“Il y a si peu de temps,
Entre vivre et mourir,
Qu'il faudrait bien pourtant,
S'arrêter de courir,(…) “
Entre vivre et mourir,
Qu'il faudrait bien pourtant,
S'arrêter de courir,(…) “
" Je n'ai jamais répété aucun geste, je ne me suis
jamais exercée devant une glace, je n'ai jamais travaillé avec un metteur en
scène, sauf dans Lily-Passion
; je n'ai obéi qu'à mes propres lois, apprenant sur le tas grâce à ce flux vivant
que m'a toujours renvoyé le public — un public qui a été pour moi un
accoucheur. Je n'ai fait en somme qu'essayer de retourner une part des beautés continues
dans cet amour immense qui me fut donné." (...)
" Et
puis mon corps s'est mis à chanter, des cordes vocales aux orteils. J'ai eu besoin
de marcher, besoin d'une liberté de mouvements, non plus seulement assise à mon
piano, mais debout.(...)"
" On ne sait pas d'où
viennent les mots ; quand tu chantes, ils se mâchent, s'allongent, se
distordent, se consument, déboulent de ta gorge à tes lèvres, redescendent dans
ton corps, dans le pli de ta taille, dans ta hanche ; (...)
"les mots se sont mis à circuler par ma bouche,
par mes veines, par mes muscles, et tout mon corps a pu chanter de la racine
des cheveux jusqu'au bout des doigts, et j'ai pu projeter mes émotions au
rythme de mon souffle.(...)
( Barbara, Il était un piano noir)
Ouço, vejo Barbara no Châtelet.
Força vital enviada não sei de
onde nem por quem para nos reconfortar na dolorosa tristeza que por vezes vamos
sentindo. Vê-la, ouvi-la, pura e necessária alquimia de transformação da sua
fragilidade, da sua verdade no nosso consolo na nossa companhia.
Ouço e vejo Barbara, releio o seu
"Il était un piano noir", passo os olhos ternos por alguns poemas da sua
integral “"Ma Plus Histoire D'Amour" e pressinto toda uma tessitura de uma alma
imensa.
Ali, leve, etérea presença, gota
de orvalho levemente iluminada e deslizante pelo palco e comovo-me. Quase irmã,
camarada de passeio interior nas palavras que caminham em melodia.
Ouço, vejo Barbara e tudo se
reunifica em mim. Opus - espaços de silêncio, nichos de plenitude necessários
depois de agitações perturbantes, ruídos inertes de essência, desertos afetivos
em avanço, máscaras afiveladas de deferência, servilismos de lugar-comum.
Ouço e vejo Barbara. Um dos
génios-voz mais marcantes do século XX. Imorredoira, intemporal, suave como
seda em pele nua, ou, planante águia ao sabor do vento. A sua voz-poema,
percorre a corrente de emoção que pede ainda cá dentro licença de habitação,
agarro o fractal de beleza silenciosa que por desafio se me oferece. Recebo-o
de mãos abertas e purificadas de aconchego.
Bom, no fim de um ano de "funcionário
cansado", esta bela voz, esta bela mulher que murmura, que reconta, que
dialoga, que denuncia, que violenta, que ama e nos ama.
Nada em Barbara de sofrimento
piegas, de romantismo açucarado, de emoção "light", ou histeria de vizinho de
lado, nada! Barbara canção, em carne viva, que se transmuta na própria canção.
Barbara de solidão fecunda de nunca o ser por agregação de outras, Barbara de
voz poesia, de dádiva, porque a sua mais bela história de amor, somos nós,
todos aqueles que a sabemos receber, aprisionar em nós a liberdade do silêncio,
da emoção sensível.
Ouço e vejo Barbara no Châtelet e
penso nas infinitas inutilidades canoras e poluentes que por aí abundam.
Percebo nela o génio, a imensidão do talento, a entrega a uma arte a uma missão,
a essa humildade de música d’alma que tão poucos conseguem atingir.
Ouço e vejo Barbara no Châtelet e
lembro-me das palavras da belíssima cantora peruana Susana Baca “ Com isto de
comunicação e de televisão, de repente reúne-se um grupo de miúdos com vários
acordes, repetem uma coisa e já os consideram músicos, com muita ligeireza. Têm
êxito, ganham dinheiro, mas é uma música de merda. Mesmo”
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