É bom ver os filhos crescer. É bom observar serenamente as suas opções, intervindo só o necessário como “Leal Conselheiro”. É bom verificar como os meus filhos não são atraídos para as roupas de marca, as plasticidades do fast food, a pimbalhada ou o histerismo histriónico de determinados gostos musicais, a literatura light , digest e purgante que inunda os escaparates, as cretinices televisivas com que os querem imbecilizar.
É bom ter uma filha M no seu início “bolonhês” linguístico-literário a adorar a Desobediência Civil e o Walden de Thoreau, ou a Poesia de Walt Whitman, passando pela paixão de alguns poetas brasileiros. É bom ter um F secundário primitivo de Humanidades, a escolher como obra de Plano de Leitura em Literatura Portuguesa, o “Pelo Sonho é que Vamos” do Sebastião da Gama, ou no Contrato de Leitura em Português, “O Pouco e o Muito-Crónica Urbana” da Irene Lisboa, ou ser um “Hitchcockiano” sem remissão, ou devorar com o olhar os Pretos e Brancos de Bresson, ou Brassai. É bom ter uma “Trancinhas” que já vai por si só desvendando os caminhos deliciosos da Sophia, da Matilde, da Zulaida do José Fanha, que detesta “desenhos animados estúpidos”, que quando for grande quer ter muitos animais para os tratar.
É bom ter os meus filhos e aprender com eles. Todos os dias. Que me ajudam a limpar o “sarro” rotineiro e a tornar menos inclinado o meu suave declive. Adoro aprender com eles e espiá-los, olhá-los com o olho direito disfarçado de distracção, enquanto o esquerdo perscruta os seus rostos, gostos, sentimentos.
Tarefa espinhosa e difícil a de Pai. Detective privado na verdadeira acepção da palavra! Assim, gosto de lhes surripiar disco comprado, download de nova paixão, artigo de Blitz. É bom ter filhos e aprender com eles e descobrir através deles novas paixões musicais por exemplo.
Conhecia a música e as canções do pai, um enorme músico, uma excelsa e estranha voz, umas canções muito belas e crepusculares do “Goodbye e Hello”, do “Grettings from LA”, ou do “Blue Afternoon”. – Uma overdose matou-o aos 28 anos. Sabia que tinha tido um filho de um primeiro casamento, e tinha ouvido esparsamente uma ou outra canção desse filho, Jeff.
Jeff Buckley, que freudianamente sobe “matar” o pai, para sem o renegar, (por vezes há tanto Tim em Jeff, tanto!) construir o seu caminho, a sua única ,curta e extraordinária carreira. Um dia, um DVD, de Jeff ao vivo em Chicago. Estranhei, estranhamos, depois um, dois, três visionamentos e entranhamos. Estávamos na presença de alguém que era a musica viva em si, um trovador do dentro para fora, um músico da recusa da encenação, do pastiche, da hipocrisia artística.
Cantava de uma forma incrível, quase enrolado na dor; o que canta é Jeff, mas já não é Jeff, é a essência da palavra, da música, cantada muitas vez como um sopro, um cicio, uma súplica, um apego, um último refúgio de uma paz que não tinha; por vezes o grito prolongado, quase inumano, como SOS, como, presença na ausência, como náufrago em ilha deserta. Olhámo-lo e Jeff Buckley não está ali estando. Há um Jeff e a sombra de Jeff. Luta desesperada para um encontrar a outra, mas quando o conseguem, temos o Homem, a realidade de um Homem.
Era jovem, belo, talentoso. Era Ele, Jeff Buckley, demasiada alma para corpo tão franzino, demasiadas esquinas de solidão para avenidas escancaradas de um mundo que amava pela rejeição. Morreu jovem regressando ao matricial elemento líquido, devagar, de mansinho desapareceu misteriosamente nas águas de Wolf River, cantando segundo parece o “Whole Lotta Love”.
Tocou em Clubes quase de bairro, ou pequenas salas, porque a sua música era de transfusão, de intimidade, de como poucos… para muito poucos. Deixou uma voz em murmúrio, em pedido de afago, dolorosamente silabada, ( palavra como refúgio, como salvação?). Tocava e cantava muitas vezes de olhos fechados, como para que a luz interior que o habitava não o consumisse, por vezes gritava versos, como farol de aviso a barco perdido.
Foi-se embora aos 31 anos, mas deixou-nos um legado de canções curto mas precioso, daqueles que só os anjos de asas caídas nos sabem dar. É comovedor ouvir o “seu” Hallelujah,( Já o coloquei num outro post) ou esse hino que é Grace, ou o Last Goodbye, So Real, Mojo Pin ou Dream Brother. Percebe-se de que massa é moldada um verdadeiro cantor, sem espectáculo, sem montagem, sem fait-divers, na crueza de uma música, de uma letra, de uma voz.
É bom ter filhos que sabem gastar 20 Euros do seu dinheiro “porquinho mealheiro”, na caixa com 2 DVD e um CD, “Jeff Buckley Grace, Around The World”, e saberem o que querem, e não irem na moda do “ir com todos”. É bom ter filhos e aprender com eles a gostar de Jeff Buckley, a coloca-lo num jardim de anjos de asas caídas, que guardamos com desvelo nesta tribo: o jardim de Nick Drake, Laura Nyro, Judee Sill, Cobain, ou Janis Joplin entre outros. É bom ser pai, e com eles fora de casa, surripiar a caixa de Jeff Buckley e deixar-me comover por este génio e eles se calhar sem saber, habituados que estão às carradas do meu Bach, do meu Schubert, do meu Tallis, do meus Webster, Tatum , Parker, ou Coltrane, ou da minha Barbara, Dalida, Delerme, ou Tenco.
Num dos DVD, Jeff afirma” A minha voz é a minha essência…não podes mentir perante o público”, ou…” eu não finjo, sou o que sou” .Assim, adoro Jeff Buckley, porque como canta , é “So Real”!
Escrito de “rajada” para os meus filhos, É TÂO BOM TÊ-LOS e VÊ-LOS CRESCER!Mesmo para a “Trancinhas”, que do alto dos seus 8 anitos, já vai trauteando o Hallelujah e que de certeza não demorará muito, me vai chatear com um “ Pai, não me arranjas um “pin” do Jeff Buckley” para a minha mochila? “.
É bom ter uma filha M no seu início “bolonhês” linguístico-literário a adorar a Desobediência Civil e o Walden de Thoreau, ou a Poesia de Walt Whitman, passando pela paixão de alguns poetas brasileiros. É bom ter um F secundário primitivo de Humanidades, a escolher como obra de Plano de Leitura em Literatura Portuguesa, o “Pelo Sonho é que Vamos” do Sebastião da Gama, ou no Contrato de Leitura em Português, “O Pouco e o Muito-Crónica Urbana” da Irene Lisboa, ou ser um “Hitchcockiano” sem remissão, ou devorar com o olhar os Pretos e Brancos de Bresson, ou Brassai. É bom ter uma “Trancinhas” que já vai por si só desvendando os caminhos deliciosos da Sophia, da Matilde, da Zulaida do José Fanha, que detesta “desenhos animados estúpidos”, que quando for grande quer ter muitos animais para os tratar.
É bom ter os meus filhos e aprender com eles. Todos os dias. Que me ajudam a limpar o “sarro” rotineiro e a tornar menos inclinado o meu suave declive. Adoro aprender com eles e espiá-los, olhá-los com o olho direito disfarçado de distracção, enquanto o esquerdo perscruta os seus rostos, gostos, sentimentos.
Tarefa espinhosa e difícil a de Pai. Detective privado na verdadeira acepção da palavra! Assim, gosto de lhes surripiar disco comprado, download de nova paixão, artigo de Blitz. É bom ter filhos e aprender com eles e descobrir através deles novas paixões musicais por exemplo.
Conhecia a música e as canções do pai, um enorme músico, uma excelsa e estranha voz, umas canções muito belas e crepusculares do “Goodbye e Hello”, do “Grettings from LA”, ou do “Blue Afternoon”. – Uma overdose matou-o aos 28 anos. Sabia que tinha tido um filho de um primeiro casamento, e tinha ouvido esparsamente uma ou outra canção desse filho, Jeff.
Jeff Buckley, que freudianamente sobe “matar” o pai, para sem o renegar, (por vezes há tanto Tim em Jeff, tanto!) construir o seu caminho, a sua única ,curta e extraordinária carreira. Um dia, um DVD, de Jeff ao vivo em Chicago. Estranhei, estranhamos, depois um, dois, três visionamentos e entranhamos. Estávamos na presença de alguém que era a musica viva em si, um trovador do dentro para fora, um músico da recusa da encenação, do pastiche, da hipocrisia artística.
Cantava de uma forma incrível, quase enrolado na dor; o que canta é Jeff, mas já não é Jeff, é a essência da palavra, da música, cantada muitas vez como um sopro, um cicio, uma súplica, um apego, um último refúgio de uma paz que não tinha; por vezes o grito prolongado, quase inumano, como SOS, como, presença na ausência, como náufrago em ilha deserta. Olhámo-lo e Jeff Buckley não está ali estando. Há um Jeff e a sombra de Jeff. Luta desesperada para um encontrar a outra, mas quando o conseguem, temos o Homem, a realidade de um Homem.
Era jovem, belo, talentoso. Era Ele, Jeff Buckley, demasiada alma para corpo tão franzino, demasiadas esquinas de solidão para avenidas escancaradas de um mundo que amava pela rejeição. Morreu jovem regressando ao matricial elemento líquido, devagar, de mansinho desapareceu misteriosamente nas águas de Wolf River, cantando segundo parece o “Whole Lotta Love”.
Tocou em Clubes quase de bairro, ou pequenas salas, porque a sua música era de transfusão, de intimidade, de como poucos… para muito poucos. Deixou uma voz em murmúrio, em pedido de afago, dolorosamente silabada, ( palavra como refúgio, como salvação?). Tocava e cantava muitas vezes de olhos fechados, como para que a luz interior que o habitava não o consumisse, por vezes gritava versos, como farol de aviso a barco perdido.
Foi-se embora aos 31 anos, mas deixou-nos um legado de canções curto mas precioso, daqueles que só os anjos de asas caídas nos sabem dar. É comovedor ouvir o “seu” Hallelujah,( Já o coloquei num outro post) ou esse hino que é Grace, ou o Last Goodbye, So Real, Mojo Pin ou Dream Brother. Percebe-se de que massa é moldada um verdadeiro cantor, sem espectáculo, sem montagem, sem fait-divers, na crueza de uma música, de uma letra, de uma voz.
É bom ter filhos que sabem gastar 20 Euros do seu dinheiro “porquinho mealheiro”, na caixa com 2 DVD e um CD, “Jeff Buckley Grace, Around The World”, e saberem o que querem, e não irem na moda do “ir com todos”. É bom ter filhos e aprender com eles a gostar de Jeff Buckley, a coloca-lo num jardim de anjos de asas caídas, que guardamos com desvelo nesta tribo: o jardim de Nick Drake, Laura Nyro, Judee Sill, Cobain, ou Janis Joplin entre outros. É bom ser pai, e com eles fora de casa, surripiar a caixa de Jeff Buckley e deixar-me comover por este génio e eles se calhar sem saber, habituados que estão às carradas do meu Bach, do meu Schubert, do meu Tallis, do meus Webster, Tatum , Parker, ou Coltrane, ou da minha Barbara, Dalida, Delerme, ou Tenco.
Num dos DVD, Jeff afirma” A minha voz é a minha essência…não podes mentir perante o público”, ou…” eu não finjo, sou o que sou” .Assim, adoro Jeff Buckley, porque como canta , é “So Real”!
Escrito de “rajada” para os meus filhos, É TÂO BOM TÊ-LOS e VÊ-LOS CRESCER!Mesmo para a “Trancinhas”, que do alto dos seus 8 anitos, já vai trauteando o Hallelujah e que de certeza não demorará muito, me vai chatear com um “ Pai, não me arranjas um “pin” do Jeff Buckley” para a minha mochila? “.