terça-feira, 20 de outubro de 2009

Saramago...Recadinho


Rabiscos Vieira


Por CAIM em diagonal, como cão em vinha vindimada. Escrita típica do nosso nóbel literário. Não me comove, não me faz “morrer de amores por”, porque manifestamente Saramago não é Sena, não é Maria Gabriela Llansol, não é Ruben A, não é Vergílio Ferreira . Um bom escritor, não um grande, um enorme escritor, na modesta opinião de quem já leu alguma coisinha de Saramago.

E por falar em Vergílio Ferreira, esta recente polémica iniciada com frases indefiníveis de Saramago, quer pelo tom, ignorância, confusão do sagrado e do humano-profano, descontextualização histórica, fez-me de rompante ir aos confins da memória e recordar dois belíssimos textos do citado Vergílio no “Pensar” que se aplicam ao nosso nóbel que nem luva em mão fina:


“72 Estás velho. Já é difícil ouvirem-te. Vê se falas mais alto, por sobre a tua bronquite, a gaguez cerebral, o impossível asseio, a gosma, o ofego respiratório, os passinhos miúdos, as mãos frias, o risinho em falsete de tolinho, as lembranças chilras, o relógio das horas da papa, as almofadas da tua cabeceira, a manta para o frio mortal, as pantufas mesmo no Verão, o escarrador e o penico, e talvez o respeito veneração obrigado — vê se falas mais alto por cima disso tudo e talvez te ouçam. E talvez conquistes ainda a ilusão de que és comunitário.”


59 Decerto há várias razões que expliquem a redução mental de um velho. E entre elas, naturalmente, a do seu esgotamento. Concebe-se uma ideia, expõe-se, e ela reduz logo, por exposta, o nosso capital mental. (...) Não apenas porque é uma fracção do que se concebeu, mas ainda porque ela já lhe não pertence. Repeti-la, expô-la, é abdicar dela em favor dos outros, que naturalmente já a têm sem o saber. Se a ideia tem um percurso a fazer, ela está a realizar-se e a ser funcional onde os outros a esperavam. Mas uma ideia num velho não tem a ver apenas com isso. Muito mais profundamente, ela tem que ver com a presença da morte. (...) Ora a morte é o pano de fundo de um velho, contra o qual se define todo o seu tecido de ser. Assim ele se questiona, ainda que o não faça, sobre o significado de uma ideia. Porque é necessário que ela seja visível, face ao visível da morte. Essa questão da resistência de uma ideia, frente ao nosso destino, devíamos estabelecê-la sempre para lhe avaliarmos a sua compreensão. Ora a morte é inimaginável e só a sua presença imediata a torna mais concebível O cansaço do velho é isso que significa. (...) “


Depois, caro nóbel, a Bíblia ser um “Manual de maus costumes” ? Claro que é !! Pode lá ser estas “poucas vergonhas” ?



“PRIMEIRO CANTO

Anseios de amor

Ela .

2 Sua boca me cubra de beijos! São mais suaves que o vinho tuas carícias,

3 e mais aromáticos que teus perfumes

é teu nome, mais que perfume derramado;

por isso as jovens de ti se enamoram.

4 Leva-me contigo! Corramos!

O rei introduziu-me em seus aposentos.

Coro.

Queremos contigo exultar de gozo e alegria,

celebrando tuas carícias, superiores ao vinho.

Com razão as jovens de ti se enamoram. (...)


O problema, caro nóbel português, é que quatro versos de um Livro do tal dos “maus costumes” , vale bem uma viagem de elefante à procura do ensaio da lucidez, mesmo que ele esteja na caverna, ou no ano da morte de ricardo reis, que sendo uno ou o homem duplicado, tinha todos os nomes na bagagem do viajante e acabou por levantado do chão, titubear perante as intermitências da morte.


Caro nóbel português, você faz-me lembrar aquele escritor que afirmava a pés juntos: “Ninguém em Portugal escreve como eu , a que alguém respondeu : “ Ainda bem. “ (roubado salvo erro a Vergílio), ou aquele outro que a todo o custo queria virar estátua, e isso é aflitivo : não se vai poder coçar!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

TEIA...TEIAS

Porque me apetece em cifrado poema (!?) falar de Teia, de teias, de lembranças boas que inquinados meus comovidos olhos foram...Ainda alguns cristais no meio do lixo blogosférico. Aproveitar para minha riqueza.



Frágil fio entretecido
por longos suaves dedos
A respiração atravessa o seu peito

Fazendo oscilar a arquitectura-teia.
Fico atento à cicatriz profunda no ar

Velada doçura concisa
Despeço-me no silêncio da palavra

Inscrito


Existente Instante

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Brasileira, Actriz...Recadinho com presente dentro


Portugal no seu melhor. Uma actriz, umas palavras desprestigiantes para o País, uma cuspidela, um programa histérico com grupo de histéricas, um vídeo no You Tube, uma pretensa defesa do pacóvio alter-ego masculino da Margarida Pinto Rebelo e recente amante de horas vagas, um paquiderme asqueroso, dito empresário da moda, pretenso representante dos interesses da minha cidade e do meu Clube, que mostra a “tromba” em tudo que é televisão, nomeadamente num programa da manhã, com ditos “chulosos” inenarráveis, inquéritos de rua, os blogues e sites a abarrotar de comentários, as desculpas crocodilórias, tudo uma “choldrice”, tudo a “cuspir” na minha e na inteligência dos Portugueses que se prezam.

Não bastava dizer à dita actriz que a ignorância é parecida com um camelo, neste caso fêmea, de duas bossas?! Ou que... “estúpida é estúpida, sua estúpida”, (perdoa-me o “roubo” Arnaldo Saraiva).


Resumindo: A mulher é bonita sim senhor, mas estúpida! Sinto neste momento os deuses assustados, muito assustados!


E como nada me move contra a estupidez, a não ser ficar um pouco inteligente, para a referida actriz esta homenagem de um inteligente e sensível conterrâneo, o belíssimo poeta Carlos Nejar.


LUÍS VAZ DE CAMÕES

Não sou um tempo
ou uma cidade extinta.
Civilizei a língua
e foi resposta em cada verso.
E à fome, condenaram-me
os perversos e alguns
dos poderosos. Amei
a pátria injustamente
cega, como eu, num
dos olhos. E não pôde
ver-me enquanto vivo.
Regressarei a ela
com os ossos de meu sonho
precavido? E o idioma
não passa de um poema
salvo da espuma
e igual a mim, bebido
pelo sol de um país
que me desterra. E agora
me ergue no Convento
dos Jerônimos o túmulo,
que não morri.
Não morrerei, não
quero mais morrer.
Nem sou cativo ou mendigo
de uma pátria. Mas da língua
que me conhece e espera.
E a razão que não me dais,
eu crio. Jamais pensei
ser pai de santos filhos.

Valha-nos deus que acabo de ler no Ípsilon do Público, uma entrevista plena de inteligência, de categoria, de cultura de vida, de uma outra actriz, nada telenovelesca: Isabelle Adjani.