sexta-feira, 2 de abril de 2010

PASOLINI e BACH...PAIXÕES



Pela Fé, pelo dia,pela serenidade de uma tarde cinzenta e em legítima defesa...


O “Vangelo Secondo Matteo” de Pasolini , uma filme de uma crueza e plasticidade a branco e negro , que me recolocam perante a simplicidade e o primordial da Palavra, do Verbo, de um Cristo tão longínquo dos estereótipos, das vazias mundanidades, das magnificências de comandos hierárquicos. Um Cristo humano, tão verdadeiramente humano que vale a pena segui-lo, a Ele, o do silêncio do gesto, do olhar, do próprio silêncio do Verbo,ou o da Palavra metáfora de vida.


Já num poste vai para um ano tinha referido este filme de Pasolini como dos “desert Islands” do meu gosto cinéfilo. Imagens de uma beleza absoluta, de imaculado B/N, de uma pureza esteticamente assumida, sem qualquer concessão ao melodramatismo, ao “kitsch piroso”, ao impositivo e doutrinário religioso. Um imenso mural, uma tela gigantesca onde um Homem-Cristo, se transmuta num Cristo Homem de missão, de dádiva, de caminho, palavra e vida.
Talvez só Roberto Rossellini no seu “Il Messia” se aproximou do descarnamento desta visão de Cristo e antes deles, noutro registo (o de Joana D'Arc) Dreyer, por quem foram claramente influenciados.

Silêncio bom o dos meus olhos.



A Paixão Segundo S. Mateus de Bach, claro. E uma e só uma, aquela que os meus passos sem titubear sabem ser conduzidos até ao “Jardim” Johann Sebastian da minha discoteca. Nela, dezenas de interpretações discográficas, todas “barroquistas” , excepto a celestial de Otto Klemperer e o Coro e Orquestra Philarmonia, a única que deixo perturbar o meu ferrenho amor pelos instrumentos e interpretação segundo cânones barrocos , mas de todas, uma, que pelo seu equílibrio, a seu classicismo, a sua apolínia e miraculosa concepção, quer nos coros, solistas, músicos, “tempi”, a tornam aos meus ouvidos um sereno e emocionado caminhar pela Paixão de Cristo e pela beleza tão “hálito das estátuas” da música de Bach.

Gustav Leonhardt , La Petite Bande e os Tolzer Knabenchor.

Pressentimento "d'hálito de estátuas" para os meus ouvidos.






4 comentários:

Sara Oliveira disse...

É sempre com entusiasmo que venho consultar o seu blogue, logo que me apercebo que publicou algo. E nunca fico desiludida, principalmente pela forma como expõe os seus temas. Sempre com sentimento e belas palavras. Neste caso particular criou-me curiosidade, vontade de conhcer.

Raul Martins disse...

No silêncio da noite este teu poste foi momento de reflexão e oração.
.
Deus está feliz porque se revê em ti, meu amigo!

IC disse...

Pasolini..., Bach... - um post perfeito!

Raul Martins disse...

Este prémio atravessou o Atlântico e já deve ter percorrido muitos "cantinhos" deste país "à beira mar plantado"! Ao meu "cantinho" chegou via ANABELA MAGALHÃES a quem já agradeci o gesto.
Para cumprir as regras tenho agora que nomear outros dez blogues, que eu considero serem merecedores de tal prémio, apenas porque me fazem feliz (e não é o que de há mais importante nesta vida? Sermos felizes e tornar os outros felizes?).
São eles:



A SOMBRA DO VENTO
A PHOTO A DAY

BALANCED SCORECARD
DIZ QUE NÃO GOSTA DE MÚSICA CLÁSSICA?
EXISTENTE INSTANTE
SLETRAS
TEMPO DE TEIA
TERREAR
UMA DE MUITAS... VIVÊNCIAS
VOX NOSTRA