse episódio de Ler + Ler melhor. Uma voz tão melodiosa, tão serena. Um envelhecer amoroso, com o peso da ternura acumulado (e quem o disse que não é possível?).


Uma voz pequenina, fina, como regato fresco de ribeira, como trino matinal de rouxinol, como silvo de aragem serena em Estio. Uma amor à natureza, ás crianças, à vida que comove, que alenta. Uma arte de envelhecer no amor e com o Amor.


Comovido, mas feliz. Todos os meus filhos cresceram com Ela, com os seus maravilhosos livros. M, ficou o com o seu primeiro nome depois de risadas e risadas de nomes, o de Matilde se nos ter imposto, melodioso, terno, partitura de uma gravidez em alegria maior.


O “Palhaço Verde” o 1º livro a ser oferecido em 89 à minha futura esposa T com dedicatória do “meu terno Circo, para o esplendor do Teu”. O Livro que por Ela e pela Maria Keil, se tornou todo um referencial de como se pode e deve escrever para crianças e para adultos também.


Depois, depois, foram muitos mais, belíssimos de noites de espanto, de sonho, de lágrimas nos olhos do contador para os (s) ouvidores.


Morreu a Matilde Rosa Araújo. Morreu uma escritora daqueles que já não há, ou vão rareando. Morreu uma ternura cá de casa, cá do coração da casa. Ela, a Sophia e a Luísa Dacosta, foram, são, alimentos sensíveis do crescimento da minha miudagem, do nosso crescimento de pais. Claramente à parte no Jardim Especial de literatura infanto-juvenil na nossa estante (não tão pequena como isso) estas três autoras.



Matilde escreveu para crianças como Sebastião da Gama referiu “com mãos purificadas”, com uma inteligência sensível, com um coração tão enormemente aberto à seiva-sangue da vida, que nos deixa nos seus livros um saldo tão profundo de humanidade, de capacidade de abertura à natureza das coisas e do mundo. Como não ficar comovido?



Hoje tantos e tantos livro para crianças, que mais do que para elas, são infantilizações de adultos, escritos não a pensar na essência de uma criança, mas naquilo que o autor pensa que uma criança deve ser, não com atenção ao texto, à pureza e melodia da linguagem, mas sim com ilustrações magníficas a esconder a pobreza do escrito. Por vezes escrevem-se livros não para crianças, mas para “atrasados mentais”, com rimas inenarráveis, com histórias “fantabulásticas”, com o “espreitar d’olho” ao “comercialão” ao fácil do que a criança quer, ou enquadra-se o que se escreve numa fórmula e escrevinha-se a metro, a quilómetro, na procura dos livros se tornarem “ Bestas Céleres”. E tudo vale a pena, tudo numa amálgama soberba de idiotia, do” logo que eles leiam”, todos os meios justificam os fins.


Não, mas mesmo não! Em minha casa não se embarca em “Potes”, sejam do Harry, ou “Aventuras” pastiches mais ou menos bem conseguidos de escritinha escorreita e pobre. Não!


Em minha casa, a nível de literatura infanto-juvenil, quem quiser ler Sophia, Matilde Rosa Araújo, Luísa Dacosta, Irene Lisboa, Sidónio Muralha, Ilse Losa, Torrado, Jorge Letria, Maria Alberta Meneres, Esther de Lemos, Adolfo Simões Muller, Ricardo Alberty, Virgílio Alberto Vieira, Aquilino Ribeiro, José Fanha, Erico Veríssimo, Clarice Lisapector, Cecília Meireles ou Ziraldo, entre alguns mais…virá por bem!


Morreu a Matilde Rosa Araújo, e logo em família vamos todos assistir ao programa que tenho gravado sobre ela. Morreu a Matilde Rosa Araújo, e logo vou ler para todos momentos luminosos dessa escrita tão fractal—sensível, tão arreigadamente raízes, daqueles que ainda conseguem vislumbrar os enigmas doces das coisas.


Matilde Rosa Araújo

"Matide Roja Araúxo”

“Tide roja, Juju”






quinta-feira, 1 de julho de 2010

EUGÉNIO e...


(foto retirada da Fotobiografia de Eugénio de Andrade-Campo das Letras)

Foi no Sábado passado, 26, nos encontros “ciclo Cultura no Centro” do piso 2 do Dolce Vita, organizados pelo Sérgio Almeida. Tarde amena, 20 pessoas, algumas idosas, ambiente sereno para recordar Eugénio nos cinco anos do seu falecimento, para pensar Eugénio, para ouvir poesia de Eugénio, para pensar que Eugénio não merecia o que está a passar com a sua Fundação, com o alarve esquecimento que um poder político de uma cidade o vota, com a mesquinhez daqueles que gostavam do Photomaton com Ele em vida e agora assobiam para o lado.


Com Grandes amigos de Eugénio, com zeladores e estudiosos da sua obra, mas sobretudo com aqueles para quem Eugénio continua vivo como um dos seres poéticos mais originais e grandiosos de toda a Poesia Portuguesa. Bem escreveu Herberto em carta particular que o Eugénio, era das poucas vozes singulares na Poesia Portuguesa contemporânea, porque é verdade, pese a expressão hiperbólica da sua admiração.


Com Arnaldo Saraiva, com Manuel António Pina, com José Emílio Nelson como interlocutores, com o excelente “diseur” que é o Pedro Piaf, as horas foram passando com a surpresa de Eugénio a sua obra estarem a viver uma espécie de limbo mediático, de reconhecimento, com “estórias” de um Eugénio, humano, demasiado humano, dentro e fora do seu ser poético, com caminhos diferenciados de percepção e análise da sua poesia, um pouco afastados da pureza, da solaridade, quando a foi muitas vezes de rispidez brutal, de sombras, de corporalidade assexuada, mesmo carregada desse erotismo clássico tão visível nos seus versos, de uma Fundação sem fundos, prestes a extinguir-se apesar dos esforços desesperados e hercúleos de quem a gere, esperemos para renascer com outro nome, de legatários e herdeiros sedentos de carcaça monetária, de uma sensação de emoção e poesia de vida poética que por ali pairou.


Foi bom ver a minha “facultativa” M ver o ouvir Eugénio, a minha “Trancinhas” encantar-se com a música de muitos versos de Eugénio, a minha “metade” sorrir com peripécias de e sobre Eugénio, e Eu irremediavelmente irritado e comovido a leste de mim, com a humanidade tão terrena do Poeta, com a sua poesia de colagem de sangue, com os “canalhas” “sacanas” e indigentes intelectuais e culturais do meu Porto, do meu País.


Duas horas tão ganhas num Centro Comercial! Momentos em que adoro o capitalismo. Tão pouca gente! Quantos Professores estariam lá? Tanta divulgação nos Jornais e cerca de 20 pessoas. Se calhar foi bom! Há determinadas dádivas que têm de ser merecidas.



Como a foi vai para dois meses a Homenagem ao Zeca Afonso em Plena Rua Passos Manuel, igualmente com muito pouca gente!


Viva o Tony Coliseu, viva o cantor das horas vagas e“picarenta falante” filósofo de sanita que o deve fazer de óculos escuros, viva o “La Feira”, os “pópós brum...brum psicanalíticos” desse portento cultural da cidade! Ah! E vivam as “vernisages” de Miguel Bombarda, tão chiques, tão copo na mão, tão cócós, tão pedantes para “pitassoaresdosreis” ou “cagadores de posta de pescada artística “comprada” de jornais de referência, e as “movidas” perdidas de bebidas e coisas mais, de Cândido dos Reis.



Adoro-te minha Cidade do Porto. Cada vez mais decadente, cada mais mais enganada na tua pretensa culturalidade, na tua pretensa animação cultural. Vou fazer como o outro... citar poesia mas não sempre a mesma para “parolo ouvir e maravilhar com tão grande sensibilidade na unha grande do pé” de Deus e do Diabo ( o grande Régio não tem culpa coitado!) , citar sim Eduardo Carneiro “ Na cidade triste/já morrem palavras!