Não. Não é dia de nada. Nem de aniversário, nem do nosso primeiro
casamento, nem do segundo nosso casamento, nem de nada só para não esquecermos
que existimos. Apenas na leitura deste poema de Vasco de Miranda a visita de
uma intrusa de muitos anos alojada sem pagar renda num apartamento que só eu
sei.
Não será normal num blogue, parecerá até estranho, senão mesmo "affettuoso
com molto", mas paciência. Aparições solares de fim de tarde que suavizam o cinzento
do dia.
Neste fim de tarde chuvoso, feio, tristonho, no aconchego da
confeitaria de quase esquina que amamos enquanto lia o poeta que sabes e me
acompanha vai para meses, resolveste entrar resteazinha de sol em imaginação e
em silêncio sorriste enquanto a caneta de tinta permanente rabiscava a verde
esmeralda estas frases. No fim, também em imaginação regressaste aos teus
meninos, à tua profissão de fé de Educadora. Pareceu-me ouvir as suas vozes
doces de poça de maré:
"Texa...Texa, foste ao mar ou vieste do mar?"
Vieste com rosto de virgem georgiana
Trazida nos ventos que o mar soprou
Vieste na Lua nas pedras nos dentes brancos
Das crianças e no arco
Do sonho que a distância não matou
Vieste na ilha de fogo destes e mil versos
Criados para dar-te corpo - forma humana
Vieste na fome dos meus olhos
Nos dedos da miséria e nas gaivotas
Emergindo do rio
Onde o Sol se purificou
Vasco Miranda
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