sábado, 12 de agosto de 2017

FICAS COMIGO? FICAS COMIGO?



Frente ao grande azul só elas caiam fluídas e salgadas
As lágrimas


Ele, na sua inesgotável rotina, nesse dia de som doce felino
Lembrava a minha obreira na sua questão repetida à exaustão
De um Alzheimer como onda mansa e desfeita em vaza maré:
Ficas comigo? Ficas comigo? Ficas comigo? Ficas comigo?


Quantas vezes tem de morrer a minha Mãe
Para a viver em mesma proporção comigo?
Quantas vagas de esvaziamento nela até ao nada
Para o meu preenchimento de tudo d’Ela?


Cada vez mais longe no horizonte este barco lindo de vela panda que ela foi É.
No seu partir de dentro para a sua ilha
De desertonada
Vejo-a acenar


O vento norte traz-me a sua magra e débil mão
Que afagagarra com força a minha
Ouço-lhe o sussurro ténue antes do silêncio líquido
O mesmo de onde d’Ela singrei marinheiro tão gáveo de sonho
Ficas comigo? Ficas comigo? Ficas comigo? Ficas comigo?

Sempre. Sou-te. És-me.

Nenhum comentário: