Confesso que não consegui. Queria ter conseguido, firmemente ter aguentado olhos castos até ao fim, mas foi-me impossível, insuportável. Abandonei a sala, onde a televisão parecia querer dar-me uma realidade de uma entrevista e de um entrevistado, que a minha inteligência sistematicamente tranformava em náusea virtual. Agora no escritório, na fuga das fugas de Bach, duas minhas fotos a impôr-se para este blogue. Porquê, não sei. Simplesmente gosto da metafórica imagem. Depois...depois dois poemas que são duas jóias de actualidade.
Ah! A receita para fazer um herói, pode ser cozinhada para fazer um político, vários políticos, imensos políticos em Portugal e na Europa, ditadorzecos, travestidos de democratas jurados por honra e mérito. Não, não é demagogia, nem sou de extremos, mas pura e simplesmente livre e democrata.Apesar de gostar deles, dos burros verdadeiros, Burro é que não, apesar de eles nos tentarem fazer passar por, na burrice deles. Como no poema: Já há muitos anos que me são servidos mortos... os políticos. E não me tenho impressionado nada! Gosto da Vida e quem tem vida dentro da vida, só isso.
RECEITA PARA FAZER UM HERÓI
Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.
REINALDO FERREIRA (Poemas)
Ditadores
Os cavalos inclinam as cabeças
e levantam os cascos.
Os ditadores de bronze cavalgam
pelas praças da Europa
cavalgam em silêncio por entre
adoradores do sol e pombas brancas.
Dão de esporas ao tempo, em segredo,
apontam-se uns aos outros
de todos os quadrantes.
Um canto mudo
escorre
de suas faces de bronze.
Dão de esporas ao tempo, em segredo,
como se horas desconhecidas se medissem
por suas longas sombras
E gira a sombra a cada um
no grande quadrante solar da mentira: L´'Histoire.
Gosta Friberg (Tradução de V.G.Moura)
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