Um magnífico texto de José de Lemos na Revista Panorama.
Novamente nostálgico, embora um pouco mais novo do que a data do texto. Mesmo criança, nos finais dos anos 50, princípios dos 60, ainda era assim o meu Natal de menino burguês ou pequeno burguês. E que lindo que ele era. Nostálgico, a poucas horas de um Natal que já não é assim, que se calhar não pode ser assim, que nunca mais vai ser assim. E...tenho pena.
Os desenhos depois do texto desse grande artista Carlos Botelho.
Quem me conhece, ou os parcos leitores que por aqui vão passando, sabem por postagens natalícias de anos anteriores como abomino o Natal comercial, os "HO-HO-HO" de Pais Natal histriónicos, o Natal idiota de SMS e animaçõezinha de telelé, só porque fica bem e guardamos lugar no paraíso, o Natal do desperdício, do Centro Comercial, do clima externo e artificial. O Natal é algo que é de dentro, que se aquece de dentro para fora, que perpassa como nuvem invisível para os outros. Assim o meu Natal só tem sentido com Ele - o menino e a sua simbologia, a Família e as Crianças.
Assim por elas , AS CRIANÇAS, ( a que uns bandidos tecnocratas querem impedir de sonhar, crescer devagar enquanto o mundo espera) um belíssimo texto ( sim, eu sei qure está datado e que estou com a idade cada vez mais nostálgico) de Olavo d'Eça Leal publicado na Revista Panorama n.12 de 1942 ( 70 anos!).
Cliquem para aumentar e guardem ou imprimam para ler melhor.
Não, não é a do filme de Philip Kaufman " A Insustentável Leveza do Ser", aí Tereza usava uma Praktica LTL. A minha tem uns anos e sempre me foi fiel. Não , não estou retro, porque vou mesmo caminhando lentamente no plano inclinado e como tal mais atento ao essencial, ás coisas que marcaram, que deixaram carimbo cá dentro. Esta máquina deixou, e muitas fotos da minha prole com ela foram tirada. Agora resolvi regressar ao negativo, aos Ilford 400, aos TMax, às minhas lentes Pentacon e Carl Zeiss e, surpresa ou não...maravilhado. Claramente superiores aos Zooms fraquinhos da Minha Canon Digital, ou por exemplo a uma ou outra lente singular da mesma marca. Aliás comprei o anel adaptador que me permite usar estas lentes na minha Canon 1000D e os resultados das lentes Pentacon e da Carl Zeiss 135mm, são simplesmente...muito, muito bons.
Um gozo outra vez estudar a luz, as relações abertura, velocidade que muitas vezes por preguiça me levava na Canon ao mais fácil e à Programação estabelecida - só mexia no Controle de Brancos e nas compensações. Um prazer não saber por horas o que está ali no rolo e depois utilizar o meu Epson Perfection para a digitalação do negativo!
Pimpão e feliz com a "velharia" que mostrou a sua raça!
Então aí vai a minha "menina" e suas "muchachas"
armadilhada com o Teleconversor 2X e o Zoom Pentacon 70-210 o que o transforma no máximo em 420. Tira luz, tira, mas num dia claro...
A minha "mais do que tudo" Carl Zeiss Jena de 135mm 1:2.8 ! è uma lenta de uma luminosidade e precisão espantosa. Mesmo com o Teleconversor é formidável. Na Canon Digital com o adaptador continua a ser uma lente de grande classe.
O "arsenal de Guerra"
O anel adaptador que embora encaize razoavel bem na Canon é preciso ter cuidado. è Óbvio que muitas funções da Canon deixam de poder ser utilizadas e sobretudo....Ah! Ah! Só focagem manual!!
Mas...deixa-te de tretas e mostra lá as maravilhas da "maestra" BX20. Bem se não gostarem não culpem a Praktica, culpem o fotógrafo!
Declaração de interesses: não vendo, não troco, nada...É MINHA e mais nada!
Agora sim. Só agora vontade de escrever qualquer coisa sobre Manuel António Pina.Depois da revoada fantástica do Pina para cá, Pina para lá, de todos o conhecerem, de todos serem amigos chegados, quase de infância alguns, de outros tantos quase amiúde convidados para sua casa e, sobretudo, de multidões terem a sua obra e a lerem amiúde com profundo amor literário.
Eu não. Pura e simplesmente um leitor atento de M.A. Pina de alguns livros de infância e Juventude, de algumas das suas crónicas no JN (não sou leitor minimamente assíduo deste Jornal), mas sobretudo da sua poesia, e só eu sei o que passei para encontrar a sua Poesia Reunida na edição da Assírio de 2001 vai para anos, completamente esgotada que estava pela exiguidade de exemplares editados.
Em Junho de 2010 no "Ciclo Cultura no Centro" - Dolce Vita, onde Pina esteve presente, juntamente com Arnaldo Saraiva e José Emílio Nelson, na defesa da memória, obra, e fundação Eugénio de Andrade (15 pessoas presentes - deviam ser as multidões de amigos de M. A. Pina, ou Eugénio!), tive a oportunidade de no fim da conferência de trocar com Manuel António Pina, umas palavras particulares, fluentes, simples como cerejas, sobre Eugénio e sobre alguma Literatura Portuguesa. Perante a minha incondicional admiração-paixão pela obra de Maria Gabriela Llansol, confessou-me que perante a eminência de mudança de casa ( filha, salvo erro) estava a "desfazer-se" de muitos livros da sua biblioteca, mas que os de Maria Gabriela Llansol iriam consigo pela que a obra da autora o intrigava e fascinava como caso único na Literatura Portuguesa contemporânea.
Em 24 de Setembro de 2011, voltei a encontrar publicamente M. A. Pina, na Conferência "Porto:Modo de Dizer" organizada pela Biblioteca Municipal do Porto, integrada no ciclo "Pàginas do Porto -Cidade nos Livros". No período de diálogo questionei-o sobre o papel dos escritores, jornalistas, artistas em geral, principalmente da Cidade e muitos até premiados pela sua obra, da denúncia sobre os atentados urbanísticos e arquitetónicos levados a cabo ao longo de vários consulados camarários, bem como do estado inacreditável de muitas partes do Porto edificado, dando como exemplos, o próprio Jardim de S. Lázaro fronteiro à BPMP, ou a Praça da Liberdade. Riu com gosto quantos aos "premiados" e concordou comigo sobre o estado da cidade. Achou mesmo a Praça da Liberdade uma aberração e confessou que o Siza sabia a sua opinião e que não a apreciava muito. Rimo-nos à grande quando contou que a sogra sempre que vinha ao centro da cidade, se recusava a passar pela Praça da Liberdade dos "monstros" da arquitetura portuense.
Homem de enorme simpatia, grande cultura que escondia debaixo de uma humildade genuina, mas sobretudo um ser humano fascinante de mãos nuas e abertas a aceitar da vida a doce e nua inteligência com que ela deve ser vivida.
Orpheu, invejoso, qui-lo junto de si cedo de mais talvez. A sua obra está aí, particularmente a sua poesia, curta é certo, de não muito fácil imersão imediata no entendimento, mas que retenho em mim como das maiores do século XX-XXI.
No dia da sua morte, no meio de tanto linguarejar, de tanta mediatização que nunca procurou, nem lhe intereesava, voz de incómoda liberdade que sempre foi, no dia da sua morte, o silêncio, lingua sagrada da morte, e no silêncio, as palavras belíisimas e decantadas a encoarem-me no espírito de um outro grande poeta que escreveu sobre a memória de outro grande poeta - João Miguel Fernandes Jorge sobre Ruy Belo:
Para
o Ruy Belo
A morte é como o primeiro
Pássaro , um coração que
ouvimos e mais nada. Apenas água
nua fria.
Que deus escureça depressa
o dia. Dia? Como se lê?
Riscamos devagar um traço
na parede, um segundo,
as únicas lágrimas.
Temos que aprender qualquer
coisa sobre os outros,
(dunas)
Hoje é doutro sentido que
falo, de uma única folha.
João Miguel Fernades Jorge, Sob Sobre a Voz, in Obra Poética I
Está aninhada cá dentro de nós irremediavelmente. Recupera lentamente de um grave problema de saúde que a prostrou. Acreditamos na oração nem que seja salgada.
Para a nossa "Ni" , o N e o JP "Guitar" esta vontade-desejo que já o é por o ser de voltarmos a rir desalmadamente pelo bacalhau assado quase deixar de o ser pelo que ficou de agarrado à grelha. O sofá puído e encarnado de minha casa que tanto gostas, espera-te Querida Amiga.
Para Ti estas palavras tão sentidas e se calhar tão pouco habitadas de ardor poético.
Olhamos a imensidão líquida que nem assim nos acalma.
Um vento ténue como violinos não afasta a angústia
Que nossos corações morde.
Entardece em esmaecido fogo,
Deixamos no nosso amargurado coração
Entornar a tarde.
Pensamos-te e movemos-te comovidos
Para o nosso lado mais esquerdo.
Uma esperança, incandescência de quietude...
Havemos de rever esses belos olhos faróis de falésia
Não sei o que me deu, mas estou comovido, profundamente comovido quase até às lágrimas com a visita inaugurativa à minha terra de um tal senhor que parece ter um cargo no governo, mas que não conheço, nem nunca me foi apresentado, nem quero conhecer e muito menos ser apresentado.
Comovido sim com tanto préstimo, tanto beija-mão, tanto sorriso "pepsodent", tanta "mise" e permanente lacada em cabeleireira desfolhada, tanto "tailleur" naftalinado, tanto rimel meybelline e blush quando não poderosas camadas de base tipo "Tokalon" a esconder mazela de arreliadora borbulha, ou irritante ruga, tanta tanta gravata de nó perfeito em alva camisa que pedia alvíssaras a ar puro a grossas panças que a comprimia, tanto sapato de tacão alto ou de bico envernizado que lacerava pés, rasgava meia de nylon e obrigava de certeza a noturnos banhos de sais Dr. Schools. Emocionei-me... com as fotos e vídeos claro, que plebeu não entra, nem quer entrar em festas de tripa-forra de nobreza mesmo decadente.
Faltou lá o Sinhozinho Malta, mas um atraso aborrecido do avião que partiria de Asa Branca, inviabilizou o abanar da sua pulseira de oiro, coisa aliás, que traria outro brilho, outro dourado, outro glamour à festa! Foi pena!
E de súbito, sem saber porquê o raio do Erasmo ( não não nenhum jogador a contratar por Clube português!), sim, o de Amesterdão, resolve fazer-me uma visita e vir para aqui meter-se onde supostamente é chamado. Sim , porque isto da cultura e logo do Renascimento é areia demais para camionetas de caixa fechada. Falta-lhes o arejo, o ar puro!
Não sei porque raio de equação juntei inauguração, Mirante de Sonhos, um senhor do governo, Meninos e meninas arranjadinhos de domingueiro, muita gente (alguns meus colegas) e até o Sinhozinho Malta! Pronto, devo estar com a depressão pós-férias, ou talvez a compressão início de ano letivo.
De uma coisa quem me lê pode ter a certeza: guardo com certa religiosidade os artigos da Lei, ou a necessidade de atestado médico. É que não sou propriamente de Asa Branca, e vou tendo problemas com a dentuça para sorrisos postiços e mesmo dificuldades económicas de pobre Professor português para um branqueamento (os de capital de dentadura toda à mostra e rosnante, sabemos bem quem os faz!) eficaz.
Assim Erasmo e um tratado, "O Elogio da Loucura". Meu livro de pensar e continuar a ver misérias humanas!
" (...) Não há escravidão mais vil,
mais repulsiva, mais desprezível do que aquela a que se submete essa ridícula
espécie de homens, que, não obstante, costuma ganhar para si, de alto a baixo,
o resto dos mortais. (…)Para eles, a maior felicidade consiste em ter a honra
de falar ao rei, de chamá-lo de Senhor e Mestre absoluto, de fazer-lhe um breve
e estudado cumprimento, de poder prodigalizar-lhe os títulos faustosos de Vossa
Majestade, Vossa Alteza Real, Vossa Serenidade, etc. etc. Toda a habilidade dos
cortesãos consiste em trajar-se com propriedade e magnificência, em andar
sempre bem perfumados e, sobretudo, em saber adular com delicadeza. Quanto ao
espírito e aos costumes, são verdadeiros Feácios(...) "
Ah! Esquecia-me! Espero que não tenham esquecido o "hissope" e a benta água! Sacrilégio!
Ontem estive lá. Quase quase a lembrança plena de manifestações de Abril e seguintes. A Esperança, a "raiva" a vontade de colocar no lixo da História estes "RAMEIROS" que nos governam dominados por PROXENETAS que por sua vez são dominados por CARTÉIS internacionais mafiosos das finanças e do capital. Resumindo e sem cuidados de linguagem neste blogue: Por autênticos f.d.p nacionais e internacionais.
Nem é preciso saber História para descobrir que esta se encarregará de sepultar estes escarros políticos que nos governam, esta náusea que nos entra pela casa adentro, pelo espírito fora, pelo procura do nossa já difícil procura de equilíbrio e felicidade. Pode demorar, pode ser a curto, ou médio prazo, mas a limpeza desta estrumeira mal cheirosa que vem apoquentando a Europa lá se fará, disso não tenho dúvidas.
Rostos de esperança e indignação nessa mancha enorme que se ia perdendo de vista na Praça da Liberdade. Claro que nas TV, os cortesãozitos lambe-cús lá se encarregaram de fazer o choradinho do "tem que ser" e do não haver alternativas, fosse o economista careca e prestigiado que do nada começou a aparecer quase como "guru" de coisa nenhuma a não ser vendido a um partido ( deixou-nos de incomodar o inefável e burróide Borges, para agora nos aparecer este "canoro" careca!), fosse o gordalhefo e histriónico ex ministro das Finanças, um dos tais que foi afundando o País ( as asneiras sobre História que esta personagem disse no programa da TV nem me arrepiaram, porque a ignorância desta disciplina costuma ser medalha de muitos economistas!) - fracos atletas para defenderem este mal parido governo. A falta de nível intelectual e cultural desta gentalha é assustadora. Já nem como Sena dizia: não sabem, nada, não dizem nada e já nem raramente é que sim! Mas no íntimo, no intimo, todos sabem que é inexorável o fim destes canalhas e um longo período de reclusão-oposição da laranjada. Estrebucham a tentar explicar o inexplicável por cartilhas desactualizadas e vazias de humanidade e de sonho. Mais do que tecnocratas, idiotas de todo, sem ideias sobre nada, a não ser aquelas que as teorias no-liberais lhes inculcaram nas cabeças ocas e por isso sem disponibilidade de se interrogarem se não existem outros caminhos. Mas na belíssima manifestação cívica de ontem, as Crianças, as Crianças a quem estes miseráveis querem cercear o futuro, a esperança, a capacidade de serem crianças para se tornaram adultos criativos, críticos e felizes. Não...talvez futuros escravos de senhores já designados que devem ser os f.d.p dos atuais f.d.p que nos querem escravizarem. Os rostos das crianças do meu País! Cada riso deles, cada gesto, cada olhar a valer mais do que todos os neurónios desse ganapo mentiroso, desse rameiro inculto, ou desse retardado mental robotizado que nos governam. Os rostos das crianças do meu País, que serão os rostos de um Homem novo
ao serviço de uma política nova de uma nova distribuição. Pode ser que
se chegue lá pelo conflito, pela luta árdua, pela dor, mas que se
chegue! Chegaremos!
“Il y a si peu de temps,
Entre vivre et mourir,
Qu'il faudrait bien pourtant,
S'arrêter de courir,(…) “
" Je n'ai jamais répété aucun geste, je ne me suis
jamais exercée devant une glace, je n'ai jamais travaillé avec un metteur en
scène, sauf dans Lily-Passion
; je n'ai obéi qu'à mes propres lois, apprenant sur le tas grâce à ceflux vivant
que m'a toujours renvoyé le public— un public qui a été pour moi un
accoucheur. Je n'ai fait en somme qu'essayer de retourner une part des beautés continues
dans cet amour immense qui me fut donné." (...)
" Et
puis mon corps s'est mis à chanter, des cordes vocales aux orteils. J'ai eu besoin
de marcher, besoin d'une liberté de mouvements, non plus seulement assise à mon
piano, mais debout.(...)"
" On ne sait pas d'où
viennent les mots ; quand tu chantes, ils se mâchent, s'allongent, se
distordent, se consument, déboulent de ta gorge à tes lèvres, redescendent dans
ton corps, dans le pli de ta taille, dans ta hanche ; (...)
"les mots se sont mis à circuler par ma bouche,
par mes veines, par mes muscles, et tout mon corps a pu chanter de la racine
des cheveux jusqu'au bout des doigts, et j'ai pu projeter mes émotions au
rythme de mon souffle.(...)
( Barbara, Il était un piano noir)
Ouço, vejo Barbara no Châtelet.
Força vital enviada não sei de
onde nem por quem para nos reconfortar na dolorosa tristeza que por vezes vamos
sentindo. Vê-la, ouvi-la, pura e necessária alquimia de transformação da sua
fragilidade, da sua verdade no nosso consolo na nossa companhia.
Ouço e vejo Barbara, releio o seu
"Il était un piano noir", passo os olhos ternos por alguns poemas da sua
integral “"Ma Plus Histoire D'Amour" e pressinto toda uma tessitura de uma alma
imensa.
Ali, leve, etérea presença, gota
de orvalho levemente iluminada e deslizante pelo palco e comovo-me. Quase irmã,
camarada de passeio interior nas palavras que caminham em melodia.
Ouço, vejo Barbara e tudo se
reunifica em mim. Opus - espaços de silêncio, nichos de plenitude necessários
depois de agitações perturbantes, ruídos inertes de essência, desertos afetivos
em avanço, máscaras afiveladas de deferência, servilismos de lugar-comum.
Ouço e vejo Barbara. Um dos
génios-voz mais marcantes do século XX. Imorredoira, intemporal, suave como
seda em pele nua, ou, planante águia ao sabor do vento. A sua voz-poema,
percorre a corrente de emoção que pede ainda cá dentro licença de habitação,
agarro o fractal de beleza silenciosa que por desafio se me oferece. Recebo-o
de mãos abertas e purificadas de aconchego.
Bom, no fim de um ano de "funcionário
cansado", esta bela voz, esta bela mulher que murmura, que reconta, que
dialoga, que denuncia, que violenta, que ama e nos ama.
Nada em Barbara de sofrimento
piegas, de romantismo açucarado, de emoção "light", ou histeria de vizinho de
lado, nada! Barbara canção, em carne viva, que se transmuta na própria canção.
Barbara de solidão fecunda de nunca o ser por agregação de outras, Barbara de
voz poesia, de dádiva, porque a sua mais bela história de amor, somos nós,
todos aqueles que a sabemos receber, aprisionar em nós a liberdade do silêncio,
da emoção sensível.
Ouço e vejo Barbara no Châtelet e
penso nas infinitas inutilidades canoras e poluentes que por aí abundam.
Percebo nela o génio, a imensidão do talento, a entrega a uma arte a uma missão,
a essa humildade de música d’alma que tão poucos conseguem atingir.
Ouço e vejo Barbara no Châtelet e
lembro-me das palavras da belíssima cantora peruana Susana Baca“ Com isto de
comunicação e de televisão, de repente reúne-se um grupo de miúdos com vários
acordes, repetem uma coisa e já os consideram músicos, com muita ligeireza. Têm
êxito, ganham dinheiro, mas é uma música de merda. Mesmo”
Perdi quase metade dos meus
colegas de Departamento. Neste processo de quase loucura normal, destroçaram-me
o Meu Departamento. Mais, tornaram simples colegas com largos anos de ensino em
simples aprendizes concursantes de não saberem amanhãs de profissão.
O Meu Departamento, das raras e
se calhar das únicas relações com colegas a valer a pena por eles, com eles e
com o cargo que exerci.
Alguma coisa morreu comigo hoje.
Uma longa rua impregnada de tristeza em mim. Para eles este indigno texto
dolorosamente magoado.
Madrugada. Saio na negra fria noite.
Acolho-me em triste café de esquina,
Entreteço laços de desespero de coisa nenhuma
De que é lavrado o pior sofrimento.
Perdido deserto na perda deles
Olho longa rua de incompreensão.
Arrancar laços dói mais
Que arrancar dentes.
Criaram mais heras em mim
Do que a vegetação permite,
Não consigo desprendê-las
Não consigo desprender-me.
Choro de lágrima tímida quer aflorar
Aprisiono-a ou não?
Deixá-la regar o verde doloroso
De que é feito um Homem.
Gostar-vos.
Estreitar forma fina firme
De nunca apartar.
Ficar. Só
Gostar-vos.
Fixa e indelével pegada
Ciência que vale a pena
Amo a Arqueologia.
Estamos ali de chapéu, de chapéus
E sorriso franco
Como sabor a amoras
Doces.
Suave murmúrio ao longe. Lembro.
"É tão difícil encontrar pessoas bonitas assim",
Tão fácil aprisionar ternura vegetal
Em mim.
Passeio o meu desespero numa rua deserta.
Vocês. Frágil folha viva caída,
Pouso-a ténue sopro na palma da minha mão.
E fecho rápido e suave os dedos.
Nunca mais vos liberto...Nunca mais!
O Vosso Coordenador( e com desculpa a Ana "fotógrafa")