terça-feira, 11 de março de 2008

GABRIELA LLANSOL e VERGÌLIO FERREIRA











Apetece-me dedicar se calhar indigno artigo, porque a Gabriela e o Vergílio perdoam-me de certeza, a estas pessoas que não conhecendo, reconheço como Companheiros de Jornada.

Para o Matias Alves, pelo que sei de Paixão Aguda pelo Vergílio, Para a “Aranhiça que Tudo Cobiça” da Teia, que cada vez que escreve sobre alunos, me faz lembrar o meu Sebastião da Gama “ Para ser Professor é preciso ter as mãos purificadas”, para o Raul Martins porque arquélogo de sentimentos e desejoso de museu de Mundo Melhor.

Conheci a obra de Maria Gabriela Llansol mais tarde. A de Vergílio Ferreira já me era familiar, mas não sei porque razão, imediata e insidiosamente as duas escritas me pareceram contíguas, apesar de divergentes na forma, no conteúdo, na “legência”. Havia ali uma convergência que me fascinava, mesmo não a sabendo explicar, pouco amante que sou das exegeses literárias profundas. Sei que lado a lado na minha estante, estiveram sempre os livros de Vergílio e Gabriela. Depois, foi sem surpresa, mas com muita dela, que nos Diários do Vergílio Ferreira, Contra-Corrente 2ª série, li como este se referia com especial veneração ( e o Vergílio Ferreira não era propriamente um homem de venerações fáceis), quase amizade a Maria Gabriela Llansol e com surpresa ,respeito e admiração à obra desta grande escritora, mesmo confessando que aquela escrita fulgor, lhe fazia por vezes escapatória de sentido. Não raro nos últimos volumes do Contra – Corrente a referência aos momentos de convívio com o Augusto e a Gabriela, e algumas reflexões sobre a escrita fulgente de Llansol.

Não surpresa também que dessa amizade, desse respeito – admiração mútua, tivessem saído da pena de Maria Gabriela Llansol, várias citações a Vergílio Ferreira, uma delas das mais belas e ternas que se escreveram depois da morte deste gigante da Literatura Portuguesa. Tocantemente Llansoliano as citações no (diário?) “Inquérito Ás Quatro Confidências”

Afinal o que liga estas duas vozes díspares, estas duas penas dissonantes, que sendo do presente, serão no futuro, disso dúvidas não tenho, com Camões e Pessoa, das mais extraordinárias e poderosas de toda a História Literatura Portuguesa? Continuo sentir essa consanguinidade de escrita, mas difícil de dizê-la. Talvez um amor à escrita, talvez a forma de vida-escrita , escrita-vida, simbiose tão indissociável , que uma sem outra perderia o sentido. Talvez esse compromisso de ambos renegar a “impostura” da língua, impondo-a como Verbo, como sentido respiração do ser. Talvez as “alegrias breves”, insondáveis do pensar, ou as vivências dos objectos, das coisas, das poeiras das coisas. Talvez a dificuldade que advém do mergulho retemperador no líquido das palavras, nos círculos concêntricos da cristalinidade da essência das palavras. Talvez, o momento, a essência da verticalidade do momento, do desejo de cumprir-se enquanto planta terrena. Talvez a procura em ambos do “osso da palavra”, da íntima respiração da escrita, do capilar sanguíneo do verbo. Talvez…o Amor, esse terno amor que vale a pena.

Não sei! Amo estes dois “embaladores” da palavra, estes dois alquimistas do sensível, estes dois seres que com “falcão no punho”, ou “para sempre em nome da terra” me fazem acreditar que no princípio e no fim é e será o Verbo!

5 comentários:

Raul Martins disse...

Fiquei derrotado! Há gestos que calam tão fundo que apenas nos resta dizer: obrigado.

Confesso a minha ignorância: nunca antes ouvira falar da Gabriela Llansol. Fiquei com curiosidade de ler alguma coisa dela. É o que vou fazer como agradecimento de me ter como seu companheiro de jornada, ainda que no fim da fila, bem atrás da Teresa e do Matias Alves.

JMA disse...

Tenho saudade do tempo em que o verbo era a procura de uma revelação, de uma serenidade, quase de uma sagração . Mas nos intervalos do "ser funcionário" (que nunca fui), procuro não esquecer esta aprendizagem. E tu, meu caríssimo companheiro, bem me tens ajudado. Mais do que imaginas. E vou também revisitar GL. Porque é sempre tempo de ser tocado pela maravilha.

Teresa Martinho Marques disse...

Mais um sorriso cúmplice, entretecido nestas palavras tuas, que também são para mim, e agradeço. Elevada honra com que me distingues. Eu que vivo na Terra do Sebastião, que várias vezes me cruzo com a sua Viúva, que dou aulas a um sobrinho de ambos... Desígnios.
Uma confissão: regressei ao Vergílio pela mão do JMA... e fiquei presa de forma intensa às palavras que redescobri nele. Feliz por ver o meu nome junto dos dois escritores, do JMA e do Raul. Tu a orquestrar a música das palavras. Há aqui uma qualquer sintonia, uma harmonia, uma paz, uma inquietação, uma serenidade, uma... canção?

Teresa Martinho Marques disse...

Excesso de vírgulas na primeira frase... sim. É o cansaço a precisar de muitas respirações... :)

Raul Martins disse...

Volto aqui, outra vez, caro amigo, para te dizer que estou a cumprir o prometido em comentário mais acima: Comecei a descobrir Gabiela Llansol - O jogo da liberdade da alma - que já me inspirou para um texto que irei postar no meu blog no Domingo de Páscoa.

Tens razão quando dizes que a sua escrita é "hermética talvez, mas de uma musicalidade, da essência primeira da palavra, de uma riqueza de sonho e fascínio interpretativo como poucas na nossa literatura. Uma escrita (des) construtiva na medida que obrigaca o leitor, o "legente" a construí-la..."
Foi o que eu senti... preciso de (des)/construir a sua escrita: ontem li Gabriela e o que senti foi diferente, hoje, ao voltar a revisitar os mesmos textos e, acredito, que as mesmas palavras me trarão, amanhã, diferentes sentimentos. Uma escrita ímpar.
Graças a ti, ela tem outro admirador - ainda que pobre e que precisará de a revisitar muitas vezes para conseguir entrar no magnífico trabalho da sua escrita.

Carpe diem.