domingo, 6 de setembro de 2009

POLÍTICA II

Não, não é só ao “menino açoitado” que dedico um sarcasmo especial. Também do “lado mais floral”, existem figuras políticas pelas quais nutro um desprezo e uma ácida ironia, que provêm de ter lido o que defendiam, o que pensavam e, o que hoje se transformaram em executores de prática política. Alguns, no poder ou na oposição, são aquilo a que já no século XVI Erasmo apelidava de “raça vil e rastejante” – os cortesãos. Quantos e tantos nos partidos d’ hoje! Vejam se reconhecem o autor este belo naco de prosa de 1995!


“Ademais, há sempre uma coisa que se fica a saber, em cada verão - neste, por exemplo, com eleições à porta (...), topa-se que o Portas é fino, fica bem tratá-lo por Paulo nas entrevistas, mas o Pacheco Pereira não, ninguém se lembra de lhe chamar ó José!, é Pacheco Pereira e vamos embora que é tarde.


Mesmo finos, os candidatos a salvadores da Pátria têm de descer ao povoado, comovem tanto as sensações dos beijinhos às massas que eles nos comunicam nos seus artigos de campanha, a isto se chama ser mediático, e são tão sinceros na sua imersão no real, querem à viva força pertencer às colectividades, ler a imprensa regional, visitar os mercados, defender os interesses dos distritos! As férias, para eles, não duraram o Agosto todo, antes da campanha é preciso fazer a pré-campanha e antes da pré-campanha é preciso fazer a pré-pré-campanha.




As coisas estão por decidir e por isso já era possível ver, no Oeste, uma faixa posta para as visitas dos candidatos: "Saudamos o futuro primeiro-ministro". Sem mais especificação, que é grande a sabedoria do povo português, e assim, qualquer que ele seja, sempre lhe fica a obrigação moral de atender ao fontanário.




Ai belo Agosto, que acabaste! Agora, que os fogos esmorecem, a praia não convida e o trabalho nos constrange, recomeça o ciclo dos disparates que já não podemos desculpar porque já não estamos de toalha ao ombro.




O PP continua a brincar com a fogueira da demagogia populista. O PC, amarrado ao "tempo, volta para trás". O PSD tenta que nada se discuta e nada se proponha, enquanto as facas se preparam para o dia seguinte à derrota. O PS cultiva a vocação suicida, em honra da qual sempre que há alguma possibilidade de vitória saem dois ou três baronetes de terceira apanha a distribuir trunfos pêlos adversários.




Face ao que, e ao que cada um de nós tem de suportar, no emprego, no trânsito, no tele-lixo e quejandos, resta praticar as virtudes teologais em onze meses do ano: a paciência para com os pobres de espírito e a esperança em que a gente com ideias e coragem não seja esmagada no caminho. “



Claro que quem não muda é burro, dir-me-ão alguns, mas mudar, perdendo a essência das ideias, de projectos de vida, de ética de construção interior, custa-me aceitar, adepto que sou do “Homem de um Só Rosto e uma só Fé” , com a interpretação que lhe atribuo, e que me desculpe o Sá de Miranda.

Pois é, este belo naco de prosa é de um actual Ministro, que ainda cheguei a conhecer como brilhante aluno de História na FLUP. Sobre as crónicas esclarecidas que escrevia no Público nos anos de 95-96, e os disparates e dislates que foi somando no seu reportório, e, sobretudo sobre a sua ascensão como independente via Estados Gerais a figura tutelar e indefectível do actual partido do governo, vai uma distância de um enorme esgar no meu rosto, que nem sequer é de riso, aqui com o pequeno livro à minha frente. Uma irritação inexorável em mim quando vejo esta personagem.


Novamente, com o poeta “Os políticos estão completamente prostituídos: enfeitam-se para a praça pública, engolem tudo e cobram sempre. Talvez eu não deva generalizar.”

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