sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago


Percebo.

No mundo em que vivo, esta exaustão da imagem, do nome, da morte como agora sim passaporte para a imortalidade. Principalmente num país adiado, abúlico, carente, analfabeto de ideias e ideais, com personagens políticas, culturais, judiciais, títeres, vivos-mortos de uma indigência intelectual e cultural aterradora, e contra o qual lutou, honra lhe seja feita, José Saramago.

Carente de reconhecimento de um país, que odiava-amava em proporção que não sei, mas só os grandes amores podem ser assim! Tenho sérias dúvidas que quisesse isto, este laudatório crocodilório, esta peninha que fica tão bem em momentos fúnebres. Por isso a minha estranheza de não ter deixado desejos de simplicidade e discrição nas suas exéquias. Ou talvez não. Talvez o País, um certo país anafado, tacanho, " encavacado","larado" que o maltratou, agora lhe seja obrigado ao curvar perante o génio e ele o antecipasse.
Sena foi igual, embora com outro tipo de parvónios, de parolos militantes.

Que para mim génio não o é, literariamente. Dizer que emparelha com Eça ou Pessoa, só pode ser explicado por "boutade", desejo de continuação de êxito editorial, ou emocionada amizade, nada mais!
Um grande escritor? Sem dúvida, na medida em que o foi um Cardoso Pires e o é hoje, um Lobo Antunes. A minha opinião, subjectiva, como é óbvio.

Nem interessa, porque não é um Editor, nem uma poderosa cadeia "capitalista" que determinam a genialidade, e o futuro no panteão de de um autor de uma Literatura. Ao que parece Teixeira Gomes era muito lido, Arnaldo Gama também e... a História, essa implacável selectora, lá se encarregou de...

Nunca desgostei do Homem Saramago, pese as suas contradições, e o seu " complexo de Édipo com Deus não resoluto" , como ainda há pouco ouvi e com o qual concordo em pleno, ou o seu desejo de reconhecimento, de distanciamento para melhor ser amado. Gosto do escritor, pelos seis romances que dele li, a par dos seus diários e poesia, alguns excelentes , outros menos, mas continuo a não perceber , embora perceba. Quem aparece-reconhece, que não aparece, esmorece.

Pois será assim, mas comigo não será, paciência.

E perante a torrente caudalosa, quase massacradora de imagens de e sobre Saramago, dei por mim a pensar em coisas estranhissimas: nesse assumido, soberbo apagamento do génio Herberto Helder, da sereníssima Luisa Dacosta, do recatado Ramos Rosa, na morte quase anónima de um Sena, Ruy Belo,Ruben A, Luisa Neto Jorge, Vergílio Ferreira, Eugénio de Andrade, da Fiamma,Maria Gabriela Llansol, ou neste momento, nesse partir desta vida estando não sendo da Agustina Bessa Luís.

Morreu um belo escritor e isso deve entristecer-nos. Morreu um espírito livre e critico, e isso deve magoar-nos. Morreu um Homem e isso deve silenciar-nos...por dentro certamente.

Paz à alma do Homem bom José Saramago. O Deus que ele sempre renegou, gosta de quem com Ele se desencontrou...apenas.

2 comentários:

Avó Pirueta disse...

Querido Instante, estou em Luanda, num fim de tarde absolutamente glorioso e, sabe Deus porquê, resolvi ir ver "se estavas". E estavas, inteiro, igual a ti mesmo! Tenho orgulho em ti. Assino por baixo o teu texto. Todinho!
Como estás? Tudo bem? Ando de blogue calado porque a luta Professores-M de Lurdes Rodrigues me esgotou.
Desejo-te toda a sorte do mundo. E que a saibas ver onde ela está. Um abraço muito carinhoso da Avó Pirueta

Raul Martins disse...

Nem mais!
Como diz a Carmo: Igual a ti mesmo, por inteiro! E o orgulho é mutuo.
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Fico feliz por ver a nossa "avó" a visitar-nos devagarinho.
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Abraço tribal!