quinta-feira, 27 de outubro de 2011

DÚVIDA POUCO METÓDICA




Sou apoquentado vai para semanas com uma dúvida que nem dormir me deixa:

Qual a diferença entre um canalha mentiroso patogénico-compulsivo e um garoto aldrabão patológico - progressivo?

Depois de muito ler, de muito programa pesquisar, outra dúvida não me larga:

Porque razão uma tal Socialista Democracia, uma Social Democracia e uma Democracia Cristã se transformaram de mulheres honestas em rameiras decadentes nas mãos de proxenetas políticos sem vergonha?

Depois...depois de muito me rir da incultura política de muito professor (a), ainda me resta perguntar perante o panorama ( talvez por isso o "desestruturado humano e pedagógico" queira acabar com a História) : Duvidam ainda da existência de Classes ? Querem que faça um desenho? Não faço!

Ao que chegaram muitas das democracias europeias! Ao que as deixamos chegar!

Mas pronto, tudo passa, até ao próximo arrebite, à próxima indignaçãozinha, ao próximo desemprego de mobilidade, desde que o nosso não seja, até a um próximo orçamento retificativo que nos levará mais 5 a 10% do salário, até à nossa capitulação para a devida, obrigada e patriamorosa capitalização.

Podeis tirar-me tudo, tirar-nos tudo, porque do vosso vazio d'alma e inteligência nada nos pode alimentar, porque como o Sena dizia no seu "Camões..."
(...)
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
Que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
Para passar por meu. E para os outros ladrões,
Iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

Ah! O resto, os comentadores, ex-governantes, economista encartados e sem ela opinion qualquer coisa, politólogos, emerdadores das almas, "martelos" , conselheiros e olheiros, vendedores de banha da cobra, Mirantes Bic-vapouruv, editores de, cobridores de outros tantos, e por aí fora ...façam um favor tremendo a uma raça que muito aprecio, DEIXEM-NOS EM PAZ!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ya sin pásion, yo no sé para qué sirve mi corazón

Cantava ela, esse frágil-forte "anjo errante".

Dos cartazes mais inteligentes na marcha da indignação que participei com toda a família : "desliga a Televisão, liga o cérebro" .

Assim seja. Hoje, em legítima defesa, longe do colossal robótico e retardado mental que numericamente nos desfaz contas à vida, afastado do coelhinho pascal que do chocolatinho branco prometido, vai desnudando de mentira em mentira as amêndoas amargas com que nos vai presenteando, longe do "numéricoignorantepedagógico" que de plano açaimado quer rebentar com a escola pública, longe enfim, do "plante que o João garante" que nem planta, nem garante ainda que seja repolho constitucional.

Longe destes medíocres, desta estardalhada de mediocridade política, destes cavalares comentadores picadoras falantes que nos vão furando tímpanos e paciência.

Sim... com Lhasa, com esse apaixonado pássaro-cristal de coração sensível que a vida levou para outras planuras, mas também com Patrick Watson e os Esmerine na sua homenagem-respiração " Snow day for Lhasa" que serve de fundo ao pequeno vídeo. Enfim, com esse livro de poesia tão rasante de beleza e inspirado em Lhasa " Small Song", de Renata Correia Botelho.

SOON THIS SPACE WILL BE TOO SMALL

ela já o sabia e deixou-nos,

na sua lucidez de pássaro,

várias pistas. recolhi por isso

o mais que pude - chuvas e mares

e a melodia verde da minha casa -

a caminho desta caixa,

que em breve será pequena

para tanta ventania.


junto aqui o meu

ao grande eco das colinas,

morro três vezes até traçar

no coração cansado do mundo

a minha rua. há pouco,

quando a terra começava

a correr-me quente nas veias,

disse devagar as três palavras

e tudo aconteceu exactamente como ela canta.

(Renata Correia Botelho)


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Estais de Acuerdo? Galopar é preciso

Enorme serenidade no meio da raiva que vai minando muitos. Fui sempre assim, de contrários. Onde se fervilha, gosto da acalmia, quando se estagna no mar da clama resignada da mediocridade, fervilho eu. Talvez por ser da área, tenho confiança na História, que longe do fim, se encarregará de forma mais ou menos violenta e sangrenta de não os exterminando, pelo menos colocar de diarreia do medo, todos os porcos que através do dinheiro, da exploração, da ditadura mascarada de democracia, esmagam, espezinham o Povo.


As grandes conquistas do Homem democrático e do mundo trabalho, seja o horário, o direito de contestação, o salário justo, a igualdade de direitos e deveres, a justiça, a educação, a saúde, etc, etc sabotadas por um punhado de merdelins políticos com assento “bruxeleante” e parlamentar que manobrados como marionetas pelos grandes e escondidos senhores das finanças e do dinheiro, se atiram ao voto do Povo como garantes e executáveis das vontade desse mesmo Povo.


O voto garante, e quando não garante, atropelam-se Constituições democráticas, mente-se desabridamente, servem-se mais altos senhores pelo medo, pela aceitação bovina de não existirem alternativas. Prometem-se mundos e fundos, o fim das crises, o felicidade ao virar da esquina, sabendo os responsáveis políticos que ao fim dessa mesma esquina se encontra o gangue da escroqueria internacional do capital e da escravatura, sem rosto e alma.


Um verdadeiro asco este governo, na mesma linha do nojo magnífico que foram os governos PS. E não sei porquê, perante as medidas anunciadas pelo “coelhinho pascal” naquele estilo de “tirar o chocolatinho que ia com a vovozinha ao circo”, imediatamente lembrei-me de dois poemas de Rafael Alberti. Aliás, um não me larga, (e emociona-me dito pelo poeta e cantado pelo Paco Ibanez) sempre que vejo esses inertes humanos e políticos que são Sarkozi,. Merkel, Zapatero, Papandreau e afins. São dois poemas datados? Como se a grande poesia pudesse ser datada!?


A sua mensagem intrínseca perdura como na Guerra-Civil espanhola, ou nos anos 40. É preciso mesmo “Galopar “,hasta enterrarlos en el mar “, é preciso mesmo lutar num imenso mar europeu, para mandar estes miseráveis para a cofragem dos paraísos fiscais. É que não podemos estar de acordo, pois se o estamos ou sentimos, então…”estáis todos de acuerdo con la muerte”.


Declaração de interesses desnecessária a quem foi lendo o meu blogue ao longo dos anos: não sou comunista, nem radical de esquerda, sou Cristão, e quero que vá à bardamerda quem cataloga um ser humano pela ideologia política, religiosa, cultural ou outra. Sou Homem em legítima defesa, comprometido com a humanidade/desumanidade do mundo e isso basta.

Estáis de Acuerdo
( Rafael Alberti)

Es más,

estáis de acuerdo con los asesinos,

con los jueces,

con los legajos turbios de los ministerios,

con esa bala que de pronto puede hacernos morder el sabor de las piedras

o esas celdas oscuras de humedad y de oprobio

donde los cuerpos más útiles se refuerzan o mueren.


Estáis de acuerdo,,

aunque a veces algunos de vosotros pretendáis ignorarlo.

¿Qué son esos silencios

esas caras de tempestad oculta,

reprimida,

cuando el mantel se abre ante nosotros lo mismo que un insulto,

igual que una limosna que nos ata a vuestro pobre pensamiento,

a vuestra bolsa despreciable siempre pendiente en vuestros ojos?


Estáis,

estáis de acuerdo.

No pretendáis negarlo.

Es inútil.

Hay que huir,

que desprenderse de ese tronco podrido,

de esa raiz comida de gusanos

y rodar a distancia de vosotros para poder haceros frente

y exterminaros confundiéndonos con los que hicieron vuestras fábricas,

labraron vuestras tierras,

agonizaron en vuestros dominios.

Porque es cierto que estáis,

que estáis todos de acuerdo con la muerte.

A Galopar

(Rafael Alberti)

Las tierras, las tierras, las tierras de España,
las grandes, las solas, desiertas llanuras,
Galopa, caballo cuatralbo, jinete del pueblo, al sol y a la luna.

A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar !
A corazòn suenan, resuenan, resuenan
las tierras de España, en las herraduras.

Galopa, jinete del pueblo,
caballo de espuma
A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar !

Nadie, nadie, nadie, que enfrente no hay nadie;
que es nadie la muerte si va en tu montura.
Galopa, caballo cuatralbo,
jinete del pueblo
que la tierra es tuya.

A galopar,
a galopar,
hasta enterrarlos en el mar !





quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Tranströmer Tomas


Vejo na SIC a inefável Inês Pedrosa, directora da casa Fernando Pessoa ou lá o que é, e rio à gargalhada. Que não conhecia, que foi ver uns poemazinhos , mas que a tradução isto e aquilo, e a conversa a desviar para o Nobel literário ser mais "homenzarrão" do que feminino e isto e aquilo. Lembrei-me do "porque não te calas", mas também do provérbio chinês "Sabes porque é que o bombo faz tanto barulho? - porque é OCO". Para que vai uma pseudo-intelectual a uma TV falar do que não conhece, não sabe, nem sonhava que existia? Não bastava o "pivot"? Era preciso o "pechisbeque intelectualeiro" para dar encenação à cena? Bolas! Já não bastava o translúcido Viegas a secretariar?

Pois bastava à dita cuja ter um pequeno e belíssimo livro que qualquer biblioteca mediana de poesia deveria ter, para fazer vistaço. "21 Poetas Suecos" da Vega, com traduções chanceladas e magníficas de Almeida Faria, Ana Hatherly, Casimiro de Brito, Teresa Salema e Vasco de Graça Moura.


Sim, um extraordinário poeta, que devido a este livro comecei a seguir em inglês e francês, principalmente através dos paperback da Bloodaxe, ou da Castor. Poeta da concisão, sim, mas também do fôlego e do fulgor que só um fractal de momento pode trazer. Lembrei-me da Gabriela LLansol - um poeta de cenas fulgor. Um poeta luminoso de sombra, das grandes paisagens e metrópoles, reduzidas a um dentro contar-se. Um poeta de fina ironia recusa do lugar comum, de "resistência" pelo belo da palavra.

9 poemas desse livro:

As pedras

As pedras que lançámos, ouço-as
cair claras como o vidro pêlos anos fora. No vale
voam agitados os gestos do momento
gritando de copa para copa, calando-se
ao fino ar desse momento, deslizando
como andorinhas de cume para cume até alcançarem
os planaltos extremos
ao longo da fronteira da existência. Aí caem
claros como o vidro
os nossos actos
ao encontro apenas do chão
que nós próprios somos.

( trad: Teresa Salema)

Kyrie

A minha vida às vezes abria os olhos no escuro.

Uma sensação de multidões arrastando-se por ruas,

cegas e sem descanço, no caminho para um milagre,

enquanto eu fico aqui, invisível.

Como uma criança que adormece aterrorizada

à escuta dos passos pesados do coração,

até que a manhã ponha o seu raio de luz nos fechos

e as portas da escuridão se abram.

(V.G.M.)


Aquele que acordou com o canto sobre os telhados


Manhã, chuva de Maio. A cidade está calma

como uma cabana. Ruas tranquilas. No céu

troa azul-verde um motor de avião—a janela está aberta.

O sonho onde se dorme de membros estendidos

torna-se transparente. Move-se, tateia

pêlos instrumentos da visão — quase no espaço.

(T.S.)

Lisboa


No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam

[nas calçadas íngremes.

Havia lá duas cadeias. Uma era para ladrões.

Acenavam através das grades.

Gritavam que lhes tirassem o retrato.

«Mas aqui», disse o condutor e riu à socapa como se

[cortado ao meio,

«aqui estão políticos». Vi a fachada, a fachada, a fachada

e lá no cimo um homem à janela,

tinha um óculo e olhava para o mar.

Roupa branca no azul. Os muros quentes.

As moscas liam cartas microscópicas.

Seis anos mais tarde perguntei a uma senhora de Lisboa:

«será verdade ou só um sonho meu?»

(V.G.M.)

Allegro

Toco Haydn depois de um dia sombrio

e sinto um calor simples nas mãos


Há um querer nas teclas. Brandos martelos batem.

O som é verde, tranquilo e animado.


O som afirma que a liberdade existe

e que alguém não paga a César os impostos


Enfio as mãos nas minhas algibeiras de Haydn

imito alguém a olhar o mundo calmamente.


Iço a bandeira de Haydn — quer dizer:

Nós cá não nos rendemos. Mas queremos paz.


A música é uma casa de vidro no declive

por onde pedras voam, pedras rolam.


E as pedras atravessam as vidraças

mas cada vidro vai ficando intacto.

(V.G.M.)

Quando a neve derreteu 66


Queda precipício de água ruído velha hipnose.

O rio inunda o cemitério de automóveis, brilha atrás das máscaras.

Seguro-me ao parapeito da ponte.

A ponte: um grande pássaro de ferro que veleja

[pela morte.

(T.S.)

O casal


Apagam a luz e o vidro branco da lâmpada cintila

um momento até se dissolver

como uma aspirina num copo de breu. Então elevam-se.

As paredes do hotel deslizam para o céu escuro.

Os gestos de amor esbateram-se e eles dormem

mas os seus pensamentos mais secretos encontram-se

como duas cores que se encontram e penetram

no papel molhado de um desenho infantil.

Está calmo e escuro. Mas esta noite a cidade

aproximou-se. Com janelas apagadas. As casas vieram.

Uma multidão de rosto inexpressivo

mantém suspensa a sua vigilância.

(T.S.)

Montes negros


Na curva seguinte saltou da sombra fria da montanha

o focinho virou contra o sol e rugindo rastejou para cima,

íamos apertados no autocarro. Também lá estava o busto

[do ditador

envolto em papel de jornal. De boca para boca ia uma

[garrafa.

O sinal de morte crescia em todos a diferentes

[velocidades.

No cimo das montanhas o mar azul agarrou-se ao céu.

(A.F.)

Citoyens


Na noite depois do acidente sonhei com um homem

[bexigoso

que caminhava nas vielas cantando.

Danton!

Não o outro — Robespierre não faz passeios desses,

Robespierre faz a sua meticulosa toilette uma hora

cada manhã. O resto do dia devota-o ao Povo.

No paraíso dos panfletos, entre as máquinas da virtude.

Danton —

ou aquele que trazia a sua máscara —

parecia alçado em andas.

Vi a sua face desde baixo.

Lua bexigosa, metade luz, metade luto.

Eu queria dizer qualquer coisa.

Um peso no peito, peso

que faz avançar os relógios,

rodar os ponteiros: ano 1, ano 2...

Um cheiro intenso como serradura na jaula dos tigres.

E—como sempre no sonho—nenhum sol.

Mas os muros brilhavam

nas vielas que viravam

descendo para a sala de espera, a sala curva,

a sala de espera onde todos nós...

(A.F.)

PS. Pode ser que para o ano ganhe o maravilhoso Sándor Kányádi, e talvez um inefável MST, ou um qualquer Arouca, ou mesmo uma alforreca MRP, estejam numa TV perto de si num plano aplainado a "arrotar" pescadinhas fritas à la nobel!

Como sinto falta de vós Pacheco e Cesariny!