Calculo que muitos colegas têm o livro apresentado na gravura, ou pelo menos conhecem-no, como tal, este post poderá não ser para eles, ou pelo menos contribuirá para ajudar a reviver a oportunidade de nos confrontar com algumas verdades inconvenientes. Se não conhecem este livro, ele não é para comprar amanhã, mas sim ontem!
É um livro formidável, belíssimo na realização fotográfica, com textos de uma clarividência e simplicidade notável, ao mesmo tempo um manancial – memória da História da Educação em Portugal, como poucos. O CD que o acompanha é um tesouro para aqueles que estudam ou esperam vir a estudar esta temática da História da Educação.
Partilhando da opinião do Professor Nóvoa, que é preciso recusar, não posso ao reler este livro deixar de ficar com um travo amargo no pensamento: será mesmo uma fatalidade, uma marca genética este atraso endémico educativo em Portugal? A inconsequência de lutas, de miríades de realizações que não conseguem mobilizar, inverter, propulsionar para um futuro educativo melhor?
O António Nóvoa é assim mesmo, profundidade na simplicidade de escrita, e acima de tudo, um poder de análise e de interrogação sobre a realidade educativa como poucos.
Os textos introdutórios e finais que escreveu para este livro , são hoje tão actuais como o foram quando saiu a 2º edição que eu possuo de 2005. Na entrada “Este livro” , escreve com uma acutilância sem mácula “ (…) À medida que as páginas avançam, o leitor deparar-se-á, provavelmente, com um sentimento de estranha familiaridade. Como se estivéssemos sempre a discutir as mesmas matérias, e sempre da mesma maneira. Como se, no campo da educação, não houvesse a possibilidade de acumular conhecimento, de nos apropriarmos da experiência histórica e de sobre ela praticarmos um exercício de lucidez. Estranha familiaridade de uma litania discursiva, pedagógica e política, que não soube substituir o alarido e a crença, a crença e o alarido, pela lenta serenidade das realizações” , para na entrada “textos” culminar com este belo extracto “ (…) A partir de certa altura tudo depende da tolerância de cada um é natural que se experimente um sentimento de desconforto e até de alguma frustração. Há uma redundáncia, irritante na forma comoo se fala da educação. Parece que está sempre tudo na mesma. E que Portugal nao consegue, por mais esforços que faça, por mais reformas que anuncie, sair do lugar onde sempre esteve, pelo menos desde os primórdios de Oitocentos a Cauda da Europa. Curiosa metáfora, esta, que as transformámos numa “realidade sem memória”.
Partilhando da opinião do Professor Nóvoa, que é preciso recusar, não posso ao reler este livro deixar de ficar com um travo amargo no pensamento: será mesmo uma fatalidade, uma marca genética este atraso endémico educativo em Portugal? A inconsequência de lutas, de miríades de realizações que não conseguem mobilizar, inverter, propulsionar para um futuro educativo melhor?
O António Nóvoa é assim mesmo, profundidade na simplicidade de escrita, e acima de tudo, um poder de análise e de interrogação sobre a realidade educativa como poucos.
Os textos introdutórios e finais que escreveu para este livro , são hoje tão actuais como o foram quando saiu a 2º edição que eu possuo de 2005. Na entrada “Este livro” , escreve com uma acutilância sem mácula “ (…) À medida que as páginas avançam, o leitor deparar-se-á, provavelmente, com um sentimento de estranha familiaridade. Como se estivéssemos sempre a discutir as mesmas matérias, e sempre da mesma maneira. Como se, no campo da educação, não houvesse a possibilidade de acumular conhecimento, de nos apropriarmos da experiência histórica e de sobre ela praticarmos um exercício de lucidez. Estranha familiaridade de uma litania discursiva, pedagógica e política, que não soube substituir o alarido e a crença, a crença e o alarido, pela lenta serenidade das realizações” , para na entrada “textos” culminar com este belo extracto “ (…) A partir de certa altura tudo depende da tolerância de cada um é natural que se experimente um sentimento de desconforto e até de alguma frustração. Há uma redundáncia, irritante na forma comoo se fala da educação. Parece que está sempre tudo na mesma. E que Portugal nao consegue, por mais esforços que faça, por mais reformas que anuncie, sair do lugar onde sempre esteve, pelo menos desde os primórdios de Oitocentos a Cauda da Europa. Curiosa metáfora, esta, que as transformámos numa “realidade sem memória”.
Mas Nóvoa quer recusa esta ideia de quase fatalismo que vinha do século XIX, e como Antero, é adepto do rompimento com o passado, não o do esquecimento, da negação ou omissão, mas a sim a recusa, suportada no conhecimento, no estudo, na investigação e compreensão.
Na entrada “Evidentemente”, que dá título ao livro, António Nóvoa vai mais longe e impiedosamente zurze a eito em ideias feitas, em certezas adquiridas, nas incongruências daqueles com mais ou menos responsabilidades, são os causadores de um equívoco, o de que a educação trará uma Revolução . Vejamos : “ Tudo são evidências nos textos e nos debates, nas políticas e nas reformas educativas. Ninguém tem dúvidas. Todos têm certezas. Definitivas. Evidências do senso comum. Falsas evidências. Continuamente desmentidas. Continuamente repetidas.
Crenças. Doutrinas. Visões. Dogmas. Tudo misturado numa amálgama de ilusões. É evidente que só pela educação se conseguirá a regeneração, e o progresso, e a modernização, e a industrialização, e o desenvolvimento do país. Evidentemente.” Informa que o seu trabalho termina em 1974, mas reafirma a ideia que poderia continuar, porque “ (…)Quando se trata de educação, nenhum político tem dúvidas, nenhum comentador se engana, nenhum português hesita. Palavras gastas. Inúteis. Banalidades. Mentiras. O que é evidente, mente. Evidentemente.”.
Na entrada “Evidentemente”, que dá título ao livro, António Nóvoa vai mais longe e impiedosamente zurze a eito em ideias feitas, em certezas adquiridas, nas incongruências daqueles com mais ou menos responsabilidades, são os causadores de um equívoco, o de que a educação trará uma Revolução . Vejamos : “ Tudo são evidências nos textos e nos debates, nas políticas e nas reformas educativas. Ninguém tem dúvidas. Todos têm certezas. Definitivas. Evidências do senso comum. Falsas evidências. Continuamente desmentidas. Continuamente repetidas.
Crenças. Doutrinas. Visões. Dogmas. Tudo misturado numa amálgama de ilusões. É evidente que só pela educação se conseguirá a regeneração, e o progresso, e a modernização, e a industrialização, e o desenvolvimento do país. Evidentemente.” Informa que o seu trabalho termina em 1974, mas reafirma a ideia que poderia continuar, porque “ (…)Quando se trata de educação, nenhum político tem dúvidas, nenhum comentador se engana, nenhum português hesita. Palavras gastas. Inúteis. Banalidades. Mentiras. O que é evidente, mente. Evidentemente.”.
Poder-se-ia continuar, mas saltando para um 4º andamento e final do livro, sobre o atraso educacional, na transição do século XX para o Século XXI, coloca uma jóia fabulosa no cima do coroa, ao escrever certeiro e directo desta forma “(…) O século XX acaba como começou, com um forte sentimento de "atraso" em relação à Europa. Estudos, diagnósticos e manifestos indignam-se com o estado da escola e reclamam medidas urgentes. É preciso pôr ordem na escola. É preciso pôr a escola na ordem. Anuncia-se uma nova "batalha da educação':Como há um século, pela voz de José Simões Dias, não faltam razões para "supor que pior que o dia de hoje e o de ontem, será o de amanhã':
Que indicadores provocam tamanha agitação? São inúmeros os dados que, diariamente, nos inquietam. Para uns, o mais grave são as situações de indisciplina e de violência, a falta de um mínimo de padrões morais e de regras de comportamento. Para outros, o drama é a ignorância dos alunos, a sua péssima cultura geral, a fraquíssima formação escolar em áreas vitais como a língua portuguesa ou a matemática. Para alguns, é incompreensível a pobreza dos programas em domínios essenciais para a sociedade do conhecimento, como as novas tecnologias ou a aprendizagem de línguas estrangeiras. Para outros ainda, a nossa escola não fomenta a criatividade, o espírito de iniciativa e o empreendedorismo tão necessários nesta era da globalização.
A lista poderia continuar, pela ausência de educação científica ou de cultura histórica, pela escassez da formação profissional ou da aprendizagem ao longo da vida...Todavia, é possível identificar dois conjuntos de indicadores que surgem sempre para ilustrar o nosso atraso educacional. O primeiro conjunto, mais estrutural e quantitativo, diz respeito às estatísticas da União Europeia: qualificações escolares da população, níveis de insucesso e de abandono escolar, etc. O segundo conjunto, mais pedagógico e qualitativo, remete para os estudos internacionais, conduzidos primeiro pelo IEA e depois pela OCDE, que assinalam os maus resultados dos alunos portugueses em disciplinas como a língua materna, as ciências ou a matemática.
No final do século XX, o país parece tão confuso, e perturbado, como no final do século XIX. A sociedade portuguesa está ciente do caminho percorrido nos últimos trinta anos, mas os indicadores explicam que é cada vez maior a distância que nos separa dos restantes países europeus."A realidade impõe-se ao sonho, ao ideal, mas não passa ao querer”, avisava Agostinho de Campos, em 1933. E, contrariamente ao que aconteceu nos anteriores "andamentos do atraso educacional"– com a Regeneração (há 150 anos), com a República (há 100 anos), com a industrialização (há 50 anos) – não se vislumbra nenhuma ideia que nos possa mobilizar (ou, pelo menos,"distrair").
A não ser que se invente um impulso elãn reformador. Mas sobre isso, já Agostinho de Campos escreveu palavras definitivas: "De quando em quando, ouve-se dizer por aí, muito a sério e em tom de profundo convencimento: Precisamos de uma reforma geral do ensino... Melhor seria dizer, logo de uma vez: Faz-nos falta um milagre de Nossa Senhora de Fátima”.
É que o milagre demora e se calhar por falta de pilhas , continuará a demorar!
Que indicadores provocam tamanha agitação? São inúmeros os dados que, diariamente, nos inquietam. Para uns, o mais grave são as situações de indisciplina e de violência, a falta de um mínimo de padrões morais e de regras de comportamento. Para outros, o drama é a ignorância dos alunos, a sua péssima cultura geral, a fraquíssima formação escolar em áreas vitais como a língua portuguesa ou a matemática. Para alguns, é incompreensível a pobreza dos programas em domínios essenciais para a sociedade do conhecimento, como as novas tecnologias ou a aprendizagem de línguas estrangeiras. Para outros ainda, a nossa escola não fomenta a criatividade, o espírito de iniciativa e o empreendedorismo tão necessários nesta era da globalização.
A lista poderia continuar, pela ausência de educação científica ou de cultura histórica, pela escassez da formação profissional ou da aprendizagem ao longo da vida...Todavia, é possível identificar dois conjuntos de indicadores que surgem sempre para ilustrar o nosso atraso educacional. O primeiro conjunto, mais estrutural e quantitativo, diz respeito às estatísticas da União Europeia: qualificações escolares da população, níveis de insucesso e de abandono escolar, etc. O segundo conjunto, mais pedagógico e qualitativo, remete para os estudos internacionais, conduzidos primeiro pelo IEA e depois pela OCDE, que assinalam os maus resultados dos alunos portugueses em disciplinas como a língua materna, as ciências ou a matemática.
No final do século XX, o país parece tão confuso, e perturbado, como no final do século XIX. A sociedade portuguesa está ciente do caminho percorrido nos últimos trinta anos, mas os indicadores explicam que é cada vez maior a distância que nos separa dos restantes países europeus."A realidade impõe-se ao sonho, ao ideal, mas não passa ao querer”, avisava Agostinho de Campos, em 1933. E, contrariamente ao que aconteceu nos anteriores "andamentos do atraso educacional"– com a Regeneração (há 150 anos), com a República (há 100 anos), com a industrialização (há 50 anos) – não se vislumbra nenhuma ideia que nos possa mobilizar (ou, pelo menos,"distrair").
A não ser que se invente um impulso elãn reformador. Mas sobre isso, já Agostinho de Campos escreveu palavras definitivas: "De quando em quando, ouve-se dizer por aí, muito a sério e em tom de profundo convencimento: Precisamos de uma reforma geral do ensino... Melhor seria dizer, logo de uma vez: Faz-nos falta um milagre de Nossa Senhora de Fátima”.
É que o milagre demora e se calhar por falta de pilhas , continuará a demorar!
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