quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Leituras de Fim de Verão II

Um extracto do livro citado na postagem anterior. Vou continuar a abrir o apetite ao Raul e como tal, para já, a manter a incógnita do livro e da autora. Na Net não existe nada, apenas e só a a confirmação que a colega continuou Professora e até escreveu outro livro. O título do Livro do qual publico alguns extractos, é de enorme beleza metafórica. Teve apenas uma primeira edição e bastante restrita e ainda hoje é muito difícil encontrá-lo mesmo em alfarrabistas.


MONTEMOS O CENÁRIO

"Num vasto espaço de incontida desarmonia, alguns blocos alinhados erguem-se a pique na paisagem, modernas formas de uma geometria esvaziada do viver que um dia lhe deu forma. Assim implantados, espalham-se sob o olhar com a violência de uma arrumação desordenada. Acima de tudo visiona-se a vastidão desmesurada do espaço como uma chaga aberta aos ventos, cortada aqui e ali pela crueza segmentada da arquitectura de cada bloco. Não os distingue a cor ou o contorno, tudo indiferentemente mergulhado na nudez de nenhuma cor, no deslavado tom do inacabado, por sob o céu de largas vistas, continuo e imenso, para onde quer que se lance o olhar, como se tudo aquilo pertencesse a um desabitado cosmos.


Mais de perto, descobre-se a inutilidade absurda de uma cerca de ferro, quase adivinhada pela largueza do desenho a que obedece, de encontro a um fundo de coisa nenhuma, que lhe absorve a suposta finalidade delimitadora. Arremata-a o esperado portão aberto e quase leve, perdido na aridez de tanto espaço. Por ele se entra com a incómoda sensação dessa perda, que nos atinge corto se, por ali, tudo jazesse esquecido da ideia inicial, do fim primeiro que tivesse levado a sua existência. Nada parece servir ao que serve, sem que se compreenda para que teria afinal sido pensado. E assim, duvidosos, estacam os que pela primeira vez ali entram, pouco depois de atravessar o portão, desconsoladamente procurando a passagem que detenha o significado de uma entrada e de sentido ao caminho que seguirem.
Está-se numa escola da década de oitenta, em Portugal."

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