terça-feira, 6 de julho de 2010

MATILDE ROSA ARAÚJO





Comovido, revejo esse episódio de Ler + Ler melhor. Uma voz tão melodiosa, tão serena. Um envelhecer amoroso, com o peso da ternura acumulado (e quem o disse que não é possível?).


Uma voz pequenina, fina, como regato fresco de ribeira, como trino matinal de rouxinol, como silvo de aragem serena em Estio. Uma amor à natureza, ás crianças, à vida que comove, que alenta. Uma arte de envelhecer no amor e com o Amor.


Comovido, mas feliz. Todos os meus filhos cresceram com Ela, com os seus maravilhosos livros. M, ficou o com o seu primeiro nome depois de risadas e risadas de nomes, o de Matilde se nos ter imposto, melodioso, terno, partitura de uma gravidez em alegria maior.


O “Palhaço Verde” o 1º livro a ser oferecido em 89 à minha futura esposa T com dedicatória do “meu terno Circo, para o esplendor do Teu”. O Livro que por Ela e pela Maria Keil, se tornou todo um referencial de como se pode e deve escrever para crianças e para adultos também.


Depois, depois, foram muitos mais, belíssimos de noites de espanto, de sonho, de lágrimas nos olhos do contador para os (s) ouvidores.


Morreu a Matilde Rosa Araújo. Morreu uma escritora daqueles que já não há, ou vão rareando. Morreu uma ternura cá de casa, cá do coração da casa. Ela, a Sophia e a Luísa Dacosta, foram, são, alimentos sensíveis do crescimento da minha miudagem, do nosso crescimento de pais. Claramente à parte no Jardim Especial de literatura infanto-juvenil na nossa estante (não tão pequena como isso) estas três autoras.



Matilde escreveu para crianças como Sebastião da Gama referiu “com mãos purificadas”, com uma inteligência sensível, com um coração tão enormemente aberto à seiva-sangue da vida, que nos deixa nos seus livros um saldo tão profundo de humanidade, de capacidade de abertura à natureza das coisas e do mundo. Como não ficar comovido?



Hoje tantos e tantos livro para crianças, que mais do que para elas, são infantilizações de adultos, escritos não a pensar na essência de uma criança, mas naquilo que o autor pensa que uma criança deve ser, não com atenção ao texto, à pureza e melodia da linguagem, mas sim com ilustrações magníficas a esconder a pobreza do escrito. Por vezes escrevem-se livros não para crianças, mas para “atrasados mentais”, com rimas inenarráveis, com histórias “fantabulásticas”, com o “espreitar d’olho” ao “comercialão” ao fácil do que a criança quer, ou enquadra-se o que se escreve numa fórmula e escrevinha-se a metro, a quilómetro, na procura dos livros se tornarem “ Bestas Céleres”. E tudo vale a pena, tudo numa amálgama soberba de idiotia, do” logo que eles leiam”, todos os meios justificam os fins.


Não, mas mesmo não! Em minha casa não se embarca em “Potes”, sejam do Harry, ou “Aventuras” pastiches mais ou menos bem conseguidos de escritinha escorreita e pobre. Não!


Em minha casa, a nível de literatura infanto-juvenil, quem quiser ler Sophia, Matilde Rosa Araújo, Luísa Dacosta, Irene Lisboa, Sidónio Muralha, Ilse Losa, Torrado, Jorge Letria, Maria Alberta Meneres, Esther de Lemos, Adolfo Simões Muller, Ricardo Alberty, Virgílio Alberto Vieira, Aquilino Ribeiro, José Fanha, Erico Veríssimo, Clarice Lisapector, Cecília Meireles ou Ziraldo, entre alguns mais…virá por bem!


Morreu a Matilde Rosa Araújo, e logo em família vamos todos assistir ao programa que tenho gravado sobre ela. Morreu a Matilde Rosa Araújo, e logo vou ler para todos momentos luminosos dessa escrita tão fractal—sensível, tão arreigadamente raízes, daqueles que ainda conseguem vislumbrar os enigmas doces das coisas.


Matilde Rosa Araújo

"Matide Roja Araúxo”

“Tide roja, Juju”






quinta-feira, 1 de julho de 2010

EUGÉNIO e...


(foto retirada da Fotobiografia de Eugénio de Andrade-Campo das Letras)

Foi no Sábado passado, 26, nos encontros “ciclo Cultura no Centro” do piso 2 do Dolce Vita, organizados pelo Sérgio Almeida. Tarde amena, 20 pessoas, algumas idosas, ambiente sereno para recordar Eugénio nos cinco anos do seu falecimento, para pensar Eugénio, para ouvir poesia de Eugénio, para pensar que Eugénio não merecia o que está a passar com a sua Fundação, com o alarve esquecimento que um poder político de uma cidade o vota, com a mesquinhez daqueles que gostavam do Photomaton com Ele em vida e agora assobiam para o lado.


Com Grandes amigos de Eugénio, com zeladores e estudiosos da sua obra, mas sobretudo com aqueles para quem Eugénio continua vivo como um dos seres poéticos mais originais e grandiosos de toda a Poesia Portuguesa. Bem escreveu Herberto em carta particular que o Eugénio, era das poucas vozes singulares na Poesia Portuguesa contemporânea, porque é verdade, pese a expressão hiperbólica da sua admiração.


Com Arnaldo Saraiva, com Manuel António Pina, com José Emílio Nelson como interlocutores, com o excelente “diseur” que é o Pedro Piaf, as horas foram passando com a surpresa de Eugénio a sua obra estarem a viver uma espécie de limbo mediático, de reconhecimento, com “estórias” de um Eugénio, humano, demasiado humano, dentro e fora do seu ser poético, com caminhos diferenciados de percepção e análise da sua poesia, um pouco afastados da pureza, da solaridade, quando a foi muitas vezes de rispidez brutal, de sombras, de corporalidade assexuada, mesmo carregada desse erotismo clássico tão visível nos seus versos, de uma Fundação sem fundos, prestes a extinguir-se apesar dos esforços desesperados e hercúleos de quem a gere, esperemos para renascer com outro nome, de legatários e herdeiros sedentos de carcaça monetária, de uma sensação de emoção e poesia de vida poética que por ali pairou.


Foi bom ver a minha “facultativa” M ver o ouvir Eugénio, a minha “Trancinhas” encantar-se com a música de muitos versos de Eugénio, a minha “metade” sorrir com peripécias de e sobre Eugénio, e Eu irremediavelmente irritado e comovido a leste de mim, com a humanidade tão terrena do Poeta, com a sua poesia de colagem de sangue, com os “canalhas” “sacanas” e indigentes intelectuais e culturais do meu Porto, do meu País.


Duas horas tão ganhas num Centro Comercial! Momentos em que adoro o capitalismo. Tão pouca gente! Quantos Professores estariam lá? Tanta divulgação nos Jornais e cerca de 20 pessoas. Se calhar foi bom! Há determinadas dádivas que têm de ser merecidas.



Como a foi vai para dois meses a Homenagem ao Zeca Afonso em Plena Rua Passos Manuel, igualmente com muito pouca gente!


Viva o Tony Coliseu, viva o cantor das horas vagas e“picarenta falante” filósofo de sanita que o deve fazer de óculos escuros, viva o “La Feira”, os “pópós brum...brum psicanalíticos” desse portento cultural da cidade! Ah! E vivam as “vernisages” de Miguel Bombarda, tão chiques, tão copo na mão, tão cócós, tão pedantes para “pitassoaresdosreis” ou “cagadores de posta de pescada artística “comprada” de jornais de referência, e as “movidas” perdidas de bebidas e coisas mais, de Cândido dos Reis.



Adoro-te minha Cidade do Porto. Cada vez mais decadente, cada mais mais enganada na tua pretensa culturalidade, na tua pretensa animação cultural. Vou fazer como o outro... citar poesia mas não sempre a mesma para “parolo ouvir e maravilhar com tão grande sensibilidade na unha grande do pé” de Deus e do Diabo ( o grande Régio não tem culpa coitado!) , citar sim Eduardo Carneiro “ Na cidade triste/já morrem palavras!