Pela Fé, pelo dia,pela serenidade de uma tarde cinzenta e em legítima defesa...
O “Vangelo Secondo Matteo” de Pasolini , uma filme de uma crueza e plasticidade a branco e negro , que me recolocam perante a simplicidade e o primordial da Palavra, do Verbo, de um Cristo tão longínquo dos estereótipos, das vazias mundanidades, das magnificências de comandos hierárquicos. Um Cristo humano, tão verdadeiramente humano que vale a pena segui-lo, a Ele, o do silêncio do gesto, do olhar, do próprio silêncio do Verbo,ou o da Palavra metáfora de vida.
Já num poste vai para um ano tinha referido este filme de Pasolini como dos “desert Islands” do meu gosto cinéfilo. Imagens de uma beleza absoluta, de imaculado B/N, de uma pureza esteticamente assumida, sem qualquer concessão ao melodramatismo, ao “kitsch piroso”, ao impositivo e doutrinário religioso. Um imenso mural, uma tela gigantesca onde um Homem-Cristo, se transmuta num Cristo Homem de missão, de dádiva, de caminho, palavra e vida.
Talvez só Roberto Rossellini no seu “Il Messia” se aproximou do descarnamento desta visão de Cristo e antes deles, noutro registo (o de Joana D'Arc) Dreyer, por quem foram claramente influenciados.
Silêncio bom o dos meus olhos.
A Paixão Segundo S. Mateus de Bach, claro. E uma e só uma, aquela que os meus passos sem titubear sabem ser conduzidos até ao “Jardim” Johann Sebastian da minha discoteca. Nela, dezenas de interpretações discográficas, todas “barroquistas” , excepto a celestial de Otto Klemperer e o Coro e Orquestra Philarmonia, a única que deixo perturbar o meu ferrenho amor pelos instrumentos e interpretação segundo cânones barrocos , mas de todas, uma, que pelo seu equílibrio, a seu classicismo, a sua apolínia e miraculosa concepção, quer nos coros, solistas, músicos, “tempi”, a tornam aos meus ouvidos um sereno e emocionado caminhar pela Paixão de Cristo e pela beleza tão “hálito das estátuas” da música de Bach.
Gustav Leonhardt , La Petite Bande e os Tolzer Knabenchor.
Pressentimento "d'hálito de estátuas" para os meus ouvidos.