CAMÕES DIRIGE-SE AOS SEUS CONTEMPORÂNEOS
Podereis roubar-me tudo:
As ideias, as palavras, as imagens,
E também as metáforas, os temas, os motivos,
Os símbolos, e a primazia
Nas dores sofridas de uma língua nova,
No entendimento de outros, na coragem
De combater, julgar, de penetrar
Em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
Suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
Outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
Será terrível. Não só quando
Vossos netos não souberem já quem sois
Terão de me saber melhor ainda
Do que fingis que não sabeis,
Como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
Reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
Tido por meu, contado como meu,
Até mesmo aquele pouco e miserável
Que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
Que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu, E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.
Metamorfoses
3 comentários:
Nunca calhou ler Jorge de Sena. Por onde começar?
E já agora, quais para ti os 3 livros mais injustamente esquecidos da literatura Portuguesa?
Eu não tenho leituras para uma lista dessas, mas li recentemente "Nome de guerra" e "A noite e o riso" e parecem importantes. Eu dei com eles por acaso, o primeiro por acaso e o segundo numa velha entrevista do Lobo Antunes (a republicação da obra tinha-me passado depsercebida).
Abraço.
Começar por Sena, por estranho que pareça começaria pela sua abundante correspondência, muita dela publicada pela INCM, ou talvez pelo " Génesis", livro de contos.
Três livros injustamente mais injustamente esquecidos da Literatura Portuguesa?
- Silêncio para 4" de Ruben A. - Um romance ímpar, de uma beleza e crueza dolorosa sobre a vida de casal, quase sobre a impossibilidade da vida a dois.
- "A-Ver-O-Mar" , ou "Morrer a Ocidente" da Luísa Dacosta, uma das mais fantásticas escritoras do século XX português. Preciso de a ler para a respiração marítima que não tenho!
- "Bacoco É Bacoco, Seu Bacoco" de Arnaldo Saraiva, um livro de crónicas sobre o Porto que me leva às lágrimas!
Mas a pergunta é armadilhada, porque há centenas injustamente esquecidos, engolidos pelos famigerados, pelos abençoados dos deuses da promoção e por aí fora !
Só um tolinho como eu, ou tolinhos afins, lêem hoje essa pedra preciosa Irene Lisboa!
Abraço!
Obrigado.
O Arnaldo Saraiva tive de ir ver quem era e encontrei esta resposta a um inquérito, também sobre as grandes obras em lingua Portuguesa:
http://olamtagv.wordpress.com/2009/01/11/inquerito-olam-arnaldo-saraiva/
Abraço.
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