Praticamente nenhum aluno na escola...
No meu périplo pelo verde magnífico da minha escola, enquanto apontava a tele-objectiva para graciosa árvore, a lente captou personagem sozinha ao longe.
Curvada, sentada na borda estreita que separa o verde do cimento. O banco, ali ao lado, recusado, pétreo, deserto, parecia demasiado amplo para tão pequeno curvado corpo. Aproximei-me discretamente.
Observei a esguia figura, agora mais de perto.Indistinto ser rapaz ou rapariga à primeira vista, embora confirmasse depois ser uma aluna. Parecia adormecida ou indisposta. Mas ninguém adormece assim, em tão instável equilíbrio, nem se indispõe de cabeça entre os joelhos.
Aproximei-me mais ainda, cuidado para não anunciar a minha presença. Uma ou outra lata de refrigerante anunciava talvez a timidez dessedentada de um primeiro beijo, um ou outro pacote de leite esmagado, denunciava crónica de raiva contra amigo de amizade traída, ou raspanete de professor mal digerido.
Ainda mais perto, foquei-reparei que chorava. Agora a compreensão da posição de curvatura. O seu choro, a dor virada para baixo, mansa, dolorosamente baixa, tão diferente daquele grito angustiante para o céu, o infinito, a libertação. Um choro fio escorrido em cascata para a consolação. O fim de ser em turma? Um amor rasgado? A incompreendida solidão?
Estive para lhe perguntar o que tinha, mas não. Um direito inalienável do adolescente: o de estar só, o de chorar para fora, o choro que lhe vai dentro. Saúde mental, pois!
Enquanto me afastava lentamente, “vi claramente visto” um jovem adolescente de catorze anos, num recreio enorme e vazio, sentado e encostado a uma das venerandas árvores do Liceu Alexandre Herculano, cabeça baixa, olhos semicerrados, agradecido aquela dureza arbórea que como lixa lhe ia limando a aspereza da solidão.
Sexta-Feira, vou-lhe ver um sorriso, nem tímido que seja.
No meu périplo pelo verde magnífico da minha escola, enquanto apontava a tele-objectiva para graciosa árvore, a lente captou personagem sozinha ao longe.
Curvada, sentada na borda estreita que separa o verde do cimento. O banco, ali ao lado, recusado, pétreo, deserto, parecia demasiado amplo para tão pequeno curvado corpo. Aproximei-me discretamente.
Observei a esguia figura, agora mais de perto.Indistinto ser rapaz ou rapariga à primeira vista, embora confirmasse depois ser uma aluna. Parecia adormecida ou indisposta. Mas ninguém adormece assim, em tão instável equilíbrio, nem se indispõe de cabeça entre os joelhos.
Aproximei-me mais ainda, cuidado para não anunciar a minha presença. Uma ou outra lata de refrigerante anunciava talvez a timidez dessedentada de um primeiro beijo, um ou outro pacote de leite esmagado, denunciava crónica de raiva contra amigo de amizade traída, ou raspanete de professor mal digerido.
Ainda mais perto, foquei-reparei que chorava. Agora a compreensão da posição de curvatura. O seu choro, a dor virada para baixo, mansa, dolorosamente baixa, tão diferente daquele grito angustiante para o céu, o infinito, a libertação. Um choro fio escorrido em cascata para a consolação. O fim de ser em turma? Um amor rasgado? A incompreendida solidão?
Estive para lhe perguntar o que tinha, mas não. Um direito inalienável do adolescente: o de estar só, o de chorar para fora, o choro que lhe vai dentro. Saúde mental, pois!
Enquanto me afastava lentamente, “vi claramente visto” um jovem adolescente de catorze anos, num recreio enorme e vazio, sentado e encostado a uma das venerandas árvores do Liceu Alexandre Herculano, cabeça baixa, olhos semicerrados, agradecido aquela dureza arbórea que como lixa lhe ia limando a aspereza da solidão.
Sexta-Feira, vou-lhe ver um sorriso, nem tímido que seja.
3 comentários:
Eu sei que vale sempre a pena esperar, um mês, dois ...
Porque vale sempre a pena vir ler estes textos. É por essa razão que Éxistente Instante se mantem na lista dos meus blogues preferidos.
Retalhos de vida que tu descreves de uma forma tocante e marcante. Um abraço-sorriso-aternuração de simpatia e agradecimento por estes momentos de vida e literatura que partilhas connosco.
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