Não sei o que me deu, mas estou comovido, profundamente comovido quase até às lágrimas com a visita inaugurativa à minha terra de um tal senhor que parece ter um cargo no governo, mas que não conheço, nem nunca me foi apresentado, nem quero conhecer e muito menos ser apresentado.
Comovido sim com tanto préstimo, tanto beija-mão, tanto sorriso "pepsodent", tanta "mise" e permanente lacada em cabeleireira desfolhada, tanto "tailleur" naftalinado, tanto rimel meybelline e blush quando não poderosas camadas de base tipo "Tokalon" a esconder mazela de arreliadora borbulha, ou irritante ruga, tanta tanta gravata de nó perfeito em alva camisa que pedia alvíssaras a ar puro a grossas panças que a comprimia, tanto sapato de tacão alto ou de bico envernizado que lacerava pés, rasgava meia de nylon e obrigava de certeza a noturnos banhos de sais Dr. Schools. Emocionei-me... com as fotos e vídeos claro, que plebeu não entra, nem quer entrar em festas de tripa-forra de nobreza mesmo decadente.
Faltou lá o Sinhozinho Malta, mas um atraso aborrecido do avião que partiria de Asa Branca, inviabilizou o abanar da sua pulseira de oiro, coisa aliás, que traria outro brilho, outro dourado, outro glamour à festa! Foi pena!
E de súbito, sem saber porquê o raio do Erasmo ( não não nenhum jogador a contratar por Clube português!), sim, o de Amesterdão, resolve fazer-me uma visita e vir para aqui meter-se onde supostamente é chamado. Sim , porque isto da cultura e logo do Renascimento é areia demais para camionetas de caixa fechada. Falta-lhes o arejo, o ar puro!
Não sei porque raio de equação juntei inauguração, Mirante de Sonhos, um senhor do governo, Meninos e meninas arranjadinhos de domingueiro, muita gente (alguns meus colegas) e até o Sinhozinho Malta! Pronto, devo estar com a depressão pós-férias, ou talvez a compressão início de ano letivo.
De uma coisa quem me lê pode ter a certeza: guardo com certa religiosidade os artigos da Lei, ou a necessidade de atestado médico. É que não sou propriamente de Asa Branca, e vou tendo problemas com a dentuça para sorrisos postiços e mesmo dificuldades económicas de pobre Professor português para um branqueamento (os de capital de dentadura toda à mostra e rosnante, sabemos bem quem os faz!) eficaz.
Assim Erasmo e um tratado, "O Elogio da Loucura". Meu livro de pensar e continuar a ver misérias humanas!
" (...) Não há escravidão mais vil,
mais repulsiva, mais desprezível do que aquela a que se submete essa ridícula
espécie de homens, que, não obstante, costuma ganhar para si, de alto a baixo,
o resto dos mortais. (…)Para eles, a maior felicidade consiste em ter a honra
de falar ao rei, de chamá-lo de Senhor e Mestre absoluto, de fazer-lhe um breve
e estudado cumprimento, de poder prodigalizar-lhe os títulos faustosos de Vossa
Majestade, Vossa Alteza Real, Vossa Serenidade, etc. etc. Toda a habilidade dos
cortesãos consiste em trajar-se com propriedade e magnificência, em andar
sempre bem perfumados e, sobretudo, em saber adular com delicadeza. Quanto ao
espírito e aos costumes, são verdadeiros Feácios(...) "
Ah! Esquecia-me! Espero que não tenham esquecido o "hissope" e a benta água! Sacrilégio!
Um comentário:
A História é e será sempre uma repetição de "fieis servos e devotos servidores do reino". O "amém" curvado e submisso perpetua o poder, mesmo que artificial, principalmente daqueles que se engrandecem a mandar nas coisas dos outros.
São tempos difíceis os que vivemos, pois estamos paulatinamente, (ou talvez com rapidez, que nos impede a reação) a virar mais uma página da nossa história, mas a maioria ainda não viu, ou não compreendeu, ou então continua a acreditar (burrice) que o paraíso é já ali...
Abraço e parabéns.
Z.
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