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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ya sin pásion, yo no sé para qué sirve mi corazón

Cantava ela, esse frágil-forte "anjo errante".

Dos cartazes mais inteligentes na marcha da indignação que participei com toda a família : "desliga a Televisão, liga o cérebro" .

Assim seja. Hoje, em legítima defesa, longe do colossal robótico e retardado mental que numericamente nos desfaz contas à vida, afastado do coelhinho pascal que do chocolatinho branco prometido, vai desnudando de mentira em mentira as amêndoas amargas com que nos vai presenteando, longe do "numéricoignorantepedagógico" que de plano açaimado quer rebentar com a escola pública, longe enfim, do "plante que o João garante" que nem planta, nem garante ainda que seja repolho constitucional.

Longe destes medíocres, desta estardalhada de mediocridade política, destes cavalares comentadores picadoras falantes que nos vão furando tímpanos e paciência.

Sim... com Lhasa, com esse apaixonado pássaro-cristal de coração sensível que a vida levou para outras planuras, mas também com Patrick Watson e os Esmerine na sua homenagem-respiração " Snow day for Lhasa" que serve de fundo ao pequeno vídeo. Enfim, com esse livro de poesia tão rasante de beleza e inspirado em Lhasa " Small Song", de Renata Correia Botelho.

SOON THIS SPACE WILL BE TOO SMALL

ela já o sabia e deixou-nos,

na sua lucidez de pássaro,

várias pistas. recolhi por isso

o mais que pude - chuvas e mares

e a melodia verde da minha casa -

a caminho desta caixa,

que em breve será pequena

para tanta ventania.


junto aqui o meu

ao grande eco das colinas,

morro três vezes até traçar

no coração cansado do mundo

a minha rua. há pouco,

quando a terra começava

a correr-me quente nas veias,

disse devagar as três palavras

e tudo aconteceu exactamente como ela canta.

(Renata Correia Botelho)


sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago


Percebo.

No mundo em que vivo, esta exaustão da imagem, do nome, da morte como agora sim passaporte para a imortalidade. Principalmente num país adiado, abúlico, carente, analfabeto de ideias e ideais, com personagens políticas, culturais, judiciais, títeres, vivos-mortos de uma indigência intelectual e cultural aterradora, e contra o qual lutou, honra lhe seja feita, José Saramago.

Carente de reconhecimento de um país, que odiava-amava em proporção que não sei, mas só os grandes amores podem ser assim! Tenho sérias dúvidas que quisesse isto, este laudatório crocodilório, esta peninha que fica tão bem em momentos fúnebres. Por isso a minha estranheza de não ter deixado desejos de simplicidade e discrição nas suas exéquias. Ou talvez não. Talvez o País, um certo país anafado, tacanho, " encavacado","larado" que o maltratou, agora lhe seja obrigado ao curvar perante o génio e ele o antecipasse.
Sena foi igual, embora com outro tipo de parvónios, de parolos militantes.

Que para mim génio não o é, literariamente. Dizer que emparelha com Eça ou Pessoa, só pode ser explicado por "boutade", desejo de continuação de êxito editorial, ou emocionada amizade, nada mais!
Um grande escritor? Sem dúvida, na medida em que o foi um Cardoso Pires e o é hoje, um Lobo Antunes. A minha opinião, subjectiva, como é óbvio.

Nem interessa, porque não é um Editor, nem uma poderosa cadeia "capitalista" que determinam a genialidade, e o futuro no panteão de de um autor de uma Literatura. Ao que parece Teixeira Gomes era muito lido, Arnaldo Gama também e... a História, essa implacável selectora, lá se encarregou de...

Nunca desgostei do Homem Saramago, pese as suas contradições, e o seu " complexo de Édipo com Deus não resoluto" , como ainda há pouco ouvi e com o qual concordo em pleno, ou o seu desejo de reconhecimento, de distanciamento para melhor ser amado. Gosto do escritor, pelos seis romances que dele li, a par dos seus diários e poesia, alguns excelentes , outros menos, mas continuo a não perceber , embora perceba. Quem aparece-reconhece, que não aparece, esmorece.

Pois será assim, mas comigo não será, paciência.

E perante a torrente caudalosa, quase massacradora de imagens de e sobre Saramago, dei por mim a pensar em coisas estranhissimas: nesse assumido, soberbo apagamento do génio Herberto Helder, da sereníssima Luisa Dacosta, do recatado Ramos Rosa, na morte quase anónima de um Sena, Ruy Belo,Ruben A, Luisa Neto Jorge, Vergílio Ferreira, Eugénio de Andrade, da Fiamma,Maria Gabriela Llansol, ou neste momento, nesse partir desta vida estando não sendo da Agustina Bessa Luís.

Morreu um belo escritor e isso deve entristecer-nos. Morreu um espírito livre e critico, e isso deve magoar-nos. Morreu um Homem e isso deve silenciar-nos...por dentro certamente.

Paz à alma do Homem bom José Saramago. O Deus que ele sempre renegou, gosta de quem com Ele se desencontrou...apenas.