Music For a While é "imagem de marca" de Deller e o "descendo" "Tears drops desta canção é ...
Do Youtube esta canção e uma homenagem a Deller. Para o Raul e o Fernando acabarem bem o Fim-de-Semana.
Vou contar um segredo...
Eu tenho uma árvore na minha escola. Na minha escola eu tenho uma árvore. É simples, pobre, frágil, mas eu tenho uma árvore na minha escola.
A minha escola tem dezenas de árvores, mas eu tenho esta árvore na minha escola.
Não lhe sei a espécie arbórea , mas sei o nome que lhe dei por baptismo : “ Pathosonírica”, mas por mútuo acordo, não posso revelar as razões deste estranho nome. Ela aprovou, pareceu-lhe clássico e misterioso ao mesmo tempo.
Não sei bem ao certo quando começou, talvez três quatro anos atrás, mas sei como começou: numa tarde quente de cansaço do falabaratar e entristecer naquilo a que chamamos a nossa sala, a necessidade de fuga, de espaço de respiração mais amplo, mesmo murado em quatro paredes. Há dias assim.
E reparei nela. Nem sequer foi amor à primeira vista. Foi um encontro casual, seguido de outros encontros confirmação, para se tornar numa espécie de cumplicidade, de afagos de silêncio. O meu estar no meu silêncio na complacência do silêncio dela. Nunca me exigiu nada em troca do marulhar das suas jovens folhas em brisa leve, da sua sombra, do canto de algum pássaro mais arisco nos seua ramos. Fui ficando no seu deixar-me ficar. A ternura foi nascendo, subtil, clara, adágio molto.
No início um ou outro colega de Educação Física, alunos e alguns funcionários estranharam, depois entranharam. Na sua estrazenha perceberam que eu tinha uma árvore na minha escola. Creditação de algum prestígio acumulado de quase quinze anos na minha escola, evitou certamente a ideia de insanidade mental. A “boa ideia”, “tá-se bem, Prof”, de alguns comentários, sucedeu-se a normalidade de uma a duas vezes por semana, ser normal um determinado professor ter a sua árvore, ou talvez a poética de uma determinada árvore ter direito a um professor.
E no dom de uma árvore acolher um professor, está o encosto ao seu frágil tronco, o sombreá-lo em dia de sol intenso, assistir à sua prostração na tristeza da neutralidade de alguns dias, ou simplesmente deixá-lo sonhar olhando nuvens marotas,brancas, abstractas ou figurativas, a brincar naquele mar de cima.
A minha árvore, miradouro previligiado d’Eles, mesmo sem subir aos seus ramos. As suas brincadeiras, as suas aproximações, os seus contactos desajeitados uns, timidos outros, alguns brutos, mas tão bons e diferentes dos virtuais e teclados, a tudo olhei silenciosa e compreensivamente. E os seus ser “Undertakers” e John Cena” e “Batista” e as aplicações perigosas por ingénuas de “spears”, de “shokeslam” na caixa de saltos em areia no campo de jogos, os seus imaginários Bryant, Pierce ou Ray Allen, da sua imaginária NBA nos cestos rotos do mesmo campo, os seus quererem terem pés à Cristiano Ronaldo, ou toque de magia à Ronaldinho, nos seus maneios de dança de Cristina Aguilera, ou Shakira, D’ Zrt ou Just Girls, a tudo eu e a minha árvore fomos assistindo, piscando-nos o olho de quando em vez.
Mas fomos também estristecendo com a tristeza de alguns que sozinhos pareciam carregar todo o peso da diferença e da condenação de não serem ou puderem igualar os seus pares. Marcados, pela simples razão de serem “desmarcados”, por não possuirem as “Van”, ou as “All Stars”, ou “Gola”, ou “Timberland”, ou porque se era “gordéfia” ,“baleia” , “tótó”, “beto”, ou não serem autorizados pelos pais ao “anilhamento” de brinco ou piercing, ou simplesmente porque aos olhos do espelho da turba-grupo não se é abençoado pela graça dos deuses no corpo ou beleza premeditada e imposta por quem não de direito. Por vezes humilhados, enxotados, quase empurrados desde o início do campo de jogos até perto da minha árvore, quase “animais escorraçados”, e muitas vezes num desespero, numa dor interminável , explodirem em lágrimas que teimosamente procuravam conter.
Aqui e ali, medições de força, ao jogo de quem empurra mais forte-ganha, ou ao jogo do “meco”, incompreensível até eu o compreender, com que alguns “heróis” mimoseavam algumas raparigas, que junto à rede terminal das balizas, eram bombardeavas com boladas de couro chutadas com toda a violência no intuito de lhes acertar e, algumas acertavam, magoando-as, mas elas não fugiam, nem pareciam amofinar-se muito, mesmo que o seu esgar de dor mostrasse que tinha doído. Um sorriso inconsciente e um “estúpido “ muito ao de leve, mostravam que os “heróis” lhes ligavam, que eram preferidas, que alguém lhes dignava uma atenção, mesmo pela dor. O prelúdio do “célebre” e miserável “quanto mais me bates mais gosto de ti”. Ali, numa conversa com uma minha aluna, a confissão cruciante que a primeira coisa que fazia quando acordava era ver se tinha mensagens no telemóvel . E mesmo tendo: “ Então vaca dormiste bem?”, isso era sinal que alguém se tinha lembrado dela.
Aqui e ali, mas muito raramente, umas mãos dadas, um afago, uma festa, o beijo dado na hora, o namorar. E namora-se tão pouco na minha escola, nos bancos da minha escola , à sombra das árvores da minha escola! E isso seria tão bom para a disciplina, e para acalmar hormonas e sentimentos de desafecto, perda e raiva. Pouco, muito pouco, mais em horda, em grupos alargados e barulhentos, onde se berra, onde pouco se diz, onde o pudor de um olhar, a disponibilidade de um ouvir, se diluem em gritarias histéricas, em gritos infantis, em onomatopeias e abreviações que escondem um não saber vocabular de comunicar, quando não pobreza afectiva dolorosa. E até parecem felizes
Gabinete de trabalho também,muitas vezes em tempo bom, o meu local de Coordenação , da papelada mais ou menos burocrática, de trabalho mais ou menos curricular, de reflexão na minha sempre (in)constante formação profissional. De tecnologia mais ou menos avançada, de dossiê mais ou menos maçudo, mas sempre com gigabytes de melodias de Bach, Coltrane, Drake, Tabor, Loreena, Sill, Innocence Mission, and so on. Um dia coloquei-lhe o phone do meu creative no esguio tronco, abanou os ramos num sussurro, não sei se cócegas, se aprovação pelo “Els Ulls” da Ariana Savall. Tudo suporta a minha árvore que tenho na escola.
Eu tenho uma árvore na minha escola. Na minha escola eu tenho uma árvore.
Mas não sou invejoso nem ciumento. Tempos houve que de bom grado aceitei a sua infidelidade, o seu alheamento de mim. Por vezes nos tais dias e horas de encontro, traiu-me com outros, fossem alunos solitários de sofrimento, fossem casais apaixonados em beijos sôfregos adolescentes, ou risos francos e gaiatos da miudagem apardalada misturados à revoada da passarada que a ela se acolhia.
Agora, infelizmente para os dois, muito mais fiel , mas também mais sós. Não que a minha árvore não continue sedutora, mas agora pouca visitação tem e quase nenhuma observação d’Eles consigo. Agora os poucos beijos são fugidios de intervalo, as solidões esparramam-se por paredes, corredores e cantos de portas de salas de aulas, o tempo dos afectos, do olhar, do silêncio, do ouvir, de deitar para fora angústias, tristezas, cansaços, pede meças ao tempo, porque não há tempo. Vive-se nos intervalos do tempo, ama-se, afecta-se no tempo dos intervalos , que são tempos intervalares de quase nada.
Como se não bastasse para os rebentos o familiar e amoroso tocar piano, o falar francês, que agora é inglês, o ballet, o desporto, tiraram-lhes quase tudo, com escolas com espaços feios até dizer basta, com 15 disciplinas no 3º ciclo, com trabalhos de casa sem nexo, com as inefáveis e safardanas aulas de substituição, e preparam-se para as actividades extra-curriculares. Dizem que é escola a tempo inteiro. Será! Será? Será de panela de pressão até rebentar, será uma escola a preparar-se para o grau zero dos afectos. Ocupação máxima para pensamento mínimo, estourá-los pela exaustão, amansá-los pelo espartilho do saber compartimentado, pelo crescer acrítico, pela não cultura, pelo triste do “tê-los ocupados –podemos estar descansados”. Não se educa pela ocupação, educa-se pelo coração.
O que daí virá, o tempo se encarregará de demonstrar. Talvez...talvez num tempo imediato, a indisciplina e e os focos dela, mesmo a violência, a crescer como cogumelos, a desmotivação e o cansaço a invadir corpos e corações, as soluções sejam tecnológicas, policiais, tribunalícias, a esvair-se no próprio complexo de serem soluções. Num tempo futuro, talvez aquilo que quase sempre fomos: um país tristonho, arredio de futuros, adiado consecutivamente, de costumes brandos e calaceiros. E vamos admirar-nos? Afinal o que vamos dando a esta miudagem? Que temos para lhes mostrar que os apaixone tanto? Muitos de nós damos-lhes precisamente aquilo em que eles se revêem: a irracionalidade, o juízo fácil, o egoísmo mais larvar, o objectivo do objecto, a vida gelatinosa que escolhemos.
Mas isto são pensamentos que vou confidenciando à minha árvore, porque :
Eu tenho uma árvore na minha escola. Na minha escola eu tenho uma árvore.
E recentemente andamos tristes, eu e ela. Pelo que escrevi e porque não encontramos respostas para tanta solidão. Antes das férias da Páscoa e durante uma hora entre reuniões, perguntou-me porquê e não lhe soube responder. Fartou-se de rir quando tentei ser poético e lhe respondi que muitos políticos, alguns pais e professores, não conseguem ser” Homens que têm árvores na cabeça” , mas lá me desmascarou dizendo-me que aquilo não era meu. Confessei-lhe que não, que tinha sido surripiado a um livro que os meus filhos adoram do Jorge Letria. Quis saber a História e eu que não, que a reunião do CEF, aproximava-se, e ela que abreviasse , e eu abreviei. Ela adorou. Depois despedimo-nos, não sem antes na fresca brisa da tarde a ter ouvido sussurrar : Existente Instante, o problemas deles não é ter uma árvore na cabeça, é... não terem raízes no coração.
Sorri-lhe e alguma coisa se prendeu em mim. Não sei se no coração, se nos olhos.
Já agora. Isto é um segredo. Não vá num futuro próximo algum inspector querer ser convidado a inspeccionar o meu “gabinete de trabalho”. Ali só teria para lhe presentear a minha “arfólio” – Phatosonírica, e não sei se ela estaria muito interessada nisso, e se ele não me mandaria por antecipação para o quadro de mobilidade especial, porque:
Eu tenho uma árvore na minha escola. Na minha escola eu tenho uma árvore.
Existente InstanteOs alunos não aprendem e a culpa é dos professores que não sabem ensinar??!!!
Esse foi o lema durante o meu estágio feito há mais de 20 anos!
Durante uma aula assistida, um aluno perguntou-me que horas eram, e aqui d’el-rei que o menino estava enfastiado! Para bem dos meus pecados ainda tinha 27 alunos interessados na aula, que me valeram para “abafar o incidente”!
Como “o professor é um actor”, fazia-se o pino, entoavam-se as palavras, passeava-se pela sala organizada em grupos de mesas, gesticulava-se, levavam-se resmas de imagens, bonecos, retroprojector, diapositivos… cada aluno era um mundo e o professor tinha que se desdobrar por 28 / 30 pequenos mundos por hora…
Não interessava muito o produto final, mas sim os processos, os percursos que cada aluno percorria durante o ano lectivo.
Trabalho de Projecto; trabalho em grupo; pedagogia Freinet; nada de autoridades; muita motivação; as aquisições não são obtidas pelo estudo de regras e leis, mas sim pela experiência; o fracasso inibe, destrói o ânimo e o entusiasmo… enfim tudo era motivador.
Cada Unidade de Trabalho começava sempre por “sensibilização dos alunos ao problema de…”
E os alunos ficavam sensibilizados.
Resultou? Sim resultou. Durante muitos anos este tipo de pedagogia resultou nas minhas aulas e nas dos meus colegas. Os alunos respondiam aos desafios, experimentavam, eram curiosos, interessados e aprendiam.
E agora? Como é agora?
Se na pedagogia Freinet tudo era centrado nos interesses das crianças, porque é que agora não resulta? Quais são afinal os interesses das crianças e dos adolescentes de hoje? Passou quase um século, desde Freinet… Agora os interesses mudam todos os dias. Mudam muito mais depressa do que antigamente. Mudam dois dias antes de se pôr em prática a melhor pedagogia, a melhor metodologia, as melhores estratégias…
Ah! O zapping! Agora está na moda o zapping!
Hoje gosta-se disto, amanhã gosta-se daquilo. Não presta, deita-se fora, troca-se, compra-se novo, desfaz-se, muda-se de emprego, de casa, de canal de TV, de marido, de mulher, de amigos… tudo ao alcance de um click!
Estamos na era do zapping, do imediatismo, do facilitismo, “do quero ter já e depois logo se vê”!
As novas tecnologias, os novos sistemas de comunicação, entram-nos pelos olhos, pelos ouvidos, pela nossa casa dentro, todos os dias e a toda a hora. E não é mau. Usamo-las. Já não dispensamos o nosso ipod, a Tv, o PC, o telemóvel, o pocket PC, o iphone, a PSP, a pendrive… e tantos outros gadgets que nos inundam o dia a dia.
E de repente, toca para a aula e entram-nos 20/30 alunos por uma porta que se sentam em frente de um quadro negro (ou verde), virados para uma criatura que os proíbe de utilizar os Mp3 e os telemóveis, e lhes pede que estejam sentados a conjugar os verbos, a fazer equações, a ouvir contar os descobrimentos…
E eles que já nascem com a cabeça levantada, que com menos de um ano de idade percorrem os corredores dos hipermercados em alcofas e cadeirinhas penduradas nos carrinhos de compras, a levar com outdoors, cartazes, luzes, sons …
Eles que desconhecem o que quer dizer “concentração”, porque já nascem com “concentração dispersa”, eles que conseguem estar atentos a 4 ou 5 coisas ao mesmo tempo, eles que já nascem hiperactivos, têm que permanecer sentados numa sala de aula a aprender matérias que não percebem bem “para quê?”
Para quê ler, se viajam mais e melhor através da Net?
Para quê memorizar aquela quantidade de nomes ou a tabuada, se pode estar ao alcance de um click? Para quê?
Hoje já não “disfarço” os conteúdos como antigamente fazia. Eles não gostam. Acham que é tratá-los como atrasados mentais. E têm razão. Para quê projectar “a caixinha” na aula de Matemática, que é construída em Ed. Tecnológica, é pintada na aula de Ed. Visual, é cantada em Ed. Musical, é escrita no Português, traduzida em Inglês e reciclada em Ciências Naturais?
Dar “a seco” os conteúdos, porque afinal assim eles “sabem” o que estão a aprender.
Também já há salas repletas de computadores, onde os alunos se atiram vorazmente a cada PC, surfando indiscriminadamente na Net ou utilizando o MSN e outros programas do género, onde costumam passar horas a conversar com os próprios vizinhos do lado…
Já não conversam muito entre eles. Falam teclês na Internet, por SMS…
Afinal o que é que querem?
Quais são os seus interesses?
Porque é que as famílias os depositam nas escolas onde sabem estarem seguros?
Porque é que ao mesmo tempo certos pais desvalorizam a escola?
Porque é que os alunos não aprendem?
O que é que afinal quereriam aprender? Ou deveriam aprender?
Porque estão cada vez mais agressivos, mais violentos?
Porque é que os pais não os educam?
Porque é que os profs têm que “tomar conta deles” mesmo depois das aulas?
Porque é que muitos têm famílias desestruturadas e por isso mesmo gostam cada vez mais da escola, do recreio da escola?
Porque é que os profs têm que competir com a televisão, os MP3, os computadores…. etc?
Porque é que já não conseguimos sensibiliza-los para nada?
Porque é que já não se encantam com um bom livro que a professora lhes mostrou? Uma imagem? Uma exposição? Um filme? Uma aula que levou horas a preparar?
Afinal temos que competir com os gadgets que eles trazem no bolso?!!
Afinal para que é que todos temos o telemóvel no bolso, se temos que o ter desligado?
E se o meu filho precisa de mim e telefona? E a minha mãe, que está doente e sozinha?
E porque é que não posso ouvir música ao mesmo tempo que o prof. fala, se lá em casa todos trabalham no PC, com a TV ligada, o CD a tocar, os miúdos a gritarem….?
A comunicação mudou.
A comunicação mudou?
As matérias são uma seca. A professora é uma seca. Diz o meu filho em casa.
Temos que pensar o que é que queremos. Não para amanhã, mas o que queremos para daqui a 10, 20 anos.
Temos que reflectir sobre muita coisa.
Temos que reformar muitas coisas.
Temos que nos actualizar.
Temos que aprender outras coisas.
Temos que ouvir os adolescentes de hoje.
Temos que ser ajudados.
Temos que nos entre ajudar.
Temos que nos equipar.
Temos que experimentar outras coisas.
Temos que “inventar” novas aulas, novas salas de aula.
Temos que nos adaptar aos novos alunos, às novas famílias, às novas profissões, aos audiovisuais, às novas formas de comunicação, até ao zapping!
Temos que aprender novas maneiras de ensinar.
Temos que aprender novas maneiras de aprender.
Mas, de repente, cai-nos um país em cima que diz que está tudo mal e que a culpa é nossa e por isso temos que ser castigados!
Também somos pais, que diabo!
Acabo de ver na Internet o tal vídeo da aluna aos gritos e puxões à professora, só porque esta lhe retirou o telemóvel enquanto decorria a aula. Uma turma inteira a faltar ao respeito a uma professora, que tenta desesperadamente desempenhar o seu papel, que com certeza já trabalha há muitos anos. Reparo agora que não é só este, mas centenas deste género de vídeos que mostram cenas em salas de aula onde se passa tudo, menos ouvir o professor! São escolas em Portugal, em Inglaterra, no Brasil e pelos 4 cantos do mundo. Mas afinal o que é que se está a passar?! De repente todos os professores perderam a autoridade na sala de aula?! E os valores? Ainda são os mesmos valores que perduram? Respeito é sempre respeito. Falta de respeito há 20 anos é a mesma falta de respeito hoje?
Aqui em Portugal, de há 3 anos para cá tem sido uma alegria com alguns políticos a denegrirem a imagem dos professores. Nos outros países não sei. Será que a culpa é dos telemóveis?
São verdadeiros génios os professores que conseguem manter a disciplina e o interesse dos alunos (uma turma inteira – 28 alunos) numa sala de aula durante um dia!
Perguntemos aos pais de hoje se conseguem manter os vossos filhos quietos sentados à mesma mesa a conversar? Quanto tempo dura o vosso jantar lá em casa? No meu tempo era a hora sagrada em que estávamos com os nossos pais a conversar à mesa.
São os vossos próprios filhos – devem conhecer-lhes os interesses, caramba! Quanto tempo conseguem estar à conversa com eles, ou a ensinar-lhes qualquer coisa? Nem que seja só as boas maneiras? Quanto tempo conseguem prender a atenção dos vossos filhos adolescentes?
É que eu já tenho dificuldade em fazer isso mesmo com os meus próprios filhos!
Então, percebam o que é que se pode conseguir sem equipamento nenhum. Só com uma sala cheia de mesas e cadeiras, um quadro negro de giz… e 28 pessoas diferentes.
Entretanto proliferam livros e documentários sobre pequenas crianças ditadoras e pais que pedem ajuda… O que é que se passa afinal?! Os pais estão a demitir-se e pede-se à escola que os substituam também?
São tantas as questões que gostava de ver debatidas, analisadas, reflectidas em conjunto com pais, professores, alunos, governantes…
Claro que queremos ser avaliados. Claro que temos sido avaliados. Há listas de graduação a nível nacional. Estágios, formação anual, antiguidade… más condições e péssimos salários, agora congelados…
Para quando as Reformas a sério?
Uma coisa eu tenho a certeza, não se conseguirá nada sem o envolvimento de todos.
Sou mãe de 3 filhos e professora há 28 anos. Nunca tive problemas de indisciplina nas minhas aulas, mas tem-me saído do pêlo e do tempo que tiro à minha própria família, dedicando-me à escola a tempo inteiro, mas até quando?
Os alunos que me aparecem nas aulas são cada vez mais problemáticos. O seu desinteresse, a falta de empenho e de trabalho crescem avassaladoramente. As forças vão-me faltando e os resultados são cada vez menos positivos. E não, não estou a falar dos resultados do aproveitamento, mas dos resultados das estratégias que utilizamos para ganhar o interesse dos alunos. Esses são para mim os mais importantes, porque os outros decorrem naturalmente dos primeiros.
São os programas, as matérias, os fracos recursos de que dispomos, a própria estrutura em que se sucedem as aulas, as vidas familiares turbulentas e desequilibradas, a grande disparidade entre a vida lá fora e o comportamento que se pretende numa sala de aula, que provocam este desinteresse nos alunos de hoje.
Mudar? Sim. Mas como? Para onde? De que maneira?
Pensar uma escola a longo prazo e no que queremos destes cidadãos daqui a 20 anos, parece-me ser o caminho mais certo. Não interessam reformas para hoje, nem para eleições. Não é só encher as escolas de computadores, se não se souber para que os queremos ou como usá-los.
A tecnologia avançou largamente estes últimos 20 anos. E a educação? A escola? É por decreto que se faz a escola do século XXI? São os professores os culpados por todo este estado de sítio?!
Há coisas inacreditáveis! Eu a pensar escrever sobre um Filme e o Canal Hollywood a brindar-me com uma maravilha de um outro filme que não via vai para muitos anos e que espero saída em DVD com legendinhas em Português! È que o duplo LP, já canta desde adolescente na minha discoteca.
Tenho uma dezena de filmes relacionados com Jesus e com a Paixão-Evangelhos. Desde o mais conhecido e recente de Mel Gibson “ A Paixão de Cristo”, passando por Scorsese , acabando nessa raridade que é “O Messias “ de Roberto Rosselini, vão repousando na minha videoteca alguns filmes que vou revendo conforme a disposição e quase sempre no período da Quaresma.
Pois nesta Sexa-Feira Santa resolvi revisitar o filme sobre Jesus que mais me marcou, que continua a marcar, e dificilmente se deixará ultrapassar no meu gosto, estética, coração e mesmo como cristão, como alimento de FÉ. È um filme de uma beleza, de uma sobriedade, de um deslumbramento sem par na História do Cinema. Uma obra-prima pouco conhecida, sublevada pela grandiosidade e projecção de outros filmes desse génio italiano, chamado Pier Paolo Pasolini. Só a expensas de uma Amazon o consegui encontrar, vai para dois anos.
Mas antes de escrever levemente sobre este filme, como já referi, o Canal Hollywood, passou um filme maravilhosamente excessivo, psicadélico, louco de fantasia, flower power, mas de uma beleza ímpar, de uma procura de sentido de vida de uma geração, de uma fotografia quase computorizada, de interrogações críticas de Judas, de uma música em momentos sublime, noutros frenética. Alguns chamar-me-ão, exagerado, outros “kitsch”, outros ainda saudosista, mas que se há-de fazer: adoro este filme, talvez por isso tudo de que me podem acusar. Talvez por gostar tanto dele, recuso-me a ver “versões” teatrais, do estilo La Féria, ou outras com mais londrino style! Para mim o JESUS CHRIST SUPERSTAR é o do Norman Jewison e mais nenhum! E isto é mesmo assim, estou fóssil, ou o filme continua a ter a aura de maravilhoso quase “pagão-cristão” que quando jovem tanto me sensibilizou, como elemento de Curso de Jovens, ou a outros colegas de grupos de Renovação Carismática. Havia ali uma força renovadora de mensagem, uma liberdade de interpretação da Palavra, um Cristo mundano do Mundo, Homem na pujança de ser Homem que tem uma missão a cumprir. A cena final do filme, com a companhia de actores a abandonar o local das filmagens, com a cruz iluminada ao fundo qual farol a lembrar-nos que no seu sacríficio ele será sempre porto e ancoradouro dos que a ele recorrem, é soberba. Houve quem chamasse a Jesus Christ Superstar, uma das piores ideias de humanidade conhecidas na história do espectáculo. Muitas destas “péssimas” humanidades e teríamos mais humanidade!
Mas o objectivo postagem é então a seguinte: Qual o filme sobre Jesus que levaria para uma ilha deserta, (filme disse bem, porque Ele em mim iria sempre!) ? “PAIXÃO SEGUNDO S. MATEUS” de Pier Paolo Pasolini.
Precisamente, um filme que é tudo o contrário do que escrevi sobre Jesus Christ Superstar. Um filme a Preto e Branco de uma pureza que só po P/B consegue ter, de um P/B, que concentra o olhar nos rostos, nas cenas, nos momentos, na essência primeira da fotografia-a persistência do olhar! Um filme completamente despojado, despido, nú, de efeitos especiais, de adereços, de guarda-roupa, de gestualidade desnecessária, de diálogos não essenciais. Um filme grandioso na sua pobreza, tal como a pobreza evangélica por Jesus pregada. Com actores amadores-locais, com baixo orçamento, Pasolini compõe uma visão de um Cristo, quase “camponês”, simples, homem como todos nós, de uma humanidade fraterna, consciente da sua tarefa, mas colérico com as injustiças, os desagravos, a estupidez e a pobreza espiritual. Um Cristo, desculpem os puristas, pouco catequético, pouco emoldurado em auréolas de santidade, e mais terreno, mais Homem entre os Homens. Não é um filme fácil, porque recusa uma imagem delicodoce, etérea de Jesus. Cristo Evangélico puro e duro! Cristo rugoso, angular, quase de ícone. Um Cristo belíssimo, naturalista e solitário na sua missão de sacríficio pela fraternidade universal. Depois, um Cristo e um filme de planos, alguns longos, de rostos com estória, de esculturas de luz. Um filme onde como nunca a música de Bach (Paixões), Mozart, Webern, Prokoviev, ou mesmo espirituais negros, se cola às imagens, quase como outra paixão. Um Cristo único na História do Cinema, este Cristo de Pasolini.
Fez-me bem revê-lo . E Pasolini era um génio. Algumas imagens deste filme são imperdíveis , duradouras na memória do cinema. A candura do rosto inicial de Maria grávida e a dúvida no rosto de José, são cinema de eternidade.
VISITAÇÕES (DE) DA PAIXÃO I
Quarta-Feira , toda a família, mesmo a minha “Pipi das Trancinhas Largas”. O metro e a chegada às 20.30, adivinhando o que se seguiria, mesmo com vento cortante a valer a pena a quase hora de espera para a abertura da porta da belíssima Igreja de Nª Senhora da Conceição no Marquês. Entrada gratuita para ver(?) ouvir essa voz imaculada de Irmã Marie Keyrouz. Possuidor de vários discos da Harmonia Mundi desta figura tão despojada do canto religioso internacional, voz companheira de angústias, de intimas orações, nunca imaginei o que iria significar aquela hora e trinta de tumulto, pacificação interior.
E entrou o seu Emsemble de La Paix, nesta noite apenas vocal, para uma figura magra, esguia, frágil , vestida de forma simples , agradecer os primeiros aplausos. E tudo começou de forma mágica com o “ Quem é este Rei” , um canto de Tradição Maronita, para de seguida em mais doze cânticos de Tradição Bizantina, ou Melquita e um “encore” , a voz de Marie Keyrouz, literalmente encheu as naves e os corações presentes na Igreja do Marquês. De uma suavidade de gestos, de um olhar e corporalidade metafórica intensa, e com uma voz que ia dos registos mais baixos às sonoridades altas e etéreas das esferas, Irmã Marye, conseguiu a comunhão interior dos felizes contemplativos nos hinos orações entoadas, mesmo que a língua fosse imperceptível. Seria? A linguagem divina nunca é imperceptível, porque basta abrir o coração – tão simples como isso.
Com um coro maravilhoso no seu acompanhamento em bordão, os melismas, ou tropos de Marye Keyrouz, eram tão suave e fortemente entoados qual vozes da anunciação da Morte ou Ressurreição do Senhor. Não sei, talvez fosse assim a voz de Gabriel. Os ascendentes e descendentes da sua voz, partilhavam esse amor a Cristo, feito Homem, embebiam as palavras, fossem de deposição, de humildade, ou de ascensão, de júbilo. E uma voz indefinida, que tanto atingia alturas de soprano, tessituras de contralto, como, não raras vezes envereda por “mezzo” para descrever a pintura religiosa, o cântico que se pretendia transmitir. E a improvisação, muitas vezes presente, sempre a preceito, sempre humilima, sempre ao serviço de uma espiritualidade da palavra e da música.
Uma hora e meia, onde não houve nem longes nem distâncias, nem Ocidente nem Oriente, nem fariseu ou publicano,rico ou pobre, apenas uma voz onde nos finos e ténues fios da música se uniram religiões, mundos, pacificações. Que grande lição-momento de multiculturalidade, de História e interioridades! Não se ouvia “uma mosca”, o silêncio entrou pelas frestas do silêncio e nem pediu licença de instalação. Ouvia-se o respirar do companheiro (a) do lado, sentia-se em muita gente uma comoção fortíssima e um ir com a música nesse turbilhão de paz que inundava as naves do Templo. E o Senhor andou por ali, onde o quiséssemos sentir, ou nas notas saídas da boca de Keyrouz, ou naquele rochedo inamovível de cada um – A Fé! Um verdadeiro acto de Fé o canto de Marie Keyrouz! De Fé como vivência, como crença, como dádiva. Quem soube ouvir, abrir-se à oração , receber, fortaleceu-A. Uma mediurga do Senhor, Marie Keyrouz. Que força interior nesta Mulher, na sua fragilidade!
Não dissemos palavra, quando noite gélida saímos do Templo. A minha Trancinhas, não adormeceu e fartou-se de bater palmas. Os meus dois “ados” estavam entre o maravilhado, o siderado e o aparvalhado, com o que viram e ouviram. A minha T, ...bem, pelo canto do olho e da alma, fui assistindo algumas vezes à sua emoção, o que não me admira, porque não é só aquele “corpinho” que me atrai não, ao fim de quase vinte anos de “aturações” mútuas, digo, “aternurações” mútuas.
Padre - Patxi Andión
Eres como la mar:
bueno de frente,
peligroso en día gris,
duro y valiente;
llevas en la cabeza
brisas ligeras,
temporal que aún contiene
tu compañera.
Eres como el cantar
de un campesino,
que al cantar va labrando
nuestro camino.
Eres como un dolor
mal repartido,
que se volvió canción
y no quejido.
Eres como la voz
que expende el aire;
eres como un poema
de Miguel Hernández;
y presumes de ser
puro paisano,
de haber sido y de ser
republicano.
Compañero del sol,
fiel compañero,
nunca te preocupó en nada
ser el primero;
eres como el sudor:
callado y quieto,
y nunca abriste el cajón
de tu propio respeto.
Y no quisiste jamás
salvarte solo,
porque no hay salvación - decías -
si no es con todos.
No sabes de venganzas
ni de desquites.
Gorrión que cantó siempre,
aún sin alpiste.
Eres como la sangre,
eres el aire,
la mar, la barca, el remo
y el navegante;
timonel de mi alma,
más que nadie…
y aún eres muchas cosas más
que me callo y me callan…
Padre
Apetece-me dedicar se calhar indigno artigo, porque a Gabriela e o Vergílio perdoam-me de certeza, a estas pessoas que não conhecendo, reconheço como Companheiros de Jornada.
Para o Matias Alves, pelo que sei de Paixão Aguda pelo Vergílio, Para a “Aranhiça que Tudo Cobiça” da Teia, que cada vez que escreve sobre alunos, me faz lembrar o meu Sebastião da Gama “ Para ser Professor é preciso ter as mãos purificadas”, para o Raul Martins porque arquélogo de sentimentos e desejoso de museu de Mundo Melhor.
Conheci a obra de Maria Gabriela Llansol mais tarde. A de Vergílio Ferreira já me era familiar, mas não sei porque razão, imediata e insidiosamente as duas escritas me pareceram contíguas, apesar de divergentes na forma, no conteúdo, na “legência”. Havia ali uma convergência que me fascinava, mesmo não a sabendo explicar, pouco amante que sou das exegeses literárias profundas. Sei que lado a lado na minha estante, estiveram sempre os livros de Vergílio e Gabriela. Depois, foi sem surpresa, mas com muita dela, que nos Diários do Vergílio Ferreira, Contra-Corrente 2ª série, li como este se referia com especial veneração ( e o Vergílio Ferreira não era propriamente um homem de venerações fáceis), quase amizade a Maria Gabriela Llansol e com surpresa ,respeito e admiração à obra desta grande escritora, mesmo confessando que aquela escrita fulgor, lhe fazia por vezes escapatória de sentido. Não raro nos últimos volumes do Contra – Corrente a referência aos momentos de convívio com o Augusto e a Gabriela, e algumas reflexões sobre a escrita fulgente de Llansol.
Não surpresa também que dessa amizade, desse respeito – admiração mútua, tivessem saído da pena de Maria Gabriela Llansol, várias citações a Vergílio Ferreira, uma delas das mais belas e ternas que se escreveram depois da morte deste gigante da Literatura Portuguesa. Tocantemente Llansoliano as citações no (diário?) “Inquérito Ás Quatro Confidências”
Afinal o que liga estas duas vozes díspares, estas duas penas dissonantes, que sendo do presente, serão no futuro, disso dúvidas não tenho, com Camões e Pessoa, das mais extraordinárias e poderosas de toda a História Literatura Portuguesa? Continuo sentir essa consanguinidade de escrita, mas difícil de dizê-la. Talvez um amor à escrita, talvez a forma de vida-escrita , escrita-vida, simbiose tão indissociável , que uma sem outra perderia o sentido. Talvez esse compromisso de ambos renegar a “impostura” da língua, impondo-a como Verbo, como sentido respiração do ser. Talvez as “alegrias breves”, insondáveis do pensar, ou as vivências dos objectos, das coisas, das poeiras das coisas. Talvez a dificuldade que advém do mergulho retemperador no líquido das palavras, nos círculos concêntricos da cristalinidade da essência das palavras. Talvez, o momento, a essência da verticalidade do momento, do desejo de cumprir-se enquanto planta terrena. Talvez a procura em ambos do “osso da palavra”, da íntima respiração da escrita, do capilar sanguíneo do verbo. Talvez…o Amor, esse terno amor que vale a pena.
Não sei! Amo estes dois “embaladores” da palavra, estes dois alquimistas do sensível, estes dois seres que com “falcão no punho”, ou “para sempre em nome da terra” me fazem acreditar que no princípio e no fim é e será o Verbo!