quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Queria Tanto Que Chovesse...Amanhã



Amanhã apetecia-me que chovesse! Chuva de chuvada, daquela mesmo “chuvida” ! E muita chuva, que chovesse muito e a potes, como soi dizer-se! Mesmo com consequências nefastas para mim, mísero andarilho, seja de resfriado ou gripe anunciada, que não tenho, nunca tive, nem quero ter automóvel. Gosto da chuva, daquela às riscas, certa, não violenta, que se ouve de manso em vidraça embaciada, ou quentinho de cobertor - cama. Gosto da chuva, do seu plim no meu rosto, ou do seu peso líquido a escorrer na transparência. Gosto da chuva, da chuva dos meus sentidos, da chuva cá dentro, da melodia simétrica do seu cair, da liquidez do pensamento com que me mimoseia, da melancolia boa que me abraça. Gostava que amanhã chovesse muito, mas muito mesmo, mesmo, mesmo muitíssimo! Porquê?

Não digo! Ou…Digo?

Pronto, amanhã se calhar vou ter a minha primeira observação supervisionada! Mentira!? Verdade! Centenas de olhos a observar-me, a mirar-me à espera de algo que não posso nem tenho para lhes dar! Escolhido pelo meu Conselho Executivo para “maiata porrada” de Coordenador participante no Workshop (onde houve muito Work e pouco shop) , agora vou pagar o empréstimo com juros, e ter de transmitir em RGP, uma resenha mais ou menos animada sobre os temas de trabalho do dito workshop. É que tenho receio, porque partilho das estupefacções, das surpresas, das indignações de alguns colegas e alguns terão a tendência humanamente suicida de se indignarem, de falatarem, de rirem, de confundirem o “palestrante” com a coisa da palestra e sem quererem, exigirem que este humilde artesão de um simples workshop, tire coelhos de cartolas, que explique o inexplicável, que diga o que gostassem de ouvir, ou me confundam com entidades governamentais e sendo homem, só podem ser dois, os Excelentíssimos Secretários de Estado da Educação. É que não tenho nada, mas nada mesmo a ver com os senhores, com a vénia tutelar respeitosa para os ditos, ainda por cima com uma diferença bem marcada e sem petulância – sou um bocadinho mais bonito, pronto!

Portanto, centenas de olhos expectantes do estilo “diz lá ao que vens, maduro?” e eu sem nada nem de ir nem de partir, nem sequer de chegar! Avaliar competências na docência e supervisão pedagógica. Bora lá , que vai aço! Ou à moda do meu Porto, “dá-lhes com a barra de ferro na mona” ! Tem que ser! Mas dizer o quê? Que neste momento, não pode haver intermédio, nem “pilares de pontes de tédio” na classe docente? Que só pode existir escolha entre duas alternativas? A Imposição pura e simples ou o diálogo franco e aberto? A ditadura hierárquica com tiques de prepotência, ou a negociação responsável, o diálogo solidário, respeitoso e consequente entre avaliadores e avaliados? Que só num jogo assumido, inteligente e de efeito de espelho, será necessário projectarmo-nos no papel do avaliado como avaliadores e de avaliador no de avaliador? Mas também perceber que práticas e rotinas vão ter de mudar, que vai ser necessário fazer inflexões e evoluções na nossa maneira de ser e estar docente? Que só sendo humildes nos podemos agigantar e que aceitações de erros de percurso, de humanas escorregadelas, nos podem fazer crescer no nosso percurso profissional? Que aqui e ali teremos de pôr freio no nosso primário narcisismo, que a crítica construtiva tem de sobrelevar sobre a cegueira do poder hierárquico, que tudo vai mudar, sem mudar o que tudo pode e deve ser a essência do se ser verdadeiramente Professor!

Dizer o quê? Talvez isto, ou o meu imaginário a pedir: não digas nada! Manda-os ouvir a chuva! Como gostaria que chovesse amanhã! Como gostaria de mandar todos aqueles colegas para o campo de jogos e pô-los a ouvir a chuva, amar a chuva, cantar a chuva! Aproveitem o vosso tempo, sosseguem o teu coração, o tempo afastará a angústia e o desespero! Como desejava que chovesse! Talvez até deixá-los no seu imaginário docente, passear à toa, dando aulas ao vento, ao som de uma música que lhes assentaria bem! Parvoíces da minha parte! Excepto a música! Aí vai, amigos e raros Professores leitores do meu blogue! Particularmente para Ti, JMA, que parece que sentiste frio no dia mais frio do ano e resolveste aquecer o meu blogue interior com um teu comentário. Sem te conhecer, conheço-te desde o longíquo “Rumos”, a Ti e à Angelina, a Isabel Margarida, ao Antero, etc, etc. Isso sim , leitura – luzes que guiando-me pedagogicamente , me ajudarem neste feitiço que me não larga vai para anos o de desejar “ Ser quase um bom Professor”, como diria o meu primeiro mestre pedagógico de leituras Sebastião da Gama. Ah!

Esquecia-me, estás, estão completamente proibidos de usar guarda-chuva!

PS: ontem não foi possível a entrada do vídeo e como tal, já passou! Hoje não choveu, mas foi como se tivesse chovido. Aqui em casa, a tratar dos três parâmetros avaliativos, com descritores de banho tomado, jantar e História pela certa, por devoção de Pai e compromisso natalícios da minha T. Uma informação (zinha) : as fotos são minhas, a montagem minha, a música "emprestada" (Listen To The Rain) a esse trovador fabuloso tão pouco conhecido, chamado Eric Andersen de um álbum-tesourinho surpreendente " Ghosts Upon The Road"

5 comentários:

Anônimo disse...

Que magia! :) GRandessisimo bLog :)

Anônimo disse...

Caro amigo
Podemos ser poucos a visitar este seu magnífico e poético blogue...
Mas eu, pelo menos eu... , desde que o conheci não deixo de o visitar...
Bem haja e
Bom Natal

JMA disse...

Belo texto. Enquanto houver professores assim, há esperança. Um dia destes haveremos de tomar um café!

Anônimo disse...

Espetacular bLOg continue assim


PARABèns

prof emrc disse...

Só para dizer àqueles que vão passando por aqui, que correu bem, que se saiu bem, muito bem, como só o Ar/lindo sabe fazer. Brincamos com coisas sérias porque só pode ser assim, quando no horizonte, teimamos apenas ter, os nossos alunos.
RMCM