Se o meu “post”anterior, brincava (?) com coisas sérias, nunca será demais lembrar que depois de muitos anos na profissão, fiquei sempre com a sensação que muitos colegas são claramente renitentes à mudança, principalmente em relação a determinadas inovações pedagógicas e sobretudo às novas tecnologias.
É muito complicado tentar branda e inteligentemente explicar, eu diria mesmo, dialogar com colegas sobre determinados aspectos positivos da inovação, da utilização de determinados meios tecnológicos em contexto de sala de aula, pelo arreigar a tradições, a esquemas mentais pré-determinados, a rotinas arreigadas e institucionalizadas! Bem me vou esfalfando, tentando mostrar a importância pedagógica numa aula de Inglês, ou de estudo Acompanhado da instalação de uma mini - aplicação do novo Windows o “SAY-IT”, que fala o que escrevemos em Inglês (e, não sendo professor de Inglês, falo do que sei, porque o apliquei numa aula de Estudo Acompanhado, na correcção de uma ficha entregue por uma colega), ou mesmo falando na importância dos Podcast numa aula de Português, ou mesmo da utilização de um simples Creative ou IPod, como instrumento didáctico de uma funcionalidade maravilhosa, mas…para quê? Para quem? Como costumo dizer a brincar aos meus colegas de Departamento, havemos de estar na realidade 3D, poder entrar na Acrópole, ou num Fórum Romano, e colegas ainda a usar diapositivos! E quem me estiver a ler e se sentir incomodado, lamento sinceramente!
Claro que os meios tecnológicos não são um fim em si, na didáctica, na aprendizagem, mas só quem “acredita nos ontem que já cantaram” é que pode dispensar as diversas ferramentas ao dispor de um docente e não entender que elas são um meio fundamental na motivação e aprendizagem dos alunos em geral, num mundo cada vez mais tecnológico. Os que já não estão a gostar da leitura, tenham calma, porque, ainda leio poesia lírica de Camões aos meus miúdos e eles gostam, “lidinha” de um livrinho da Europa América, e tenho aqui à minha frente as traduções que fizeram, para ganhar um prémio simbólico em Estudo Acompanhado, da música dos REM “Everybody Hurts”, depois de lhes ter passado o vídeo dos dito cujo! Confesso não ser Professor de Português e Inglês, mas desculpem a minha maluqueira!
Mas grave, na minha opinião, caros colegas que me lêem, é sistematicamente protestarmos contra tudo, queixarmo-nos como pedintes, que não fazemos porque não temos meios, e quando os temos, queixamo-nos porque os temos, ou numa salto mortal com pirueta, encarpado e tudo, recusarmos usá-los, ou por não queremos aprender, ou acharmos que são as tutelas que nos têm que dar a “papinha”, tudo! Tanta arrogância, quando se trata de aprender algo de novo! Que raiva me dá saber que foram gastos milhões em acções de formação em Word, Power Point, Excel, que colegas ganharam bom dinheiro como formadores, quando com simples livros do estilo “Para Tótòs”, à venda em Hipermercados e livrarias, a 5 , 10 Euros, qualquer Professor poderia aprender os rudimentos e mais do que os mesmos, dos aplicativos do Office! Aliás, para quando um balanço como deve ser, do Sistema do Formação que agora se finou?
Mas vou-me perdendo em cogitações e o essencial era uma reflexão pela positiva, séria, sobre o que escrevi no post anterior, relativamente à prática, ao ensino que deveria ser cada vez mais experimental no ensino secundário, em particular e no Básico em Geral. E talvez a melhor reflexão seja “pegar” nas palavras de uma colega nossa, Paula Canha, Professora de Biologia e Geologia na Escola Secundária Dr. Manuel Candeias Gonçalves, em Odemira, que ganhou um dos prémios docentes de 2007 – O Prémio Mérito Inovação ( Ah! E como gostei de ver a inveja, o despeito de muitos docentes que a coberto do anonimato, no site do Público e em blogues tentaram achincalhar os colegas vencedores, como eles tivessem culpa de o serem, confundindo de uma forma miserável a essência de um Prémio, com os premiados).
Se calhar, quase todos leram o que muitos chamam o “boletim de propaganda” do ME, O Boletim dos Professores, aí vem um artigo sobre os premiados e, sobre a actividade de Paula Canha. Repito as palavras:
“Na Escola Secundária Dr. Manuel Candeias Gonçalves já é relativamente banal ver alunos de bata branca, nos laboratórios e noutros espaços da escola, fora dos horários lectivos. A professora usa galochas para acompanhar os jovens nos trabalhos de campo, e muitos dos fins-de-semana são passados na escola ou em acampamentos a trabalhar em projectos e actividades de investigação. Já chegou a fazer da sala de aula camarata, após longos períodos de trabalho com os estudantes, fora dos horários lectivos.
Questionada sobre qual o maior desafio que enfrentou enquanto professora, Paula Canha revela que é “entrar todos os dias numa sala de aula com o mesmo entusiasmo e dedicação, como se fosse a primeira vez”, até porque “os alunos percebem quando assim não é e reflectem a nossa atitude”.
O Presidente do Conselho Executivo, disse no processo de candidatura da docente, cito : ” “Ela é a principal obreira da nova escola que queremos e de que necessitamos: a escola que se frequenta activamente e por prazer; a escola onde se está fora de horas lectivas; a escola onde o aprender não é decorar textos; a escola onde se produz saber; a escola onde se descobre; a escola onde se inova…”.
Dizer o quê ? Estilo conversa de café, uns dirão: “É, mas é parva!” , outros , “não me pagam para isso” , outros ainda “ Flores, dar nas vistas, correr para o currículo “, e por aí fora ! Eu, confesso não sou como ela, mas gostava de ser, de a ter como colega, porque são colegas assim que nos conseguem insuflar muitas vezes ânimos, energias, que por vezes nos vão faltando e que na acção concreta vão dando bofetadas de luva branca em quem desprestigia a classe, sejam tutelas, pais, ou colegas! Tenho orgulho de ler o que li sobre esta colega, ou sobre o Arsélio, ou sobre a Teresa, ou a Armandina, que não conheço, ou sequer vi mais gordos ou magros! Alegria enorme de me sentir camarada de ideias, de projectos, de sonhos de gente desta.
Já gora, tenho pena que a minha filhota M, não esteja em Odemira e não tenha a Paula como docente, pronto!
Para terminar, um agradecimento ao actual Prof de Biologia de M, que neste ano não só já esteve em Visitas de Estudo, como conseguiu outra proeza incrível: conseguiu levar os alunos a visitar o lindíssimo museu de História Natural …da própria escola! Mesmo com o tecto em mau estado e tudo! Um ano e tal depois, uma aluna de Biologia de uma escola, consegue conhecer um espaço ligado à disciplina de Biologia do próprio estabelecimento de ensino! Mirabolante? Talvez não! Misérias e desajustes de organizações, a que alguns docentes inteligente e culturalmente conseguem fazer frente. Bem hajam, e os alunos agradecem!
5 comentários:
Só para dizer que subscrevo.
Não estará na altura de voltarmos a recordar os nossos quadros de honrra e de mérito? Afinal...
RMCM
Encontrei este espaço por mero acaso. E ainda bem, porque encontrei alguém que pensa como eu! Afinal, nem todas as escolas têm gente tacanha, cujas mentes cheiram a naftalina. Bem haja por me ter dado um novo ânimo para continuar a remar contra a maré.
g
Não estou tão céptico em relação à integração curricular das TIC em contexto curricular no panorama nacional. De facto, surgem por todo o lado muitos e bons exemplos do uso de ferramentas digitais, numa tentativa de substituir os modelos de aprendizagem assentes quase unicamente na transmissão do saber. Parece-me inquestionável que há hoje muitos exemplos que tentam desenvolver estratégias e paradigmas de aprendizagem centradas no aluno. Sabemos, que do ponto de vista pedagógico o recurso aos sistemas multiambientes e computacionais só trarão benefícios quando integrados numa adequada planificação de conteúdos e actividades.
Creio que a discussão deste tema, por si só, é já relevante da preocupação e do empenho que se verifica em muitas das escolas dos nosso país.
Estou certo que este e outros espaços são um contributo importante na adopção novas dinâmicas.
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