quinta-feira, 10 de junho de 2010

Tanta Beleza...Na minha Escola

Há dias assim…


Tinha acabado o serviço lectivo pela manhã. Tarde livre. A chuva tinha parado. Não desejo de ir à escola, mas a vontade de ver e fotografar a miudagem no xadrez ao vivo. A ida com duplo sentido da fotografia da actividade, mas sobretudo o procurar uma outra minha escola que só eu sei.



A minha escola em mim, uma certa e misteriosa escola que só eu conheço, ou deveria antes dizer, um certo Eu na minha escola, num olhar atento, terno, pacífico que por estas alturas me vai visitando?


Uma escola magnífica, resplandecente em verde, em beleza, em discreto e sussurrante diálogo com os meus sentidos.Cortejei-a pois então, nesta magnífica tarde de Quarta-Feira, sem a vozearia pardalesca dos pré e ado no seu esvoaçar irrequieto e pleno de vida.



Uma escola em silêncio que amplificava a beleza do seu intrínseco silêncio. Uma escola fora no seu dentro, que se ria das fachadas alaranjadas, salas e corredores do edifício que a constitui.


Uma escola extraordinária de verdes, de árvores pujantes, de flores, de cores, de vida. Uma escola que quase ninguém vê, que quase ninguém sente, que quase ninguém dialoga. Uma escola belíssima para não distraídos.



Duas horas de conversação silenciosa, de conjuntas cumplicidades emocionais, de namoro verdeamoroso. Às vezes dá-me, por saúde mental, por necessidade de “burn-in” docente, por obrigação de confirmar aquilo que sei vai para trinta anos – uma escola só o é, por Eles, e nos momentos onde o belo, penetrante e balsâmico silêncio a inunda, o vibrante ruído do borboletear de vida, do deve-e-haver afectivo e emocional que vai marcando compassadamente os dias, o justifica.



Muito, muito bela a minha escola.Tenho a escola mais bela que o meu ser Professor pode querer. Não raro nos intervalos, gosto de me refugiar numa sala de aula do primeiro piso, para qual tribuna-anfiteatro, ver a vida buliçosa de espanto e energia que se vai desenrolando nos campos à minha frente, mas outras tantas, sem eles, adoro passear seduzido pelos espaços secretos das primaveris promessas do verde, do verde-Verão de Junho, ou amarelos-Outono, dos jardins, espaços abertos da minha escola.


Amo as magníficas árvores da minha escola que foram crescendo comigo. Conheço-lhes os troncos, os ramos, as nervuras, as manias e inclinações. Olhamos-nos comovidos e mudos no nosso envelhecimento – elas mais rugosas, eu mais de pele lavrada.



Sei os cantos das florinhas amarelas, lilases e brancas que teimam em resistir aos pés distraídos e olhares-cabeça arrogante e pujante de vida dos adolescentes. Afago-as docemente, e agradecem-me com ondulação-brisa no meu guarda-sol, palma da minha mão.


Sei das ervas verdes galanteadoras de muros, caminhos, bancos da minha escola. Às suas ordens, sardões e insectos escapulem-se à minha aproximação, para melhor serem vistas.



Sei de troncos e restos de troncos, de pedras, de formas nada-tudo vegetais, que se oferecem aos meus olhos sedentos de maravilhas-mistério.


Repouso os meus sentidos nesta extraordinária porção de vida e, o que era cansaço torna-se apaziguado e sereno cansaço.O que até aí me parecia zinco-chumbo d’alma, torna-se verde esperança esmeralda.


A minha escola tem destas coisas…quando se sabe olhar a minha escola.Indelevelmente pertenço-lhe, como ela se me entranhou, num casamento sem conveniência.


Conheço-lhe os contornos corpo espraiado ao ar livre, como se conhece beijo de lábios no espelho.


Conhece-me na sua arbórea e pretensa imobilidade, de tal forma que por vezes duvido se sou eu que vou mudando nela, ou ela em mim.

Não acreditam na beleza da minha escola? Azar o Vosso!























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