AVALIAÇÕES
Vou começar esta postagem por uma frase que pode ser polémica ou não: sendo Professor, detesto avaliações de final de período!
Não sei se acontece a muitos colegas Professores, mas a mim acontece, por estas alturas, e no fim-de-semana que antecede as avaliações. Uns compreenderão esta minha reflexão, outros, nem tanto, porque sem ofensa, avaliar de final de período “é tão natural como a própria sede”, faz parte da sua obrigatória rotina docente, mais ou menos trimestralmente marcada. Da minha também, todavia, vai para anos que se instalou cá dentro com vontade arreigada de ficar, um hábito subtil que se repete no meu ser docente: “tout acompli”, avaliação feita, notinhas informaticamente lançadas, acontece-me no fim-de-semana anterior às reuniões “pró-fórmicas”, uma vontade imensa de isolamento, de um “estar em mim para comigo” que começa num cedo erguer por volta das 7 da matina, e se prolonga pelo entardecer de Sábado. A necessidade de me repensar Professor, de analisar a minha profissionalidade docente, de me (re)centrar com deves e haveres desta melodia deliciosamente inacabada que é, que vai sendo, ser “Prof”.
Assim, oito horas da manhã num café, ainda silencioso, vou escrevinhando com a minha caneta de tinta violeta e permanente estas frases que depois tomarão forma htm qualquer coisa num blogue que ninguém, ou poucos lerão. Escrevo, sereno de trabalho cumprido, e inquieto, de avaliações a participar. Diálogo curioso no silêncio de mim. Sei ao que vou, tenho que ir, mas não gosto particularmente do que dali sai. Não sei explicar bem porquê, nem sequer consigo vislumbrar explicação válida, mas as reuniões de final de período são uma espécie de um “tem que ser”, mesmo que eu não queira que sejam, sem saber muito bem o que poderão ser! E curioso, é que sou Professor vai para 29 anos! Admito outras opiniões de colegas, mas não tenho prazer, gozo, alegria nenhuma nestas reuniões! Costumo mesmo dizer gracejando que as trocaria e bom grado por quinze dias de aulas (estejam descansados que a Ministra actual, ou o futuro, Valter, não lêem o meu blogue)!
Neste acto formal de me dizer docente, a procura da máxima objectividade, dos pesos e medidas, do tudo registado e ponderado, naquele número a atribuir, todavia tanta subjectividade que vai bailando nos salões do meu solar de “Prof”! Um número - carimbo, simbólico, nivelado, mas certamente arredio de uma dádiva - recepção, encontros – desencontros, sorrisos – ternuras, de quase três meses de sala de aula e mesmo fora dela. Saber o que significa esse número – nível, mas não lhe exigir mais do que isso, não lhe dar atestados de verdade absoluta, de certeza incontornável, porque no processo educativo, isso não existe, humanos que somos, e como tal, gestores muitas vezes de imagens partilhadas de uns dos outros, mais do que realidades que arrogantemente julgamos ver. Para isto deveria servir e serve a Pedagogia e, lamento decepcionar os NN e MR, arautos encarniçados anti-pedagogia, que numa tendência cada vez mais neo-liberal e saudosista, procuram um “ontem que nunca mais cantará”, completamente ignorantes do que é uma escola e um miúdo hoje, uns, outros, mesmo sendo professores, desejosos de um ensino baseado numa relação autoritária, e unipessoal, musculada, que seria a salvação do ensino em Portugal – isto sim – ingenuidades pedagógicas! Mas vão tendo tempo de antena e vendendo livros, que vou lendo com aquele sorriso distante e brincalhão que a idade já me vai permitindo. Tenham lá paciência, mas gosto da Pedagogia, e no meu ser Professor a ela devo alguma coisa, para não dizer bastante.
Avaliar a minha “chavalada”, 2,3,4,5, está bem! Autoavaliaram-se e não mostraram discordância com a minha avaliação, ainda bem, mas e se mostrassem? Há dois anos, minha filha M, depois de ter um 4, quando achava que merecia um 5, e depois de explicar à Professor da disciplina que nunca tinha faltado, que era pontual, que sempre tinha feitos os tpc, que era empenhada, que participava na aula, atenta, com testes de Excelente e Satisfaz Bastante, etc, etc, levou um 4 e ainda um “ronco” da referida docente pela ousadia – questiona-me em casa com a sua lógica adolescente e imparável: Pai, para que serve a auto e hetero avaliação? Já viste um “Prof” mudar uma nota, só porque lhe pedimos outra e lhe demonstramos porquê? Fartei-me de rir! A minha M, estava por direito a perceber alguma “democracia” que vai cantando e rindo nas nossas escolas.
Fui justo? De que justeza? Fiz o que foi possível, ou poderia ter feito melhor? Aqui e ali, não poderia ter mudado estratégias, tentado opções, mesmo sacrificando timing programático? Depois, tenho a consciência que a imagem do aluno que construo, pode nem corresponder ao aluno verdadeiro e, que para bem ou mal, isso poder ter influenciado algumas observações não objectivas do mesmo? E que a aceitação da sua própria nota poderá advir do hábito de assumir o que assumido está?
Não gosto das reuniões de avaliação, pronto, o que se há-de fazer? E cada vez vou ficando mais silencioso nelas, mais ouvindo do que falando, e mesmo no último caso só o estritamente necessário, o valorativo e informativo, menos o comentário avulso ou despropositado. Não é por mim que as reuniões demoram, nem se estendam no tempo infrutíferas, muitas vezes! Como Professores, temos a mania que sabemos de tudo e é espantoso como ao longo dos anos fui verificando a inépcia de muitos colegas em saber reunir, em saber dirigir uma reunião, em aproveitar o tempo de uma reunião de avaliação, mesmo com a sobrecarga da burocratizada papelada! Há colegas Directores de Turma e colegas que têm o especial condão de complicar o fácil, de arrastar o que se poderia agilizar, de comentar o incomentável!
Uma reunião de avaliação deveria ser isso e nada mais do que isso, e outras deveriam existir, e existem, para dialogar mais profundamente sobre os alunos, os seus problemas, as suas caminhadas e tropeços nas aprendizagens. Aqui as notas já estão lançadas, pensadas, reflectidas, e o Conselho de Turma deverá sancioná-las e só em casos extremos, ou complicados, analisar o nível proposto por um colega, por isso o trabalho deveria incidir apenas e só sobre o essencial, mas algumas vezes (muitas?) isso não acontece, ou por cansaço, ou não saber estar em reunião, ou falta de liderança do Director de Turma, perdendo-se a reunião em minudências burocráticas, em jogos florais de reduzido interesse pedagógico, quando não em diálogos esparsos, ou mesmo comentários entre o parvo e o desajustado. Felizmente noutros casos, por razões inversas das apontadas, a eficiência da reunião, traz alívio de dever cumprido e até um não cansaço que é benfazejo.
Não tenho culpa…não gosto de reuniões de fim de período! No meu imaginário docente, vou ouvindo uma voz que me questiona frequentemente: o que gostarias de ser dispensado na tua pratica docente? Acreditem que a Ministros e Secretários de Estado, vem em 2º lugar as reuniões de avaliação: natalícia, pascoela, e de veraneio! Mas ensinaram-me que gostos não se discutem! Isso é que era bom!
Pronto, desculpem os olhares que me lêem, particularmente os meus colegas Professores! Uns, sorrindo, concordarão, outros, já os vejo muito humanamente corporativos, a ranger as mandíbulas de despeito, ou mesmo raiva contra estas aleivosias, mas, tenham paciência. Este blogue não nasceu para dizer améns a ninguém, nem para ser caixa corporativa de classe, nem sequer para agradar a colegas, nem pretende ser espelho de infantilizações docentes (um perigo da profissão e belo tema para um futuro post), nem caixa de ressonância de ódios inconsequentes de membros de um grupo profissional, que bem precisa no momento de inteligência, serenidade e solidariedade, mas sempre na verdade. Neste meu blogue, a Minha! Para outros fitos e, para todos os estilos e gostos da classe docente, outros blogues existirão.
Um comentário:
Como já disse, faz falta a tua heterodoxia, ou simplesmente o teu pensar. Também não aprecio por aí além estas reuniões. Mas "naturalizei-as" e compreendo a relativa importância familiar... Por isso, é tema que me não perturba por aí além...
Postar um comentário