sábado, 6 de dezembro de 2008

Purificação...

dos meus sentidos,sobretudo, libertação de dissonâncias auditivas dos últimos dias, colírio no meu poluído olhar, serenidade táctil que só a criação do belo pode trazer. Revisitação pela noite adentro desse admirável "Mãe e Filho" de Aleksandr Sokurov.
Depois, madrugada fora, com um quente Russian Earl Grey" deixar esse sabor bom da emoção aninhar-se cá dentro sem pedir meças, aspirar essa sensação tímida e grandiosa ao mesmo tempo de plenitude, de reencontro com aquele de mim que por vezes arredio por fugido e distraído se confunde com um outro que também vou sendo. Talvez envelhecer seja isso...a corrida mais compassada de um meu eu mais sensato , mais terno, mais verdadeiro, a tentar apanhar o outro mais gaiato, mais apressado, mais eterno.Lá chegarei mais trôpego, mais enrugado, mais humano à meta da junção dos dois. Sem impaciência, sem medo, sem remorsos.O meu suave declive.

Reflexões sobre uma Jóia

MÃE E FILHO,Aleksandr Sokurov

Silêncio e solidão;

Plano, planos, fruição visual da imagem

O sopro a brisa da paisagem ou da vida que se esvai

A ternura do laço cada vez mais forte e cada vez mais fraco

O verde

A mãe, o filho, quase a necessidade do reaninhar uterino

As poucas palavras a ganharem sentido no deserto do verde

A opressão da vastidão paisagística

A porta como saída ou entrada da vida , para a morte

O céu de chumbo, a ternura do gesto e do beijo

O sono e os breves momentos do acordar-medo de morrer

O sentido da vida e razões da morte

Os elos de um sangue

O céu ainda mais ameaçador-um homem e os caminhoas do seu destino

O ir e o ficar, aceitação de uma solidão para sempre, a tarefa a cumprir

Deus presente e ausente, o sonho ou a impossibilidade dele

A paragem, o gelo, a alma e a suspensão do tempo

A fresta de sol reconciliadora

O veleiro, barco de infância, ânsia de partida, da mãe

A impossibilidade de apanhar a morte

O não ver para ficar na dor de se ser só

As mãos como dádiva, como aconchego

A morte e o aprisionamento do voo da borboleta

A essência desse voo algures

A consciência do tempo da morte e do seu reencontro

Irremediavelmente sós na vida.

(Existente Instante)



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