terça-feira, 13 de novembro de 2007

Uma Professora...

Como podem ver no meu perfil, sou Professor e dos tais titulados, ministerialmente falando. È curioso, que vai para quase trinta anos de carreira e quase outros tantos de reflexão sobre a minha profissão, o ter agora filhos adolescentes e ser Encarregado de Educação me tenha feito uma confirmação do que se confirmando foi, acerca da minha classe (palavra perigosa). E o que fui constatando e continuo a constatar na docência, é que desejava ardentemente ter visto claramente visto, mais do bom que vou vendo e muito menos do mau que vou enxergando. Talvez, numa postagem futura me dedique mais a esta temática, porque a de agora é do Bom, do Melhor dessa mesma classe, e de uma homenagem a uma docente que recentemente se Jubilou (não gosto do termo reforma, pronto!), que por acaso era Professora da minha filha e que por acaso, a única até hoje, por quem a minha filha chorou e que a marcou profundamente. Homenagem, não como colega de Profissão, mas sim como Pai, que muitas vezes ouviu da filha M. esse sopro de liberdade, de inteligência, de cultura que eram as aulas desta docente.
No Alexandre Herculano do Porto, uma Professora de Filosofia a receber a “ordem de despacho” e pancadinhas oficiais nas costas do estilo, gostamos de a ter ao serviço – Vá lá à sua vida – e uma turma de “putos” adolescentes a comoverem-se na sua ida, no seu partir, e ela a comover-se com Eles, que a guardaram, preciosidade no lado bom do coração. E uma filha descoroçoada de tristeza, quase sentimento de “orfandade” pela sua partida. Sentada no sofá, cabeça enfiada nas pernas, naufraga de perda e já saudade. Ia perder a sua Professora de Filosofia, a única que a marcou, qual ferrete gravado a fogo de afecto, como o tinham sido duas Professoras no 1º Ciclo e uma outra no 2º e 3º Ciclos. Mais ninguém! Como afirma de alguns seus pretéritos Professores, vai-os esquecendo, de outros, quer mesmo esquecê-los e…ela lá saberá porquê! Comovida até ao âmago de uma alma adolescente, e eu comovido nela e por ela, e sei bem porquê, mas não digo! Comovido, mas feliz, pela afectividade sensível e crítica da minha M. e pela Professora de Filosofia que se calhar nem saberá (ou saberá?) que página escreveu no livro interior da minha filha!
Depois de um abraço profundo, consolei-a, apontando-lhes os dez dedos da mão, dando-lhe a entender que chegavam e sobravam para os Professores que me marcaram profundamente ao longo de toda a minha vida de aluno. Sorriu, já sabia, conhecia o nosso código de creditação docente!
Da colega jubilada, apenas um fugidio conhecimento de minutos, nas matrículas de Junho, mas o estilo de aulas de Filosofia contada por M cá na Tribo, daquelas a apetecer, a partir à desfilada do conhecimento e do crescimento, como devem ser as aulas de Filosofia (ou todas?). Do afecto e trato dócil, mas firme com os alunos, a humanidade em pessoa, e sobretudo, a humildade socrática do seu saber filosófico que nada sabia, sabendo muito. Assim uns dias antes, resolvi escrever-lhe uma carta de reconhecimento profundo como Encarregado de Educação, o que talvez possa parecer pouco ortodoxo, mas que em legitima defesa, se foi impondo dentro de mim, quase como “Allegro com Brio” . Aqui vai pois esta carta, como símbolo de homenagem a uma Grande Professora, que de certeza sabe que valeu a pena Ser, e caminhar sempre no caminho nunca atingível de ser quase uma boa Professora, como me ensinou um dos meus primeiros mestres da docência, Sebastião da Gama!

“Ex.ª Sr.ª PROFESSORA: M.C Venho por este meio e à maneira antiga, agradecer-lhe todo o trabalho, empenho e paciência que teve com a minha filha, M. ao longo deste ano e tal que ela teve a sorte de a ter tido como docente! E sobretudo, como Encarregado de Educação quero-lhe manifestar a minha profunda alegria e gratidão por ter a ajudado a M. a crescer, a tornar-se mais consciente, mais crítica, mais reflexiva, mais sensível, mais humana, em suma. E nem podia ser de outra forma, ou não seja a Professora M.C docente de uma das disciplinas/ formas de conhecimento mais fabulosas que conheço – a Filosofia, e a M. adorou e adora Filosofia. E mais…ainda…e não menos importante para mim, como Encarregado de Educação, pelo que a M. sempre me contou: Obrigado por ter transformado as aulas de Filosofia naquilo que elas formam para a M. – Janelas Abertas em Si, para Fora de Si! Espaços de Liberdade de pensar, de beber palavras, transmudando-as em fontes de…, fazendo-a duvidar, ter certezas - incertas, ânsias de saber! As suas aulas, muitas vezes… céus, por onde a minha “Icarozinho” M. voou em liberdade e isso foi bom e isso se calhar, bastou-lhe!
Obrigado pois, por não ter transformado a Filosofia, e sobretudo as suas aulas, em exercícios monódicos, implacáveis e fastidiosos de tédio, de lugares-comuns, de conformismo reaccionário de aceitações, de saberes embalados prontos a serem consumidos! Obrigado por ter sido Humana, Sensível, e ter olhado a M. e os seus alunos, não um número de pauta, ou de ordenação de lista nominal, mas como Mestra, Companheira de jornada!
Tenho pena que se Jubile? Sim e Não! Merece-o sem dúvida e o rastro – lastro que deixou na M., e cá na nossa Tribo, é como cauda de cometa – agarramo-nos nele como sonho, como memória, como coisa boa de guardar no lado bom do nosso coração! Ex.ª Sr.ª Professora M.C, a Sua simpatia, a Sua humanidade, o Seu saber que nada sabia, sabendo bastante, cativou a M. e cativou-nos pela forma de cativar a M.! Agradeço aos deuses, ter sido Professora da Minha Filha, agradeço-lhe comovido por ter sido sobretudo UMA PROFESSORA …SENDO!
Na sua “Jubilação” um muito Obrigado de Júbilo, do Encarregado de Educação da M “

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