quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Graças a deus...Havia Outro


O Prós e Contras,Já muito badalado, demasiado mastigado. Esperar dois dias e aproveitar para ouvir algumas opiniões de não professores: amigos, parentes, e ouvidos à espreita desabafos de café, de restaurante. E não me surpeeendi, nada mesmo. Cá em casa, um Professor e uma Educadora, a mesma sensação, o mesmo fascínio de um discurso, pouco assertivo talvez, dirão intelectualoides de pacotilha, mas eivado de fé, de esperança, de humilde sabedoria e sobretudo de paixão, de amor à causa como poucos.

- Grande Professor, o Velhote!

- Um Prof à “antiga”

- Que sorte os Putos têm , por ter um Prof assim!

- Que genica e vida tinha aquele professor velhote!

- O Homem era mesmo avançado!

- Viu-se que o gajo amava ser Prof!

- Os outros teus colegas é que pareciam velhadas !

- No meio daquela tristeza, salvou-se o tal Arsélio!

- Xi! Uma vergonha! Ainda não percebi nada do que os Profs querem! O Velhote deu uma lição de educação e saber!

Pois é! Na mediocridade geral, no quase nítido nulo que foi o debate, o grande vencedor caseiro e da minha pequena opinião pública, foi o Arsélio!

Onde nele saía interiorizado e verdadeiro, a paixão, a fé no futuro, a auto-crítica, a árvore da sabedoria, a perplexidade, a construção profissional belamente inacabada, a educação elegante e crítica, noutros a ignorância dos assuntos, o comissariado político, a malcriadez, a imberbidade emocional, o atabalhoamente entroncado na raiva , o chavão paupérrimo de camisola, o sono quase parlamentar de uns tantos, os risos entre o forçado e o alarve, o previsível, o viracasaquismo, o sorriso maquiavélico e superior de fila primeira.

Dele , as palavras e o vento que as foi levando, cavalos sem sela em largos descampados de imaginação. Nem precisava de loa idiota da moderadora, nem de tempo extra. Disse, e o que disse teve muita força, para quem o quis compreender por defeito e amor profissional, e teve outro tipo de força em quem não sendo professor, conseguiu perceber que o Arsélio, aveludava as palavras, transmitia-lhes a força, sabia do que falava. Olhava-se para ele e na sua cavalgada, via-se a serenidade de experiência feita, a criança traquina que ainda o habita, o adolescente garboso que não o larga, o jovem felino que abocanhou a profissão, o adulto que não se deixou infantilizar nas malhas do infantil, o velho sábio, que timidamente lhe quer acenar à janela! E tudo integrado, afagado no seu Eu-Profissional.

E falou, dos erros, dos grandes erros dos políticos e com pudor dos nossos, Professores, a brincar ás solidariedadezinhas, ao esperar das “ Lojas Tutela” pronto- a-vestir e a usar,até ao dia em que de tanto calo calcado e em perigo de amputação da dignidade, lá vamos percebemos que caminhar é de cabeça erguida e a pé firme! E falou do costume, do que pedimos por não ter, e de o termos por pedido, para depois, renegarmos o filho que geramos, da nosso constante luto autonómico, que berramos por ter, para quando temos possibilidade de o ter, nos encolhermos órfãos e medrosos de o exercer. E falou da diferenciação pedagógica necessária e deste hipócrita sonho do igualitarismo universal (adorável o “carpinteiro norueguês”), e falou do necessário repensar das reprovações, e da mudança radical dos tempos e do pensamento e dos miúdos e do processo de hominização, que só os fósseis pensam que parou, recusando mesmo os cantos idiotas, reacionários e ressabiados do regresso ao passado ou práticas de aprendizagem do mesmo. Não, não existe no Arsélio o “complexo Maschino”, não senhor! E confessou o erro, os seus erros, e não renegou o passado, e incorporou-o na procura de um novo presente, e disse o mais do que óbvio, que a nossa inteligência docente é superior aos neurónios rarefeitos da politiquice militante, e que nenhuma Reforma nos há-de fazer, porque nós somos a Reforma, e que esteve em todas e que foi à luta, e que é Homem de “ ir à guerra dá e leva”, e que E toda a gente reparou que aceitando o tempo, o Arsélio não lhe permite muita distância, qual tartaruga que sabe que vai “papar” a lebre de cebolada. 60 anos e um homem do seu tempo. Das tecnologias, mas sobretudo, desse amor feito arte que muitos docentes é ensinar! Nem um pingo de desesperança neste homem! Nem um vislumbre de azedume, de desistência. Mesmo respeitando os que o vão fazendo, acredito que o Arsélio deve estar a borrifar-se para as “alterações ao Decreto , qualquer coisa sobre Aposentação. O Homem pareceu-me ter “pilhas duracell” de paixão docente! E isso foi-me recarregando um pouco as minhas, que algo precisadas andam.

Um meu verdadeiro colega! De fibra, de se ver com quantos paus se faz um verdadeiro Professor Português! O Arsélio falou e depois...depois foi bonito vê-lo, num gesto entre a humildade, inteligência e bom-senso, ou talvez o menino dele a sussurar-lhe ao ouvido “ lembras-te quando eras menino e as aulas eram “secas pegadas” ? Abstrai-te e rabisca, rabisca sóis de amarelo intenso, casas gigantes e Pais ainda mais gigantes, e campos e flores”, dizia, O Arsélio baixou a cabeça (quase nunca mais olhou para o palco) e rabiscou, rabiscou! Como menino envergonhado, , resolveu ir dar uma volta, resolveu salta-pocinhas do caraças, ou Arsélio Guardador de Vacas e de Sonhos, procurar ar puro, naquela atmosfera asfixiante. Já não era dali.

Não sei quem ganhou, nem me interessa muito, embora tenha dúvidas se em coisas deste tipo, tenhamos alguma coisa a ganhar, quando nos esqueçemos que o nível cultural que nos devia habitar, não deve nunca descer ao nível da insipiência parola e saloia, dos nossos contestantes, mas ganhou o Arsélio na minha consideração e ternura, e pelo que ouvi e vou ouvindo, dos raros que naquele Prós e Contras ( mas houve Prós?), trouxe alguma dignidade aos Professores, aos olhos dos milhares de leigos que o foram vendo e ouvindo. Também assim se faz uma luta, uma imagem, se quiserem, uma sedução da opinião publica. Pela serenidade, pela categoria, pela elegância, pela solidariedade nas boas práticas docentes. E lembrar-me dos ataques, dos comentários entre o ordinário, o ressabiado, o invejoso dor de corno, de muitos Professores ao prémio deste colega, quando estes sacaninhas se calhar são os mesmos agora, empanzinados de aflição por lhes estar vedado o acesso ao Excelente! Como são invíos os caminhos de Deus, e Estampa-te e vai em frente os dos homens!

Ps: Só para bons entendedores: Não conheço o Arsélio, nunca lhe falei, só o vi de relance uma vez em Aveiro. Como tal, é mesmo admiração. Mas já agora...tenho por sina não ser homem de “cadeias”, nem de contactos via SMS, ( não tenho , nem nunca terei Telemóvel, tal como pó-pó), mas quando o Arsélio se Jubiliar, em Aveiro, ou na Noruega, se eu souber, lá irei, dizer-lhe solidário que é muito bom ter um colega Professor como ele! Maluquices minhas.

3 comentários:

Raul Martins disse...

Também gostei do Arsélio. Pena não ter sido mais acertivo, mas foi o espelho de quem fala com generosidade, humildade e com uma grande paixão porque vive, também, com paixão a educação. O que mais me sensibilizou foi o reconhecer dos erros, de todos e os seus erros - com tranquilidade - porque afinal todos erramos e eles servem para desbravar outros caminhos, no presente, em busca de futuros mais risonhos. Sensibilizou-me, também, apesar da sua idade, a sua grande esperança na vida, na educação, nos homens...
Eu também gostei dele.

Anônimo disse...

Gosta-se dele, mesmo às vezes não gostando... O Arsélio sabe que é assim - impossível fugir disso! Como impossível é não apreciar o belo texto-homenagem aqui "postado" pelo autor do blog. Parabéns, não sem a inveja saudável de quem tem pena de o não ter escrito.
marialice

JMA disse...

Dou-te boleia.