sábado, 27 de setembro de 2008

Outonal Pacificação

Apesar de tudo , muita serenidade neste Outono ainda longínquo. Nasceram de duas respostas a postagens de dois excelentes blogues, o da Teresa (Tempo Teia) e o da Isabel( Memórias Soltas de Prof). No da Teresa com o belíssimo e esclarecedor título " Alunos: zero - resto: tudo", no da Isabel a um extraordinário haikú de Bashô.

Textoutono

Cai...
A primeira acastanhada
folha-texto de Outono
Na minha serenidade.

Brilham na Teia
os olhos orvalho
da incansável e bela tecedeira.




Dança

Como bailarina em pontas
descia a amarelada folha
suave, delicada, em doce rodopio...
Paixão da queda.


segunda-feira, 22 de setembro de 2008

OLHOS E OLHARES...PARA ELE(s)

Brincadeira realizada para um grande amigo tribal-blogosférico...e desculpa qualquer coisa R
A tradução livre do poema é minha tirada das versões espanhola, francesa e inglesa do libreto. A música, dessa voz-deusa de Arianna Savall, do seu álbum "Bella Terra". Ulls, a canção.


Olhos

Teus olhos de pura livre infância
abrir-se-ão amplas janelas. Livre de bruma e lamento
será o seu olhar distância.


O olhar nostálgico dos teus olhos
espanto do primeiro dia do mundo
depurado do grande resplendor


Quando como diamante lapidado
Encontres os olhos límpidos da infância
Que doçura sedosa terá o orvalho
E o pensamento, que alegria!
Tomàs Garcés




domingo, 21 de setembro de 2008

O livro de Leituras de Fim de Verão

Pronto Raul está satisfeita a tua curiosidade...mas antes:

A editora era a “Livros Horizonte”, a colecção, essa preciosa Biblioteca do Educador Profissional, Biblioteca do Educador a partir do nº 100. As obras ,muitas delas excelentes, de autores que me marcaram de forma indelével, fossem Arno Stern, para a arte infantil, W.D. Wall, para a adolescência, ou Rui Grácio e Bartolomeu Valente, para a “escola viva, de alunos em carne-viva”. Alguns livros mereciam reedição, e se existem, jazem apagados e tristes nos escaparates de alfarrabistas.


O livro, objecto das postagens “Leituras de Fim de Verão”, é raro de encontrar como já referi e, passou despercebido no meio de tanto livro de qualidade da dita colecção. Merecia sem dúvida reedição, por razões variadas nomeadamente, pela riqueza da escrita, pela multiplicidade de leituras que proporciona, pela reflexão-afeição-rejeição que pode proporcionar ao leitor, e mesmo pela raridade na bibliografia portuguesa da escrita docente autobiográfica, do contar-se interno do ser docente.

Malik, Leonor Arroio “OS CASTRADORES DO REINO”


E repito, por muito que isso custe à rotina, ninguém consegue ser um profissional em construção, sem se repensar, sem inflectir depois de reflectir, sem se revisitar no seu passado presente, como forma de se projectar em novas formas de ver, de sentir, de pensar e agir! Sem descurar lutas externas a poderes que nos querem sufocar, não arranjemos álibis, para a necessária luta interna, para grande pesquisa interior, para a luta sistémica e interrogativa com o nosso ser profissional. Se não o fizermos, Professores poderemos ser , mas daqueles que como dizia Malik, não sabem ao que vão, nem ao que querem, estando-se simples, mecânica e funcionalizadamente ao serviço de um sistema, de um “patrão” mais ou menos visível. E nem sequer digo que estes não sejam felizes, são-no, certamente, daquela felicidade alquímica “autista”- docente que transforma tudo no vulgar, na realidade comezinha, no “está-se bem , mesmo não estando”, ou seja, numa inconsciência profissional, que apenas fogachos fazem tremelicar. Com toda a sinceridade, e na minha opinião, uma das grandes tragédias dos Professores Portugueses, a aceitação, o deixar estar, o rejeitar sem pensar para depois aceitar lânguidamente, o fatalismo da canga, o esperar dos outros, sejam Sindicatos, Movimentos, blogues o que interiormente nem sequer conseguimos catapultar, precisamos de mobilização até para pensar, até para termos opinião, o acusarmos e etiquetarmos, sem ler, conhecer, criticar e apresentar alternativas.


Por isso caros amigos e parcos leitores, livre, sempre nessa continuada e por vezes dolorosa procura de quebra de grilhetas que me querem prender, solidário, até onde a solidariedade se entremeia com a minha liberdade, pacífico, até onde a minha inquietude permite, sempre a existir mos meus instantes, porque como escrevo no quadro aos meus “adolunos” “ quebrar, podem , torcer nunca!”, pegando no meu querido Sá de Miranda.


LEITURAS DE VERÃO VI

Para terminar, um texto final:

O Que Nunca Vem Para o Ponto


"Todos os dias. Ainda mais uma vez. Mas hoje, não!

Hoje nos olharemos, ultrapassando esta barreira antiga.


Reencontremos-nos hoje e toquemos-nos com palavras, num espaço novo. (...)



Nós, já há muito nos fomos. Desde que, sem ainda termos pecado, nos acusaram de não sermos a imagem dos vossos sonhos.


Mas eu não vos abandonei, verdadeiramente! No fundo, sempre duvidei de mim, mas tinha medo de acreditar nessa dádiva e, depois, não encontrar mais nada.


Então, nunca nos olhou! Nunca viu a luz deste nosso olhar, o contorno destes nossos gestos, de contrário, isso lhe teria chegado para aceitar essa divida e em nos se redimir.


Talvez seja culpada, mas, mesmo quando me olhava, a mim, e escutava as minhas próprias palavras, fazia-o porque queria ser digna desse vosso olhar. Queria que também me ouvisse, a mim, e assim, permanecer no vosso futuro.


E conseguiu-o! Nele permanecerá como a sombra que nos dividiu em dois, que nos fez perder a memória do que éramos e a alegria de acreditarmos em nós. E em si, também. Quando definitivamente nos fomos, levámo-las connosco. Hoje já só esses seus sonhos sabemos reconhecer, que os nossos, por suas mãos, se perderam.


Mas é preciso reencontrá-los! Eu preciso de vos ajudar a reencontra-los para diminuir esta minha culpa. Eu quero reencontrá-los, porque também preciso deles.

E assim nos pretende usar, ainda mais uma vez! Primeiro fomos o utensílio com que tentaram fazer esse vosso mundo sem nunca nos perguntarem, se também nós o queríamos. E agora, que se perderam nele, querem que sejamos nos a dar-vos o que antes nos tiraram. Pois chegaram tarde! O deslumbramento vazio em que nos forçaram, é tudo o que temos agora. Esquecidos nos encontramos do que um dia, pudéramos inventar. Tão-só sabemos consumir o que lá colocaram para nós.

Ah, mas eu não esqueci, eu nunca esqueci! Eu posso ensinar-vos outra vez a recuperarem-se para que, juntas nos salvemos.

Vimos que ainda não se esqueceu que esta aqui para nos ensinar. Exactamente. E nós, como vê, somos bons alunos. Engolimos todo o saber que nos transmitiu, moldámos-nos com as suas palavras, repetimos todos os seus gestos, seguramos tudo com tal força que ficamos assim colados ao espaço do seu saber, e quer agora ajudar-nos a descolá-lo, a renegar a nossa nova pele?


Não, eu nunca pretendi ensinar-vos fosse o que fosse. Acho que queria era que vocês saíssem outros, descobrissem algo de novo, viessem a ser diferentes. Esse, era o meu sonho!

E somos diferentes, acredite! Diferentes do que éramos para ser, se a sua imagem não nos tivesse ensombrado a vista. Por si, nos foi anunciado o mundo, o caminho já pronto para os nossos passos, tudo devidamente arrumado nos lugares, era só servirmo--nos! Ninguém nos perguntou nada, pois não? (...)


Acham então que os abandonei, talvez por me terem abandonado primeiro, a mim?

Não se abandona o que nunca foi nosso! Pode-se é não aderir. Nós rendemo-nos aos bens com que fomos conquistados: trocámos o que tínhamos, porque nosso era, com o que agora temos e que seu, é; o que desejávamos, porque de nós nascia, com o que agora desejamos e que de si, nos vem. Somos outros que aqui estamos, não os que encontrou no primeiro dia, lutando por um lugar a seu lado, no seu espaço. Abandonados, somos nós próprios portanto, que nos retirámos derrotados desta luta e nos escondemos onde nos não encontremos mais, senão certamente nos juntaríamos aos que, sem a abandonarem, se foram.


E esses, que fazem esses lá fora? Lembrar-se-ão de mim?

Ah! ainda a preocupação da sua imagem! Lembrá-la-ão certamente com mais consideração que nós, porque a venceram, nós não!


Por lá andam pelo mundo que a si se deve, lutando talvez por merecerem a vitória deles, aqui. Porém, duvidamos que venham a ganhar a guerra."