segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

PORQUE...

Não gosto de Carnaval, de "carnavais" político-jornalísticos, de máscaras, deste tempo em que as pessoas pensando que se mascaram, desmascaram-se (Virgílio Ferreira dixit).
Para mim, tempo de trabalho, de pesquisas, reencontro com velhos mestres de leitura, de cinema, da música. Há quem neste tempo goste do Samba, do gingar na vida e no espírito, eu mais sério, vou adorando os "andantes com molto", os "adagios", os "larghettos" com que vou construindo a minha inacabada sinfonia.

Nestes dias, a memória de uma actividade que com outra colega do Departamento e duas outras de EVT, promovemos no dia 27 de Janeiro o " Dia Internacional da Memória do Holocausto". Foi bom desinquietar espíritos, suscitar questões, ver olhos e mentes incrédulas. Foi simples, mas valeu a pena. Agora, o apetecer-me criar um pequeno clip vídeo com algumas das fotos tiradas e a música-poema belamente tocantes de Nyman e Pulvers.

Porquê? Porque sim! Pelo menos o disco de Nyman não me tem largado e esta canção entranhou-se, pronto.

Claro, nos 9º, (re) centrar a questão de quem nos dias de hoje, infelizmente, muitas vezes parece não ter aprendido com a dor sofrida, com a História e gostam de a infligir a outros. E nem passaram tantos anos como isso.





If

If … at the sound of wish
The summer sun would shine
And if … just a smile would do
To brush all the clouds from the sky


If … at the blink of an eye
The autumn leaves would whirl
And if … you could sigh a deep sigh
To scatter them over the earth


*I'd blink my eyes
And wave my arms
I'd wish a wish
To stop all harm
(*Repeat)



If … at the wave of a hand
The winter snows would start
And if … you could just light a candle
To change people's feelings and hearts


**I'd whisper love
In every land
To every child
Woman and man


***That's what I'd do
If my wishes would come true
That's what I'd do
If my wishes could come true


(** Repeat)
(*** Repeat)


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

VÃO PARTINDO MANSA E DOLOROSAMENTE...

Vão partindo mansa e dolorosamente as nascentes do nós.


Nada que não fosse previsível, nada que não saberíamos vir a acontecer, não querendo que acontecesse. Nada de imutável neste constante fluxo de nascente até à foz que é a nossa vida-rio. Neste fluir, a consciência do nosso envelhecimento, da nossa vez de substituirmos as águas das nossas nascentes queridas que vão desaguando com mais ou menos sofrimento na praia pacífica do fim de um destino cumprido. Por vezes até a interrupção-desvio do caudal ainda pujante de vida a viver.



É assim , sabemos que tem de ser assim, lei da vida, mas apesar de tudo o peito estreita, a resignação quer assentar arraiais, mas não deixamos, quando muito, por frincha janela d’alma instala-se a conformação, e dói, dói de dor de doer, daquela que não se diz, porque não se tem de dizer, porque nada há a dizer, por palavras indivisíveis do nada que se instalou, onde antes Eles habitavam. Moradia desabitada cá dentro, em bairro-coração de rua nenhuma. Ficamos nós com a imagem d’Eles, mas num desamparo de se estar vivo que não é fácil de habitar.




A morte d’Eles, nascentes primaciais da nossa vida, semáforos sempre verdes de afecto, que não queríamos real, mas adiada, esperada para nunca. Mas vem e instala-se sem pedir licença na nossa habitação, da qual perdemos os mais queridos locatários. Dor estreita do vazio, mesmo que cheio d’Eles em nós.



Assim , tendo as minhas nascentes vivas, vou sentindo a morte dos Pais de alguns, algumas colegas da minha escola e infelizmente têm sido bastante nos últimos anos. Fico triste, confirma-me que vou continuando no meu suave plano inclinado, que apesar de preparado nunca estarei precavido para o desaguar d’Eles, os meus Pais.



Sei que tem que ser, mas custa, custa ver os olhos de onda de maré alta de tristeza dos colegas.


Infelizmente em tempos recentes tem existido muito o luto na minha escola. Familiares chegados de funcionários, filha de colega, Pais de colegas do Departamento, de outros colegas, na semana transacta do Pai da D, e precisamente hoje do Pai de uma colega a C, e avô da R, minha ex-aluna que foi objecto de um post neste blogue.



Para eles, principalmente para a D, a C S e a R a minha solidariedade, porque como diz o poeta, todos os sofrimentos e a morte dizem um pouco a toda a gente. Não sou de palavra dita, expressa na dor dos outros, que suspeito profunda, mas que não sei transmitir, porque é preciso tempo para abrir frestas no quarto escuro de dor, perda, que se instalou neles .

Sou mais do comovido silêncio.


G M Tavares escreveu e bem :


“ ...quando sinto deixo de conseguir pensar.

Quando sofro ou sinto que alguém sofre, deixo mesmo de querer ser inteligente.
Se estivermos cheios a sentir, não temos espaço para pensar.
Não fazem sentido as lógicas,
as filosofias,
as discussões.
Todo o nosso corpo sente .”

Em honra das colegas, o "Dance With my Father"do Luther Vandross, uma das canções mais belas e comoventes que conheço sobre essa força nascente que é ser PAI.