sexta-feira, 13 de novembro de 2009

MARIA GABRIELA LLANSOL...LIvro de Horas I


Um novo livro da Maria Gabriela Llansol, por iniciativa do ESPAÇO LLANSOL e desses infatigáveis apaixonados e estudiosos da sua obra, João Barrento e Maria Etelvina Santos. A Assírio e Alvim, na sua colecção Arrábido, chancela editorialmente.


“UMA DATA EM CADA MÃO –Livro de Horas I. (Lovaina-Jodoigne, 1972-1977)


Sem ser um diário, ele plana muito no estilo diarístico, embora seja o que diz ser , um Livro de Horas. Prefácio dos dois autores citados, explicitando o aparecimento desta obra póstuma e de futuros projectos de publicação de muitos inéditos de Llansoll uma introdução notável da Maria Gabriela em que o título diz tudo : “A Raiz de Qualquer Livro”, para depois a escritora colocar em mais de 200 páginas as suas “Horas” , que mais não são do que a sua imersão viva no fenómeno da escrita. O livro vem acompanhado de desenhos, esquissos(fac-símile) da própria Maria Gabriela Llansol.



Nada de novo na sua escrita e tudo de novo na sua escrita. A mesma melodia cativante, a mesma fulguração do instante, o mesmo fractal colhido no momento, a dispersão atenta e concentrada nos objectos, nas “coisas” vivificadas.



Não há totalidade, totalitarismo nas suas horas, elas são fragmentárias e unitárias na escrita delas. Sonhos, vivências, dores, géneses de personagens com quem dialoga, imaginários, tudo numa escrita de enorme profundidade de uma uma riqueza linguística, de uma confluência para um (in) leitor.


Sempre em Gabriela essa possessão da escrita que se torna des-possesão quando se transmuta no leitor em corrente sanguínea. O seu exílio nunca o é, por universal que se toma. O leitor atento de Maria Gabriela Llansol nunca é apanhado desprevenido, porque a autora deixa-o partilhar dos interstícios das palavras, nas lacunas do texto a preencher, na sua pretensa obscuridade, que o obriga a procurar a luz, a essência, a capacidade de ver.



Este um dos segredos da escrita de Llanso , a recusa da representação pela imersão do real da escrita. Escrita de passagem, de errância, mas também de permanência, de brilho fulgor, de momento apertado a apartado na escrita. Um livro, um livro maravilhoso. E sem me admirar, com uma tiragem de 500 exemplares.



Eduardo Lourenço previu tal como Vergilio Ferreira, e eu dúvidas não tenho: Gabriela llansol será num futuro, não sei se próximo ou distante considerada uma das escritoras mais extraordinárias e geniais de toda a Literatura Portuguesa.


Porquê? Raramente um escritor imerge tanto retalhado no seu silêncio, no seu mergulho essencial na corrente de escrita. Maria Gabriela, não é a representação da palavra, é a Palavra. Escrita e Maria Gabriela llansol, são indissociáveis, fazem parte do mesmo corpo de texto, da “Mulher que não existe, pois é escrita por________”, como ela escreve.

Maria Gabriela escreve para um tempo de ter tempo, dá-se ao leitor que ainda não desaprendeu o beijo do silêncio, que atentamente sabe coser as linhas espaçosas do entre as palavras, do leitor que ainda consegue sentir em si esees momentos fulgor do inscrito no escrito mesmo nos intervalos do não escrito.


Que haja muitos legentes de textos e mãos abertas a receber a Maria Gabriela Llansol.

14 de Fevereiro de 1972
A cena primitiva

" A vida eterna não existe.
Sentou-se arranjando as saias, para assistir a produção do texto.
Esse texto é um texto que assiste à produção do texto.
Este texto é a cena primitiva do texto.
A mulher não existe, mas é escrita por_____________ (...)


11 de Junho de 1972

"O que me desespera é que eu própria não seja um codicilo, um
caderno, um livro, onde tudo o que acontece possa, a todo o momento,
ser escrito."


(...)

As palavras leva-as o vento

As palavras exprimem agressividade, amor, vários sentimentos

No princípio era a palavra
"Lavra" - termo da própria palavra.
Parole - rô-le, um papel quie representa.
O que leva a palavra a falar é o desejo.
A palavra é um jogo de não e de aceitação. O não leva à esperança de uma aceitação, como a aceitação é já o princípio9 de uma próxima recusa. (...)

Um comentário:

Raul Martins disse...

Obrigado pela dica desta escritora por quem tens um afecto especial. Não é de fácil leitura mas é uma escrita inovadora e fresca.
Espero ser um dos seus dignos legentes.