terça-feira, 6 de maio de 2014

PASOLINI, "COISAS" e...Morcegos e praxes





Depois de longo silêncio o reencontro com este blogue e de forma algo dura. Apetece-me ser duro, incisivo, violento mesmo, mais do que não seja pela palavra escrita. Quase um exorcismo, um desabafo, porque geralmente não ando distraído e só ligo a m...quando distraído estou.
Leio por alto e em diagonal algumas opiniões sobre praxes académicas. E leio estas pérolas estudantinas entre o cabotinismo puro, a indigência intelectual mais obtusa, a imbecilidade militante que passo a comentar



(...) Um dia trajei. Ai, que dia. Que saudades! O dia em que mais chorei, em que vivi tanta mas tanta emoção e que estava orgulhosa daquilo que tinha vestido. Traje para o qual tanto me esforcei. Senti-me completa. (…)”


Comentário meu :

Bela completude! Completa de nada- vazio que um traje preenche-a! Prazer aprisionado e um caso de Psicanalista precisa-se! Ou…um homem!



"A praxe ensina-nos isso: tens uma pessoa acima de ti, quer queiras quer não" 

Comentário meu :
 

Uma miséria espiritual assustadora de um aspirante a ser humano! Reparem, ele não diz “Ter uma pessoa dentro de mim e isso a praxe não nos ensina! Era preciso sensibilidade, inteligência emocional, cultura humanista. Um vazio. Uma alma que precisava de um bom divã freudiano!



“se somos cruéis, estúpidos e inúteis, foi de vós que aprendemos, pois é o vosso sangue que nos corre nas veias.”




Comentário Meu :


Bob Dylan mal assimilado, ou Bob Dylan a mais para capacete a menos! Não é não…é mais a bosta que te corre no cérebro! Isto é infantilismo puro, levado ao extremo de uma recusa clara de crescimento. Uma afirmação de não crescimento.

 E chega!
Saramago um dia recusou-se a falar de Silvio Berlusconi a quem chamou "UMA COISA". Poderia chamar o mesmo a essa "Coisa" da Madeira, entre outras cambadas de coisas!

Ontem vi "Coisas" , variadíssimas e feias coisas . Aberrações de negro vestidas, quais morcegos negros em  trocado movimento de rotação terrestre. Vi claramente visto centenas de "coisas", muitos, aos gritos ululantes, histéricos,  quase urros de ordas bárbaras aos pulos incontáveis, incontroláveis, , de uma alegria que mais o de o ser, já o era, por bacoca, histriónica, telecomandada e por isso...chorosa para quem profundamente sabe observar.


Quilos, resmas, metros quadrados de coisas vestidas de "negro" de pastinha mais ou menos fiteira se mostravam no palco do mundo a quem passava. Uma merda ( e desculpa lá ó Luís Pacheco!), que não sabendo fazer mais nada, se calhar nem sexo de merda, merda faziam. E cheirava mal, muito mal, nem que fosse à merda da naftalina.


Morcegos de cabeça para cima. Eles enfatuados de negro mais ou menos coçado, nó de gravata mais ou menos broeiro, alguns boçais, labregos, elas, muitas, de pernas feias escanzeladas, sapatos rombos, cambados, algumas de meias desmalhadas, que acentuavam o estilo de Magapatóliga, de rostos feios que o preto acentuava. O negro de tudo, o negro da coisa que só acentua o luto da própria coisa. Talvez seja isso, a incapacidade de se enlutarem para se libertaram para a vida adulta. Luto infantilizado aquele negro.

Como lutei contra isto na minha Faculdade de Letras quando tentaram reanimar esta malfadada coisa!  Como ainda rio com a lembrança das galinhas com capas negras que libertamos no átrio do Campo Alegre para gáudio de todos! Sei que perdi, perdemos todos aqueles para quem a Universidade e ser universitário era bem mais do que esta vil e apagada tristeza.


Dou por mim a pensar que talvez isto seja o seguimento da imberbidade de Lloret del Mar, Marina d'Or ou Salou, ou talvez que as empresas cervejeiras sabem bem o que querem.

Dou por mim a reconhecer a imbecilidade que segue e é apanágio de muita desta gente desde a adolescência e parece querer perpetuar-se na vida adulta de forma teimosa.

Dou por mim a pensar que formação se dá nas pastagens pouco verdejantes das Universidades para "cabrestos" destes tomarem conta de futuros e queimados pastos. Uma Universidade merdosa e medrosa que entre o encolher cobarde de ombros, a cobertura mais ou menos "embatinada" de certas práticas, quando não a anuência prazenteira, dá guarida a esta "coisa" e a estas "coisas".

Dou por mim a pensar nos "coisas" paizinhos destas "coisas" rebanhinho que orgasmeiam com os rituais de passagem dos seus rebentinhos, nem que sejam bebedeiras de cair à cova ou desflorações, ou humilhações. Pois claro ser homem, pois claro, ser mulher submissa claro...pois! Com financiamento e tudo de 300, 400 Euros para "queimar" que para isso já não há crise, nem subsídio. Ricos pais, pois! "Coisas" boas, para filhos "coisas" que isto da educação é uma "coisa" do caraças! ( desculpa lá o Cesariny!)


Dou por mim a pensar que muitas destas coisas de negro dizem coloridamente, youtubados e tudo, que a Mona Lisa foi pintada por Leonardo Di Caprio, ou que não percebem nada de religião quando é referido o Evangelho de Saramago, ou que a capital dos EUA é Londres! 


Dou por mim a pensar na Tragédia do Meco, nas praxes, em todas estas coisas que se não fossem humanas coisas nem dava para gastar inteligência nem aparo. Mas são, e psicopatias sociais típicas das muitas que vão adoentando este humano mundo.



Dou por mim quando olho esta gente de negro, nas praxes, no Meco, a pensar  num filme desse genial Piero Paolo Pasolini ( para um f.d.p e racista miserável como já ouvi ("um paneleiro do cinema"), para um jovem de negro, nada, ninguém, pois nem sabem quem foi, "Salò ou os 120 Dias de Sodoma". 

Um filme terrível, perturbador, dolorosamente belo na sua violência visual e estética, que fere pela não indiferença. Sobre o Fascismo, a ditadura, as ditaduras, a obediência, os rituais de iniciação, os Círculos de domesticação, sejam o das manias, das fezes, ou de sangue, o mais completo tratado como fazer "coisas" de seres humanos jovens, atrelando-os a uma verdade, a uma submissão, a um quero, posso e mando.


E lembro-me de toda essa tralha-inválida e impotente de negro, os dux, os doutores e por aí fora e lembro-me dos "Signori" de Pasolini, dos mestres de cerimónia, do Duque de Blangis, do Banqueiro,  Do Bispo, do Presidente de Curval, o Magistrado Durcet, ou a Senhora Castelli, ou a Senhora Maggie ou Vaccari nem sei bem porquê!


Claro...Sade, claro a asquerosidade, a impureza como potência de espírito. Mas por que raio não me sai este filme da cabeça quando penso na tragédia do Meco? Quando vejo imagens inenarráveis de praxes académicas?


Lembro-me de Saló, de Pasolini e das praxes, dos praxadores e praxados, estes últimos que aceitam num sadomasoquismo aviltante serem objetos e dejetos de outrem. 

Lembro-me e entristeço. Ou talvez não. Pai de três filhos que de forma concisa e simples acham que a praxe é uma coisa de atrasados mentais para atrasados mentais! Ah! Dois ainda são Universitários. A mais pequena acha tudo nojento.

Dou por mim a pensar que talvez isto mude, que esta barbárie disfarçada de ritual, de alegria, de normalidade, talvez um dia seja substituída pela beleza íntegra e solar de Gente, pela Poesia efetiva e intrínseca das verdadeiras coisas, por esse barro belo e vivo com que se constroem Pessoas.

Vi umas coisas feias de negro vestidas. Não me estragaram a tarde aqui nesta árvore nodosa e áspera do Jardim Botânico que me acolhe.

Um belo melro, lindo, olha-me de negro vestido. Não foge. Gostamos um do outro. Reconcilio-me com a tarde, com o belo do negro. 
Beijo-o com os olhos.


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