Porque odeio tudo o que querem impingir-me de um Natal que jamais será o meu, e porque vai ser Natal e aquele que é o meu, sempre foi o Teu, Minha Mãe...estas palavras em vários actos.
Neste destino de me cumprir homem no mundo, eles quiseram que me cumprisse. Desde o útero de minha mãe até hoje, a impressão digital indelével deles em mim! No vosso querer de querer-me, o meu querer de vos querer como pais! Vocês, elos de uma cadeia de não sei onde, até não sei quando. São os meus pais, aceito-o como dádiva cósmica de me saber deles porque me quiseram. Por vezes (na minha irritação adolescente, o desejo de os renegar, mas como? Como se pode renegar o que estando...é! Como ir contra o destino do desejo de me nascer mundo em carne viva, senão através do desejo deles? "Filho és, Pai serás",talvez não, mas,"Pais me fizeram ser, Filho sou", talvez sim!
Hoje, nenhuma mágoa, nenhum remorso, nenhuma recriminação! Tudo reintegrado em mim num equilíbrio terno de aceitação! Foram meus pais da forma que o souberam ser, porque não o souberam ser de outra forma, mas foram--no e são com autenticidade, com as suas forças e fraquezas, com as suas certezas e erros, com o seu fazer-me bem e o fazer - me mal pensando que me estavam a fazer o bem! Acusá-los de quê? Aqui, não há "ajustes de contas", porque nem existem contas, nem nada para ajustar! A vida fluiu, passagem do que tinha de passar e, o que aconteceu, circunscreveu-se ao momento, feliz ou doloroso, mas momento, que depois de o ser se tornou memória! Os meus pais, sulcos cavados em mim para sempre. Vales de felicidade, muitos, hoje a correr regatos de ternura no pensá-los, desfiladeiros de dor, outros, hoje fracturas cicatrizadas na planura de mim!
Primeiro Tu, minha mãe, sempre minha, sempre presente, apoio firme, "barco salva-vidas" quando o necessitei, vento de me por a navegar quando preciso, farol de aviso aos meus "encalhes"! E tão difícil escrever de minha mãe! O que dizer, que outros filhos não o dissessem?! A tua presença e, a maneira como me amavas, e amas, mostrou sempre a tua consistência de mãe. Desde o caminhar pela tua mão na Rua Escura, até a tua alegria sempre actual de me veres, mostraste sempre essa felicidade de me teres como filho, sabendo que a mesma é correspondida, de te ter como mãe! A tua fotografia sépia no meu escritório, grande, à vista, pendão de orgulho e gratidão de te ter como mãe! Soubeste de uma forma extraordinária, juntar a ternura e acção, a liberdade e os limites, o dizer sim e o não, o amparar e o "tirar a mão", o confiar, mas não o "cegar"! Contigo, os meus olhos de menino, o meu coração de adolescente, o meu terno racional de adulto, aprenderam o equilíbrio essencial do meu ser em crescimento! Mãe é para isso mesmo, tu tens sido isso mesmo!
Menina pobre de pais muito pobres, menina ribeirinha da Ribeira e de rua, sei que foi. De sua mãe, minha avó Micaela, recordo uma velhinha amorosa que adorava passear comigo na Ribeira cumprindo o seu ritual: "galão" com pão com manteiga no café dos Arcos e , depois “velinha" as Alminhas da Ponte, ou, vela e isca de bacalhau na casa do mesmo. Chamava-me "meu netinho" e; nunca me recusava acompanhá-la pela ternura e respeito que infundia. Viúva ainda nova, viu-se a braços com quatro filhos a criar e, criou-os! Nos últimos tempos da sua vida, enquanto as pernas lho permitiram, gostava de visitar a casa dos filhos e passear com os netos. Pelo choro e tristeza de minha mãe, apercebi-me da sua morte, embora houvesse a preocupação de me poupar, menino que era, a imagem da mesma. Deram--me as explicações tradicionais do ir para longe, para o céu. Acreditei.
Minha mãe menina a acompanhar a sua, calcada da Corticeira abaixo, calçada acima no transporte de molhos de carqueja, descarregada por barcos negros aportados no Douro. Por vezes não a acompanhava, pois no meio de duas ou três penosas subidas, ficava junto dos embarcadiços, que lhe ofereciam de comer das suas marmitas, doridos da sua fome. Conta minha mãe, que na fome que passava, aquela comida, por vezes mais requentada do que quente, lhe parecia um "manjar dos deuses". Passou fome a minha querida mãe! Mesmo mais tarde, durante a gravidez de mim, a vida não lhe foi fácil, pois o alimentar-se mal foi a causa do meu raquitismo. Nunca da boca da minha mãe, pós 25 de Abril: "No tempo do Salazar e que era bom!” , antes muitas vezes: "Era um rico filho da... Comíamos o pão que o diabo amassou!". Consciência da ditadura na fome que sentiu!
Neste destino de me cumprir homem no mundo, eles quiseram que me cumprisse. Desde o útero de minha mãe até hoje, a impressão digital indelével deles em mim! No vosso querer de querer-me, o meu querer de vos querer como pais! Vocês, elos de uma cadeia de não sei onde, até não sei quando. São os meus pais, aceito-o como dádiva cósmica de me saber deles porque me quiseram. Por vezes (na minha irritação adolescente, o desejo de os renegar, mas como? Como se pode renegar o que estando...é! Como ir contra o destino do desejo de me nascer mundo em carne viva, senão através do desejo deles? "Filho és, Pai serás",talvez não, mas,"Pais me fizeram ser, Filho sou", talvez sim!
Hoje, nenhuma mágoa, nenhum remorso, nenhuma recriminação! Tudo reintegrado em mim num equilíbrio terno de aceitação! Foram meus pais da forma que o souberam ser, porque não o souberam ser de outra forma, mas foram--no e são com autenticidade, com as suas forças e fraquezas, com as suas certezas e erros, com o seu fazer-me bem e o fazer - me mal pensando que me estavam a fazer o bem! Acusá-los de quê? Aqui, não há "ajustes de contas", porque nem existem contas, nem nada para ajustar! A vida fluiu, passagem do que tinha de passar e, o que aconteceu, circunscreveu-se ao momento, feliz ou doloroso, mas momento, que depois de o ser se tornou memória! Os meus pais, sulcos cavados em mim para sempre. Vales de felicidade, muitos, hoje a correr regatos de ternura no pensá-los, desfiladeiros de dor, outros, hoje fracturas cicatrizadas na planura de mim!
Primeiro Tu, minha mãe, sempre minha, sempre presente, apoio firme, "barco salva-vidas" quando o necessitei, vento de me por a navegar quando preciso, farol de aviso aos meus "encalhes"! E tão difícil escrever de minha mãe! O que dizer, que outros filhos não o dissessem?! A tua presença e, a maneira como me amavas, e amas, mostrou sempre a tua consistência de mãe. Desde o caminhar pela tua mão na Rua Escura, até a tua alegria sempre actual de me veres, mostraste sempre essa felicidade de me teres como filho, sabendo que a mesma é correspondida, de te ter como mãe! A tua fotografia sépia no meu escritório, grande, à vista, pendão de orgulho e gratidão de te ter como mãe! Soubeste de uma forma extraordinária, juntar a ternura e acção, a liberdade e os limites, o dizer sim e o não, o amparar e o "tirar a mão", o confiar, mas não o "cegar"! Contigo, os meus olhos de menino, o meu coração de adolescente, o meu terno racional de adulto, aprenderam o equilíbrio essencial do meu ser em crescimento! Mãe é para isso mesmo, tu tens sido isso mesmo!
Menina pobre de pais muito pobres, menina ribeirinha da Ribeira e de rua, sei que foi. De sua mãe, minha avó Micaela, recordo uma velhinha amorosa que adorava passear comigo na Ribeira cumprindo o seu ritual: "galão" com pão com manteiga no café dos Arcos e , depois “velinha" as Alminhas da Ponte, ou, vela e isca de bacalhau na casa do mesmo. Chamava-me "meu netinho" e; nunca me recusava acompanhá-la pela ternura e respeito que infundia. Viúva ainda nova, viu-se a braços com quatro filhos a criar e, criou-os! Nos últimos tempos da sua vida, enquanto as pernas lho permitiram, gostava de visitar a casa dos filhos e passear com os netos. Pelo choro e tristeza de minha mãe, apercebi-me da sua morte, embora houvesse a preocupação de me poupar, menino que era, a imagem da mesma. Deram--me as explicações tradicionais do ir para longe, para o céu. Acreditei.
Minha mãe menina a acompanhar a sua, calcada da Corticeira abaixo, calçada acima no transporte de molhos de carqueja, descarregada por barcos negros aportados no Douro. Por vezes não a acompanhava, pois no meio de duas ou três penosas subidas, ficava junto dos embarcadiços, que lhe ofereciam de comer das suas marmitas, doridos da sua fome. Conta minha mãe, que na fome que passava, aquela comida, por vezes mais requentada do que quente, lhe parecia um "manjar dos deuses". Passou fome a minha querida mãe! Mesmo mais tarde, durante a gravidez de mim, a vida não lhe foi fácil, pois o alimentar-se mal foi a causa do meu raquitismo. Nunca da boca da minha mãe, pós 25 de Abril: "No tempo do Salazar e que era bom!” , antes muitas vezes: "Era um rico filho da... Comíamos o pão que o diabo amassou!". Consciência da ditadura na fome que sentiu!
2 comentários:
Fez-me chorar.
Continue assim
Tambem a mim. 19-09-09
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