segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

DIRETORES, FÁBULAS, SURREALISMO e...afins


Não sei quem são, não os conheço nem nunca me foram apresentados. Não me interessa muito sabê-lo, muito menos conhecê-los e prazer nenhum em apresentações. Refiro-me aos presidentes das ANDAEP e da ANDE, cavalheiros mui dignos, nobres e leais das respetivas associais de diretores/dirigentes escolares. Hoje numa entrevista ao Correio da Manhã, o presidente da ANDAEP, a fazer fé nas suas palavras e como lídimo representante de muitos diretores, mostra a sua mágoa pelo tratamento a que os Diretores estão a ser sujeitos pelo atual ministério, não deixando até pelo meio de dar um rasgado elogio a uma “maravilhosa ministra” que era um poço de diálogo e até candidata á santificação. Depois a ameaça: que muitos diretores se vão demitir no final do ano letivo.


O diretor da ANDE é comedido, ponderado, mas o da ANDAEP gosta do "foguetório", das luzes da ribalta. Tenho aqui algumas entrevistas deste senhor noutros órgãos de comunicação verdadeiramente inacreditáveis e atentatórias da minha classe docente. Aliás este senhor fala sobre muita coisa, muito, demasiado mesmo... e mal. E quando digo mal, digo mesmo mal, num estilo entre o parolo e o deslumbrado que me surpreende para um diretor de uma associação deste calibre. Era preciso mais classe, mais “savoir faire” e sobretudo mais perceção da classe da qual parece estar afastado , mesmo não estando: Os professores.


Fartei-me de chorar com as suas palavras e até disposto a colaborar para um qualquer fundo de maneio para ex-diretores. Não, caro senhor…os problemas dos diretores e o chorar crocodilório de alguns tem dois nomes: mega agrupamentos e a sua avaliação de desempenho, que desagradou a dezenas e dezenas. Ora pois… vão regressar à origem, ao duro da vidinha, aquilo que nunca gostaram: a sala de aula! Tenho a certeza que alguns até regressarão com alívio para o que efetivamente sempre gostaram: ser professores, mas para muitos outros, será um verdadeiro suplício de tântalo, passar para o lado plebeu da classe. Se calhar as reformas antecipadas dispararão para ex-diretores…se calhar! Quanto às avaliações, “temos pena” , mesmo muita pena, porque isto de cotas e sentimentos de injustiça “cota” a todos” . Chatice que não mostrassem todo o seu empenho e vontade de demissão quando a malfada e miserável ADD se foi entronizando como erva daninha na classe docente. Chatice que nem agora com a avaliaçãozinha docente estilo ovelhita clonada da outra, se ouvissem grandes arrebiques de indignação dos excelentíssimos diretores! Chatice! Mas paciência: Nadem. Existe um ditado brasileiro engraçado para o dilema de alguns diretores: “em rio que tem piranha, jacaré nada de costas” – o problema de muitos é que gostaram sempre de ficar à margem.


Depois…depois o célebre 75/2008! Posso estar errado, mas não conheço nenhuma posição pública nem de diretores nem das suas associações sobre este documento. Este decreto sempre o considerei ilegal porque em contraditório flagrante com a LBSE. Um ou dois colegas (nomeadamente o Paulo Guinote) mais avisados e argutos na blogosfera docente, encarregou-se e bem de demonstrar e desmontar o equívoco, o disparate, mas muita gente confundindo amizades ou porreirismos, ou até “sucessões naturais”, com legalidade, não antecipando cenários ou mudanças, achou um mal menor e questão de “lana caprina” no meio da luta acesa contra o modelo de avaliação. Assim ficou…gostava que assim não ficasse.


Quanto às ameaças de demissão de muitos diretores, não me surpreende. Desde menino que adoro uma fábula de Esopo celebérrima: a Raposa e as Uvas ! São verdes, senhores, são verdes!


E não sei porquê, amante que sou do surrealismo português, com uma gargalhada, lembrei-me agora de um conto lindíssimo de Mário Henrique Leiria, inserto no seu “Contos do Gin Tónic”


HISTÓRIA EXEMPLAR
.
Entrei.
– Tire o chapéu – disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
– Sente-se – determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
– O que deseja? – investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí
.
[Mário-Henrique Leiria, in Contos do Gin-Tonic, 1973]


3 comentários:

IC disse...

Acabei de te ler a rir (andamos a precisar tanto de conseguir rir...) com essa história dos contos do M H Leiria (que tenho algures mas de que só me lembro que me deliciaram na altura em que os li)
Bem precisados andamos do teu humor, caríssimo EI.

professora disse...

Divertido e oportuno. Acho que muita gente teria vontade de fazer o mesmo: dar duas lostras em muito boa gente. Também gosto da fábula da raposa e das uvas, com uma pequena variante " são verdes, senhores, não prestam", diz a raposa para justificar a sua incapacidade de chegar as uvas que estão muito altas.

Raul Martins disse...

e... afins!
...
E não podemos ficar à margem!
...
Carpe diem!