terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Afinal O Que Fazer I ?


Sejamos claros: em tudo isto há um “timing político” bem marcado, uma vontade inequívoca de criar bibliotecas de legislação, de pôr com mais ou menos eficácia a funcionar um edifício educativo, mesmo que não funcione, para parecer que sim e apresentar-se no dito fatídico dia com obra feita, com montes de realizações. A multiplicação dos pães e dos peixes, foi no tempo de Cristo, e este governo não anda propriamente mãos largas, sim mais avaro, quase diminuição dos mesmos. Portanto um objectivo claro, em 2009, uma cruzinha num papelinho, encestado com mais ou menos perícia num “caixotim “, que há quem lhe chame urna de voto, principalmente para adeptos fervorosos, ou classe média desmemoriada, ou deverei dizer…desmiolada?


O poder não é burro, faz-se, para burros acreditarmos nele. Nem é preciso ter andado na vida política, nem tirar curso especial, para entender esta imperícia, para uns perícia, dos partidos no poder, marcaram calendário com realizações mais ou menos apressados, ou mesmo obras -pastelão, para literalmente esbugalhar olhos de Zé -Povo, que tristemente nem é o do Bordalo, nem sequer manguito sabe fazer.

É uma triste sina da democracia portuguesa, que alguns comentadores ou não, à força de nos quererem fazer acreditar no esfarrapado discurso da normalidade, da confiança, quase nos levam ao normal e confiante encolhimento dos ombros “é sempre assim” ! E ganham-se eleições muitas vezes por ser sempre assim. É minha convicção que o ataque ao grupo profissional dos Professores, é-o, não o sendo, ou seja, não existe uma intenção directa, conspirativa, de gabinete contra a classe docente nestes disparates legislativos, antes uma submissão de vontades, um vai tudo para o mesmo tacho, um desejo de transformar os docentes em matéria de refogado, para cozinhado de cozinha “Michelin”. As estrelas virão depois.

Assim, nós Professores, a fritar em lume brando, que bom refogado assim se faz. Saltitamos estaladiços, com vontade de sermos outra coisa, menos matéria de cozinhado, todavia, ou por manifesta falta de sorte no salteado, ou porque outras cebolinhas adoram ser alouradas, ou mesmo porque nem fazer chorar o cozinheiro sabemos, olhamos da sertã com desespero, e nem tempo temos de um salpico: estamos fritos.
Assim estamos! Estaremos? Não sei. Da minha confusão de o estar, algumas dúvidas e muitas poucas certezas, e não menos questões, embora diferentes daquelas que geralmente se têm, ou porque não se leu, ou não se quer entender o que se leu.

Questão A – Amanhã, tal como centenas de escolas, (será mesmo?) o meu Conselho Pedagógico vai aprovar um documento durinho, e certamente por unanimidade contra o estado actual das coisas, relativamente à avaliação de desempenho e mesmo contra a proposta do novo regime jurídico da gestão escolar. Pronto, vamos ser sensatos, sensíveis e firmes, todavia fica sempre a mesma questão no ar: cumprimos o nosso dever, mostramos a nossa indignação, revelamos que não andamos distraídos … todavia o nosso sentido de aprovação representa o quê e quem? Quantos docentes verdadeiramente se reverão no que aprovado for? A voz do Conselho Pedagógico neste caso, não é a voz de centenas de Professores de uma escola, ou pelo que me atrevo, nem sequer da maioria.

Nota-se indignação? Pois nota, se calhar na mesma proporção da indiferença, do laxismo, do logo se verá, de ainda nem sequer se saber o que se está bem a tratar, porque não leitura, ou reflexão de qualquer espécie. Atrever-me-ia mesmo a afirmar que uns outros tantos, pelo silêncio, ou pela atitude, mostram até alguma simpatia pelas medidas governamentais e até empatia com a actual equipa ministerial da educação. Vário tipos de afeições, ou falta delas. Impossível mesurar apoios, amores ou desamores, quem marca mais ou menos pontos, porque nesta “luta”, não cabe conversa de sala de Professores, ou café matinal, lamento. Há quem consiga à vista desarmada eu não!

B- Mais um papel de desagravo, de protesto, de indignação, mas para quê? Para nos sentirmos justificados, para a nossa catarse mais ou menos colectiva, para aligeirar a nosso incómodo, a raiva, para dizermos que sim à nossa “dignitate” ? Tudo bem! Mas…não sejamos ingénuos, nem os papéis serão avalanche, nem chegarão a destino tutelar sonhado! Por vezes fico abismado com o desconhecimento da parte da classe docente, dos meandros kafkianos do poder instituído. Lixo, trituradora automática, antes do destino, antes de Srª ou Vº Excª lhe deitarem olho. Então atarefados como estão, iriam lá ler indignações. Estrebuchamos com “panache”, com espinha direita, mas do lado de lá receberemos o sorriso seco e pardo do desprezo, da indiferença. Por muito que me custe admiti-lo, o longo da minha vida docente, assinei dezenas e dezenas de petições, desagravos, e quase totalmente eficácia zero! Mas, nem por isso, deixo de o fazer, apesar de gostar cada vez menos de cadeias.

C- Afinal, o poder educativo pode abanar pelas bases? Só numa revolução! Aqui, e agora acredito que ele poderia abanar pelas cúpulas, e nem preciso era das do tamanho de S. Pedro.
Ironia das ironias, tem sido da IGE e do seu alto responsável, as atitudes-palavras que na minha opinião mais peso têm tido nas orelhas moucas do ME. E dúvidas não tenho que se houver um recuo, na posição ministerial, será o peso institucional deste órgão, ou outros, que fará a diferença! Lamento irritar os meus poucos leitores, mas os Professores actualmente têm pouco poder, e cada vez terá menos, arriscar-me-ia a dizer nenhuns, seja com que governo for do bloco central que nos vai (dês) governando. Mais uma vez faz bem acreditar que sim, que seremos sempre uma força intransponível, quase muralha de aço, mas não somos. Apenas e só funcionários obedientes e cansados, quando muito, irritados de vez em quando, só para mostramos que existimos como classe!


- Nem penses, és parvo, é anticonstitucional, lá estás tu a ser pessimista, isso iria ter um peso político terrível! Nem parvo, nem pessimista, nem peso político, quando afirmei dezenas e dezenas de vezes a colegas vai para anos, que nos iria ser sonegado o direito à greve nas avaliações e exames. E foi-o! E…ninguém se martirizou, pudera. Como não tenho dúvidas, e só um ingénuo, ou candidato a político de carreira é que pode não acreditar que nos três, quatro anos próximos, num drama terrível, milhares e milhares de professores serão literalmente postos na rua, mandados para os quadros de supernumerários, seja com que governo de cor centralista for! Aliás a sangria que aí se vai aproximar com o fim das de EA, FC, ou AP, vai colocar muitos Professores, onde?

Nenhum comentário: